Puxado pelo desempenho ruim do varejo, o Índice de Vendas do Comércio (IVC) apresentou queda, em julho, pela segunda vez consecutiva. Dessa vez, o dado divulgado pela Fecomércio-RS em convênio com a Fundação de Economia e Estatística (FEE) e com a Secretaria da Fazenda, teve diminuição real de 0,7%. Em junho, o índice já havia caído 3,4%. Mesmo assim, nos acumulados ainda são registrados números positivos, de 1,1% no total do ano e de 2,2% no total dos últimos 12 meses.
As diminuições nas vendas são responsabilidade, principalmente, da participação das vendas do varejo na composição do índice, que também engloba o atacado. Em julho, o varejo teve queda de 4,3% em relação ao mesmo período de 2013, diminuição um pouco menor do que o registrado no mês anterior, quando sofreu redução de 6,14%.
“Esta segunda queda de magnitude significativa em parte ainda reflete algum efeito da Copa, com alguns dias de lojas fechadas, mas pode ser justificada também pela situação da economia como um todo”, afirma a economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo. Para ela, a queda das vendas é repercussão de questões como a diminuição da confiança, o aumento da inflação, e os juros mais altos.
Dessa forma, o acumulado positivo no ano é atribuído ao desempenho do atacado, que, sozinho, registrou um aumento de 3% em julho em relação a 2013, e totaliza um crescimento de 2,8% no ano até aqui. Os resultados são uma reversão do quadro de 2013, quando, por quase todo o ano, o índice atacadista registrava sucessivas baixas, atingindo o seu primeiro acumulado positivo apenas em setembro. “Em 2014 continua a crescer, mas muito pelo efeito de que a base de comparação é muito baixa, e isso propicia que as taxas de variação sejam mais elevadas”, comenta Patrícia.
A tendência para os próximos meses é de continuidade dos resultados negativos, já que não há, segundo a economista, nenhuma alteração relevante prevista. As eleições nacionais, de resultado ainda imprevisível, também contribuem para o quadro. “Diante da incerteza, todo mundo para. O consumidor para de comprar e o empresário para de investir”, justifica Patrícia.
Nas mesorregiões do Estado, a Nordeste e a Sudeste foram as que registraram os piores índices, com quedas de 5,1% e 4,4%, respectivamente. No caso da Nordeste, especificadamente, que compreende a Serra gaúcha, os dados seriam reflexo da desaceleração também das indústrias, grande parte da economia da região. Os principais aumentos do IVC foram sentidos nas regiões centrais, com a Centro Oriental e a Centro Ocidental subindo, respectivamente, 2,1% e 1,8% em julho.
Intenção de consumo melhor em setembro é pontual, avisa a CNC
A terceira melhora consecutiva na Intenção do Consumo das Famílias (ICF) apurada em setembro é pontual e não revela uma tendência, apenas uma tímida recuperação. O índice medido pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) registrou seguidas quedas no início do ano e, em junho, atingiu o pior nível da série histórica iniciada em janeiro de 2010.
“O patamar ainda é muito baixo em relação ao ano passado e não há perspectiva de um indicador que vá trazer a confiança a um nível maior até o fim do ano”, diz Juliana Serapio, assessora econômica da CNC. O ICF teve alta de 0,9% em setembro ante agosto, mas continua 3,4% abaixo do observado em setembro de 2013.
O elevado custo do crédito e o alto nível de endividamento são os fatores que vêm pesando mais no desaquecimento da intenção de compras a prazo. Juliana destaca que, apesar da estabilidade da taxa básica de juros, a Selic, em 11% ao ano desde abril, os juros à pessoa física continuam em alta. Segundo o Banco Central, a taxa média de juros de operações de crédito para a pessoa física vem subindo desde junho do ano passado (34,8%). Em julho de 2014, o indicador chegou a 43% ao ano.
O reflexo desse quadro é que o componente de Acesso ao Crédito medido na pesquisa de ICF vem atingindo sua mínima a cada mês. Em setembro, registrou queda de 0,6% na variação mensal, a menor da série histórica, e queda de 5,1% ante o mesmo período do ano passado.
Para a economista, a piora do Indicador Coincidente de Desemprego (ICD), da Fundação Getulio Vargas (FGV), que capta a percepção do consumidor a respeito da situação presente do mercado de trabalho, sinaliza que a perspectiva para a criação de vagas não é positiva. Isso reforça a ideia de que a melhora da Intenção de Consumo das Famílias (ICF) é mais um efeito estatístico do que uma tendência firme.
A desaceleração dos preços de alimentos e bebidas nos últimos três meses ajudou a leve recuperação da confiança. “A inflação dos alimentos está tendo algum alívio, o que ajuda o orçamento das famílias a respirar, mas ainda segue muito alta. Não vejo, até o fim do ano, um fator que vá motivar esse consumidor a comprar mais”, disse Juliana. A CNC reduziu sua previsão para o crescimento das vendas do varejo de 4% para 3,7% com base na última divulgação da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC)
pelo IBGE.
Alta do dólar pode afetar desempenho no Duty Free
O presidente da Dufry Brasil, Humberto Mota, afirmou que uma valorização do dólar ante o real pode interferir negativamente no desempenho do setor e nas vendas da companhia no Brasil. “Este ano, o varejo está vendendo menos, mas neste trimestre, no Duty Free, vimos uma recuperação. Em 2015, o setor será muito afetado pela variação do dólar se houver uma alta ante o real porque as pessoas acabam viajando menos”, declarou.
Entretanto, ele explicou que, se houver um ponto de equilíbrio no câmbio, 2015 pode ser um período forte para o setor e para a empresa. “Colheremos os frutos da Copa do Mundo, onde o País ficou na mídia um bom tempo e atraiu a atenção de novos turistas. Em 2016, também podemos ter um ambiente favorável por conta da realização das Olimpíadas”, destacou.
Mota ressaltou que o plano da companhia é cada vez mais investir no País em razão do movimento de privatização dos aeroportos. “E de confiança no futuro do Brasil também”, disse. Para Minas Gerais, o executivo pretende ampliar o espaço da sua loja no aeroporto de Confins. “Hoje, são cerca de 300 metros quadrados. O ideal seria entre 800 e 1.000 metros quadrados para ter uma Duty Free à altura de Belo Horizonte. Acabamos de renovar o contrato com a nova gestão do aeroporto e estamos confiantes para essa ampliação”, informou, dizendo ainda que pretende levar para a nova loja o mesmo padrão dos estabelecimentos de São Paulo e Brasília.