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Publicada em 16 de Abril de 2025 às 17:49

Governo gaúcho quer que Rumo recupere trecho férreo no Vale do Taquari

Cenário do modal ferroviário gaúcho foi discutido na reunião Tá na Mesa

Cenário do modal ferroviário gaúcho foi discutido na reunião Tá na Mesa

Jefferson Klein/Especial/JC
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Jefferson Klein
Jefferson Klein Repórter
Uma importante atração turística do Vale do Taquari, o Trem dos Vales, que faz um passeio de 46 quilômetros por aquela região, teve a temporada interrompida em 2024 por causa das enchentes e não há previsão de retorno das atividades. O vice-governador do Rio Grande do Sul, Gabriel Souza, defende como solução que o governo federal faça um acordo com a concessionária da malha ferroviária gaúcha, a empresa Rumo, para que a companhia recupere 23 quilômetros de trilhos avariados com as cheias e depois autorize o trecho a ser operado novamente.
Uma importante atração turística do Vale do Taquari, o Trem dos Vales, que faz um passeio de 46 quilômetros por aquela região, teve a temporada interrompida em 2024 por causa das enchentes e não há previsão de retorno das atividades. O vice-governador do Rio Grande do Sul, Gabriel Souza, defende como solução que o governo federal faça um acordo com a concessionária da malha ferroviária gaúcha, a empresa Rumo, para que a companhia recupere 23 quilômetros de trilhos avariados com as cheias e depois autorize o trecho a ser operado novamente.
O trajeto abrange municípios como Guaporé, Dois Lageados, Vespasiano Corrêa e Muçum. Souza comenta que a Rumo avaliou em cerca de R$ 300 milhões o investimento necessário para recuperar a estrutura danificada. Ele sugere que a União e a concessionária façam um “acerto de contas” para viabilizar o empreendimento, que não pode esperar o fim da concessão da Rumo (previsto para 2027) para ter uma definição.
Souza foi um dos palestrantes da reunião-almoço Tá na Mesa da Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul) realizada nesta quarta-feira (16). Sobre a concessão da malha férrea gaúcha, o vice-governador afirma que é contra uma eventual prorrogação de contrato com a atual gestora. “A Rumo é desrespeitosa com o Estado do Rio Grande do Sul e não faz um centavo de investimento há muitos anos aqui”, critica Souza.
Ele lembra que foram 759 quilômetros de ferrovias atingidos pelo desastre climático do ano passado no Estado. O vice-governador ressalta que o Rio Grande do Sul tinha em torno de 1,6 mil quilômetros de trilhos em condições de uso, antes das enchentes, e hoje se encontra com cerca de 900 quilômetros. “E não temos mais ligação (férrea) com o resto do País”, salienta. Souza frisa que se alguma empresa quiser trazer ou levar cargas para Santa Catarina através de trens, seria impossível.
Ele alerta que a modelagem da nova licitação da malha férrea Sul tem que ser decidida neste ano pela União, para começar a preparar os editais em 2026 e se ter uma solução em 2027. O vice-governador comenta que uma hipótese já levantada e que teria sido apresentada informalmente pela própria Rumo seria o fatiamento da malha Sul em múltiplos trechos, que seriam licitados individualmente. No caso do Rio Grande do Sul, seriam três segmentos principais: Cruz Alta a Rio Grande, Uruguaiana - Passo Fundo - Norte paranaense e por fim o restante da malha.
Um Grupo de Trabalho criado pelo ministro dos Transportes, Renan Filho, tem até o final de junho para entregar uma proposta de futuro para a malha Sul. Souza detalha que o governo gaúcho levantou três sugestões, dentro da modelagem de uma concessão, para a construção de novos trechos ferroviários no Rio Grande do Sul para melhorar a eficiência da ferrovia atual.
Essas propostas seriam um trecho de 339 quilômetros, entre Santa Maria e Capão do Leão, que iria requerer um investimento de R$ 4,3 bilhões, ou 213 quilômetros de Santa Maria a Bagé, aporte de R$ 3,1 bilhões, ou 112 quilômetros entre Santa Maria e São Gabriel, com custo estimado em R$ 1,4 bilhão. Está em aberto se algum desses novos trechos seria viabilizado por aportes públicos ou uma solução híbrida, com participação da iniciativa privada.

Situação afeta competitividade do Rio Grande do Sul

A competitividade do Estado, em longo prazo, está vinculada ao modal ferroviário para fazer o escoamento da sua produção, adverte o presidente da Frente Parlamentar das Ferrovias, deputado estadual Felipe Camozzato (Novo). Ele ressalta que o custo logístico do Brasil é de cerca de 12% do seu PIB e o Rio Grande do Sul, antes das enchentes, já se encontrava em um patamar de 21,5%.
O parlamentar destaca que esse percentual aumentou após as cheias com a queda de pontes e estradas bloqueadas. Segundo o deputado, o contrato de concessão com a Rumo é "péssimo". Camozzato considera ser difícil conseguir uma requalificação da malha ferroviária gaúcha sem investimento público. "Embora eu, particularmente, não seja fã dessa alternativa", admite.
Uma das empresas impactadas com o cenário precário das ferrovias é a Braskem, que sem perspectiva de solução no curto prazo, decidiu retomar por via rodoviária o transporte do etanol de cana-de-açúcar, matéria-prima do eteno e polietileno verdes produzidos na unidade da companhia no Polo Petroquímico de Triunfo. A empresa passou a usar caminhões para garantir o abastecimento do etanol e a continuidade da operação da planta, acarretando em 1 mil viagens mensais.
O presidente da Federasul, Rodrigo Sousa Costa, é outro que considera que está havendo um desrespeito da Rumo com o Rio Grande do Sul, pelo jeito que a concessionária vem tratando o modal ferroviário no Estado. "Para nós que defendemos concessões e privatizações como uma forma de melhoria para a sociedade, é especialmente doloroso ver uma concessão não atender ao interesse público e aos usuários", lamenta o dirigente.
O representante da Federasul acrescenta que é contrário a uma eventual prorrogação da concessão da Rumo. Procurada pela reportagem do Jornal do Comércio (JC), a assessoria de imprensa da Rumo informou que “dada a complexidade e abrangência da situação, a empresa segue em diálogo com o governo federal (poder concedente) e demais autoridades competentes do setor para avaliação conjunta do cenário”.

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Comentários

1 comentários
AG
Antonio Augusto Goulart - há 21 dias
Aí está o maior exemplo de que a iniciativa privada não resolve problemas de infraestrutura. Iniciativa privada só quer filé!