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Cinema
Hélio Nascimento

Hélio Nascimento

Publicada em 16 de Abril de 2025 às 18:44

As aventuras de uma francesa na Coreia, de Hong Sang-soo: Minimalista e profundo

As Aventuras de Uma Francesa na Coreia, do diretor Hong Sang-soo, traz Isabelle Huppert (esq) no papel principal

As Aventuras de Uma Francesa na Coreia, do diretor Hong Sang-soo, traz Isabelle Huppert (esq) no papel principal

PANDORA FILMES/DIVULGAÇÃO/JC
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Hélio Nascimento
Um dos tantos diretores famosos no universo cinematográfico e praticamente desconhecidos em nosso mercado exibidor é o sul-coreano Hong Sang-soo. Ele nasceu em 1960 e começou a dirigir filmes em 1996. Ele filma muito - já realizou 40 filmes - e sua obra mais recente, As aventuras de uma francesa na Coreia, está atualmente em cartaz em Porto alegre, o que não deixa de ser uma surpresa num mercado exibidor cada vez mais dominado por futilidades, salvo aqueles espaços voltados para obras que tem mantido vivo o cinema. Esta é a terceira vez que Sang-soo trabalha com a atriz francesa Isabelle Hupert. O cineasta, que também é musico, acumula também no filme as funções de fotógrafo e editor. Quando a ação termina, o espectador é surpreendido por créditos finais que destacam um reduzido número de nomes, o que de certa forma prova que os filmes do realizador, além de minimalistas, requerem um reduzido número de pessoas. Seus filmes, a se julgar pelo que está em exibição, são daqueles que procuram a essência do cinema. Tudo é realizado como se não existisse uma câmera filmando os acontecimentos. Dessa espécie de teatro do cotidiano, no qual a interpretação praticamente inexiste, segundo uma lição do George Cukor, que ensinava que tal recurso não é importante para o cinema, o realizador extrai informações fundamentais para que cada personagem revele sua verdadeira personalidade. É claro que ele deve muito a suas atrizes e seus atores que, abdicando de qualquer estrelismo, criam figuras vivas e no qual gestos, olhares, sem abandonar o recurso da palavra, exercem papel revelador. Alguns o aproximam de Eric Rohmer, mas o filme em exibição, que por sinal merecia um título mais apropriado no Brasil, radicaliza tal proposta, fazendo do espectador uma testemunha do que está acontecendo, como se a técnica de filmagem desaparecesse.
Um dos tantos diretores famosos no universo cinematográfico e praticamente desconhecidos em nosso mercado exibidor é o sul-coreano Hong Sang-soo. Ele nasceu em 1960 e começou a dirigir filmes em 1996. Ele filma muito - já realizou 40 filmes - e sua obra mais recente, As aventuras de uma francesa na Coreia, está atualmente em cartaz em Porto alegre, o que não deixa de ser uma surpresa num mercado exibidor cada vez mais dominado por futilidades, salvo aqueles espaços voltados para obras que tem mantido vivo o cinema. Esta é a terceira vez que Sang-soo trabalha com a atriz francesa Isabelle Hupert. O cineasta, que também é musico, acumula também no filme as funções de fotógrafo e editor. Quando a ação termina, o espectador é surpreendido por créditos finais que destacam um reduzido número de nomes, o que de certa forma prova que os filmes do realizador, além de minimalistas, requerem um reduzido número de pessoas. Seus filmes, a se julgar pelo que está em exibição, são daqueles que procuram a essência do cinema. Tudo é realizado como se não existisse uma câmera filmando os acontecimentos. Dessa espécie de teatro do cotidiano, no qual a interpretação praticamente inexiste, segundo uma lição do George Cukor, que ensinava que tal recurso não é importante para o cinema, o realizador extrai informações fundamentais para que cada personagem revele sua verdadeira personalidade. É claro que ele deve muito a suas atrizes e seus atores que, abdicando de qualquer estrelismo, criam figuras vivas e no qual gestos, olhares, sem abandonar o recurso da palavra, exercem papel revelador. Alguns o aproximam de Eric Rohmer, mas o filme em exibição, que por sinal merecia um título mais apropriado no Brasil, radicaliza tal proposta, fazendo do espectador uma testemunha do que está acontecendo, como se a técnica de filmagem desaparecesse.
A protagonista do filme não vive qualquer aventura. Ela, na verdade, ao pôr em prática um método original de ensinar francês, procura demonstrar que, em qualquer aprendizado, um caminho precioso é aquele no qual se evita distanciar o aluno de seu passado e vivências. As duas aulas que o espectador pode acompanhar revelam isso claramente. Na primeira, a figura paterna surge através de uma homenagem eternizada em um monumento. Mas, quando o plano filmado é outro, a aluna termina revelando uma falha que transforma o herói num simples mortal. A segunda aula, que começa quando a aluna erra na pronúncia do nome da protagonista - numa prova que levar qualquer nome para o inglês não é um defeito ou uma subserviência típica de muita gente por aqui - coloca em cena um casal interessado no método novo. São gestos simples e perguntas carregadas de alguma agressividade, que revelam certa crise. A personagem que esqueceu o francês anteriormente apreendido resume uma certa resistência. O cachorro que intimida a professora é outro dado a não passar despercebido. Quando a protagonista, como no episódio anterior, se afasta é como se uma mensageira, depois das revelações partisse carregando duas próprias carências, deixando completo mais um episódio de uma crise abafada por sorrisos e rituais ineficientes para um processo de cura.
A terceira parte desta trilogia sobre o cotidiano de seres humanos é a mais significativa de todo. Aqui, o controle materno, como em muitos filmes de Hitchcock, surge claramente naquele plano em que o rosto do filho não é mostrado e no qual a mãe contempla e vive sua vitória. A refeição é um regresso a um tempo ideal, aquele no qual a figura nutriente é também a rainha que merece reverências e elogios. É uma sequência primorosa, na qual o passado interfere no presente aumentando o sentimento de solidão da protagonista, praticamente expulsa do cenário onde era possível enfrentar o isolamento. As pedras voltam a dominar o cenário. Contudo, no encerramento do filme, a floresta volta a ser o caminho para o regresso a um mundo no qual reina a harmonia e vivem figuras livres de qualquer forma de tirania. Mas a obra não se conclui com um epílogo superficial. Segredos não são inteiramente revelados. Permanecem sugestões para o espectador tirar suas conclusões. E a música, presente nas três partes, é o símbolo de um sonho ainda não concretizado.
 

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