O número de casos de dengue segue em alta em Porto Alegre e levou o município a decretar, desde o início de abril, estágio operacional de emergência, conforme prevê o plano de contingência da Secretaria Municipal de Saúde. Segundo a atualização mais recente da Diretoria de Vigilância em Saúde (DVS), com dados compilados até esta quarta-feira (16), a Capital registra 17.265 notificações da doença e 4.207 casos confirmados. Dois óbitos também foram contabilizados.
De acordo com Letícia Campos Araújo, técnica responsável pela vigilância da dengue em Porto Alegre, os bairros com maior concentração de casos estão na Zona Norte, principalmente Jardim Itu e Passo das Pedras. "Nesta semana também houve aumento na Vila Ipiranga, e o Parque Santa Fé continua como área crítica", complementa.
A Zona Leste, embora com menor incidência, é outra região que acende o sinal de alerta: Partenon e Lomba do Pinheiro apresentam crescimento expressivo de notificações nas últimas semanas.
No acumulado de 2025, o distrito sanitário com maior número de infecções é o Eixo Baltazar, que abrange bairros como Costa e Silva, Jardim Itu, Jardim Leopoldina, Parque Santa Fé, Passo das Pedras e Rubem Berta — juntos, somam 1.250 casos confirmados. Na sequência, aparecem áreas com notificações ainda não especificadas (903), seguidas pelos distritos Noroeste (397), Leste (353) e Norte (249).
"O vetor está se proliferando dentro das residências. Muitas vezes, uma simples tampinha de garrafa com água parada já é suficiente para o mosquito se reproduzir. Apesar de alguns bairros ainda não apresentarem registros, o número de localidades com ao menos um caso é alto", alerta Letícia.
A prefeitura afirma que intensificou, desde fevereiro, as ações nos territórios mais afetados, com mutirões de visitas domiciliares e orientações diretas à população. Ainda assim, a tendência é de crescimento nos casos. "A gente acredita que ainda não chegamos ao pico. Com o clima instável, alternando entre calor, frio e chuvas frequentes, o cenário favorece a proliferação do mosquito", explica a técnica da DVS.
O prognóstico preocupa, especialmente porque postos de saúde nas regiões mais atingidas estão sobrecarregados. A Unidade de Saúde Passo das Pedras I, na Zona Norte, lidera o número de notificações, com 1.814 registros, seguida pela US Beco dos Coqueiros, com 450.
Em relação ao ano anterior, o cenário de 2025 também chama atenção pela presença do sorotipo DENV-3 e consequente aumento da letalidade, o que reforça a gravidade do atual surto.
Combate ao mosquito Aedes aegypti precisa ser tarefa coletiva
O combate à dengue depende de duas frentes principais: o controle dos criadouros do mosquito e a proteção individual. É o que explica Arnildo Dutra de Miranda Junior, presidente da Associação Gaúcha de Medicina de Família e Comunidade (AGMFC).
"O Aedes aegypti precisa de água limpa e parada para se reproduzir. Então, qualquer espaço onde isso ocorra, como vasos de plantas, pneus, caixas d'água mal vedadas, garrafas ou calhas, pode se transformar em criadouro", afirma. Ele ressalta que o problema se agrava em terrenos baldios e locais com acúmulo de lixo, onde a fiscalização é mais difícil e o cuidado depende da ação da comunidade.
Além da limpeza dos ambientes, a proteção pessoal é importante. "Usar roupas compridas, repelente, instalar telas nas janelas e manter portas fechadas são medidas eficazes, especialmente para quem vive em áreas com alta circulação do mosquito", explica. Miranda reforça ainda que, se a pessoa estiver com dengue ou mesmo com suspeita, o uso de repelente se torna ainda mais essencial: "É uma forma de impedir que o mosquito pique uma pessoa infectada e transmita o vírus a outros."
Reconhecer os sintomas da dengue é outro desafio. "É uma doença que pode parecer com muitas outras. Febre, dor de cabeça, dor atrás dos olhos, dores musculares e nas articulações, náuseas e vômitos são os principais sinais. Por isso, o diagnóstico clínico nem sempre é fácil." Em casos suspeitos, o ideal é buscar uma unidade de saúde.
O tratamento, segundo o médico, é baseado principalmente em repouso e hidratação intensa. "A dengue causa desidratação e esse é o principal risco. O paciente precisa dobrar a ingestão de líquidos em relação ao normal", alerta. Em uma pessoa de 70 quilos, por exemplo, o ideal são pelo menos 4,2 litros de água por dia durante o tratamento. Medicamentos analgésicos podem ser usados para aliviar dores, mas anti-inflamatórios devem ser evitados, pois aumentam o risco de sangramentos.
E quais os sinais de alerta? "Dor abdominal intensa, sangramentos espontâneos, como nas gengivas, na urina ou nas fezes, manchas vermelhas pelo corpo e a impossibilidade de manter-se hidratado por causa de náuseas e vômitos são sinais de que o quadro pode estar se agravando. Nessas situações, é fundamental procurar atendimento médico imediatamente", orienta Miranda.
Como se prevenir
Elimine criadouros
- Esvazie e lave com escova potes, vasos e recipientes que acumulam água
- Mantenha caixas d'água bem vedadas
- Guarde garrafas e pneus em locais cobertos
- Limpe calhas e ralos com frequência
- Evite água parada em bandejas de ar-condicionado e geladeiras
Proteção individual
- Use repelentes nas áreas expostas do corpo
- Prefira roupas compridas, especialmente em regiões com muitos mosquitos
- Instale telas em janelas e portas
- Use mosquiteiros ao dormir