Felipe Ribeiro
Há algo que vem ganhando destaque nos bastidores das grandes organizações: a alta rotatividade de CEOs. Por incrível que pareça, esse movimento não é apenas um indicador de instabilidade, mas um sintoma das profundas transformações que o mercado corporativo enfrenta. Segundo um relatório da Challenger, Gray & Christmas, Inc., em 2024, 1.991 CEOs deixaram seus cargos nos Estados Unidos - o maior número registrado desde 2002.
Os motivos por trás dessas substituições são variados e, muitas vezes, inesperados. Por exemplo, 551 CEOs renunciaram voluntariamente, enquanto outros 496 casos não tiveram razões declaradas. A aposentadoria também aparece como uma causa significativa, com 445 saídas no ano. Mas algo que realmente chama a atenção é o aumento no uso de lideranças interinas: 13% de todas as substituições em 2024 foram interinas, um salto considerável em comparação aos 7% do ano anterior. Isso reflete o quanto as empresas estão experimentando alternativas antes de se comprometerem com uma escolha definitiva.
Em termos de impactos para a cultura e estratégia organizacional, na prática, a alta rotatividade de CEOs traz desafios significativos. Internamente, ela pode sinalizar desalinhamento entre o CEO e o conselho ou até mesmo dificuldades em implementar mudanças culturais. Externamente, as pressões por resultados rápidos e a necessidade de liderar em um contexto de transformação digital e ESG estão entre as maiores dificuldades. Não é à toa que o setor público e instituições sem fins lucrativos lideraram as transições em 2024, com 438 e 208 saídas, respectivamente. Esses números, de certa forma, nos levam a refletir sobre como as companhias estão equilibrando a necessidade de adaptação com a busca por estabilidade.
O que não podemos ignorar é o impacto dessas mudanças. Cada troca de liderança representa mais do que uma mudança no organograma - é uma pausa na estratégia, uma quebra no ritmo de inovação e, muitas vezes, uma fonte de incerteza para investidores e colaboradores. Empresas que não conseguem manter uma liderança consistente pagam um preço alto: desengajamento, perda de confiança e um retrocesso em relação aos seus concorrentes.
Sócio da Evermonte Executive Search