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Publicada em 16 de Abril de 2025 às 18:04

Ocidente, como conhecíamos, não existe mais, diz chefe da UE

A chefe da UE evitou, no entanto, especular sobre as ameaças americanas à aliança militar, que variam em gravidade

A chefe da UE evitou, no entanto, especular sobre as ameaças americanas à aliança militar, que variam em gravidade

PATRICK HERTZOG/AFP/JC
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Agências
"A Europa ainda é um projeto de paz. Não temos bros ou oligarcas ditando as regras. Não invadimos nossos vizinhos e não os punimos. Pelo contrário, há doze países na lista de espera para se tornarem membros da União Europeia." Em entrevista ao jornal alemão Die Zeit nesta semana, Ursula von der Leyen vendeu a Europa como uma espécie de último bastião do mundo livre depois que Donald Trump radicalizou a política e a economia dos EUA.
"A Europa ainda é um projeto de paz. Não temos bros ou oligarcas ditando as regras. Não invadimos nossos vizinhos e não os punimos. Pelo contrário, há doze países na lista de espera para se tornarem membros da União Europeia." Em entrevista ao jornal alemão Die Zeit nesta semana, Ursula von der Leyen vendeu a Europa como uma espécie de último bastião do mundo livre depois que Donald Trump radicalizou a política e a economia dos EUA.
O antes chamado ocidente virou passagem para os livros de história, afirmou a presidente da União Europeia. "Ocidente, como conhecíamos, não existe mais. O mundo se tornou um globo, também geopoliticamente, e hoje nossas redes de amizade se estendem por todo o planeta, como se vê no debate sobre tarifas", disse a médica alemã, 66, que virou política profissional e está em seu segundo mandato como chefe do Executivo europeu.
Von der Leyen empreende uma ofensiva da UE no debate público. Na semana passada, falou ao Financial Times, pouco depois de Trump recuar e adiar por 90 dias a sobretarifa de 20% sobre os produtos do bloco. Declarou que a intenção de Bruxelas era negociar, mas que usaria todo o seu arsenal se fosse obrigada.
A arma mais forte do bloco mira o setor de serviços americano, o único em que os EUA têm superávit. O instrumento anti-coerção daria poderes para UE, por exemplo, afastar bancos americanos deinvestimentos no continente e taxar empresas de tecnologia, como Amazon, Meta e Google, em atividades lucrativas como publicidade digital.
Nesta semana, o aceno é político. "Na Europa, as crianças podem frequentar boas escolas independentemente da riqueza de seus pais. Temos menos emissões de CO2 e maior expectativa de vida. Discussões polêmicas são permitidas em nossas universidades. Tudo isso e muito mais são valores que devem ser defendidos e que mostram que a Europa é mais do que uma união. A Europa é a nossa casa. E as pessoas sentem isso."
Indagada se a democracia americana estava em perigo, Von der Leyen preferiu listar a experiência europeia. Lembrou que parte da UE é formada por jovens democracias e que países como Portugal, Espanha e Grécia se livraram de ditaduras nos anos 1970. "Para nós, europeus, a consciência e a memória da opressão e da repressão ainda são muito recentes. Nossa consciência coletiva tem um senso muito mais forte de como a democracia é preciosa e de como temos de nos esforçar constantemente para protegê-la."
Ao comentar sobre o ambiente polarizado da política do continente, que de certa forma contradiz esse senso apurado de proteção do Estado de direito, a chefe da UE empurrou a conta para Vladimir Putin. "Há uma coisa que não devemos subestimar: a polarização é, em parte, fortemente orquestrada de fora. Por meio das mídias sociais, a Rússia e outros Estados autocráticos estão interferindo deliberadamente em nossa sociedade. Não se trata de uma questão de lados. As opiniões de ambos os lados estão sendo amplificadas porque o objetivo real é polarizar e dividir nossas sociedades abertas", declarou.
Von der Leyen afirmou não ver limites para "as ambições imperiais" de Putin, ainda que veja a invasão da Ucrânia como um projeto até aqui fracassado do presidente russo. "Seu objetivo era tomar Kiev em três dias e o país em três semanas. Ele falhou." Comentou ainda que a Otan, que Moscou queria enfraquecer, ganhou as adesões estratégicas de Suécia e Finlândia. A chefe da UE evitou, no entanto, especular sobre as ameaças americanas à aliança militar, que variam em gravidade, como boa parte do discurso de Trump.
"Sou uma atlantista convicta. Acredito firmemente que a amizade entre americanos e europeus permanece. Mas a nova realidade também inclui o fato de que muitos outros países estão tentando se aproximar de nós: 13% do comércio global é feito com os EUA, e isso é muito; 87% do comércio mundial é feito entre outros países. Todos querem previsibilidade e regras confiáveis. A Europa pode oferecer isso."

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