A dificuldade de abastecimento de milho e soja está causado graves impactos para o setor de proteína animal. Com custos de produção aumentando e perspectiva de falta de grãos no verão devido a problemas climáticos e baixos estoques, os produtores de frango, ovos e suínos já preveem problemas para a manutenção das atividades. Para o consumidor, o principal efeito será o aumento do preço das carnes.
Segundo a Organização Avícola do Estado do Rio Grande do Sul (OARS), as dificuldades que o setor enfrenta para conseguir milho, principal insumo para alimentação de aves e suínos, vem da baixa oferta do produto no mercado. Entre os principais fatores apontados para a escassez está a seca que afetou as lavouras durante o verão, que prejudicou drasticamente a safra de grãos no Rio Grande do Sul, com perda de cerca de 30% da produção, de acordo com a Emater.
Além disso, a alta demanda de grãos para exportação, influenciada também pelo câmbio em constante elevação, incentiva as vendas para o mercado externo, o que reduz a oferta nacional e pressiona os preços. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em 12 meses fechados em 21 de outubro, a saca de 60 quilos teve aumento de 73,4%, alcançando o valor de R$ 75,39.
“Tudo isso está impactando nosso custo de produção e nossas condições de nos mantermos competitivos no mercado”, afirma José Eduardo dos Santos, presidente executivo da OARS. “A venda de grãos no mercado interno está lenta, com o incentivo financeiro para exportar gerado pelo câmbio perto de R$ 5,70, e isso gera um clima de desabastecimento para os criadores de frangos e a indústria de rações”, explica.
Além disso, segundo Santos, as empresas e criadores que têm estoques já estão vendo os mesmos acabarem e não conseguem reposição. “Quem formou reservas já está com elas no limite. Nos próximos meses devemos ter uma situação crítica, especialmente para os pequenos produtores, que não tem estoques”, afirma o dirigente.
As cooperativas gaúchas também temem dificuldades em seus estoques, segundo Paulo Pires, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS). “O nosso problema é antigo, o Rio Grande do Sul tem um consumo de milho maior do que a produção. Atualmente, as cooperativas têm reservas para seu consumo próprio, mas praticamente não existe produto disponível no mercado”, alerta.
Os estoques governamentais também não ajudam a resolver a situação, aponta Valdecir Folador, presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs). “No Rio Grande do Sul, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) tem pouco mais de 50 mil sacas de milho estocadas. Isso dá para manter apenas uma granja de 2 mil matrizes por 12 meses”, afirma. Em comparação, no Estado existem 300 mil matrizes suínas, aponta Folador.
Nova estiagem pode piorar o desabastecimento
A possibilidade de uma nova estiagem durante os próximos meses também preocupa os produtores. Segundo boletim do Conselho Permanente de Meteorologia Aplicada do Estado do Rio Grande do Sul (Copaaergs), devido ao efeito La Niña, que resfria as águas do Oceano Pacífico, existe forte risco de estiagem em todas as regiões do Rio Grande do Sul no último trimestre de 2020.
De acordo com a Emater, a sequência de dias com tempo seco nas últimas semanas reduziu a umidade do solo e, em algumas regiões do Estado, já há lavouras com sintomas de estresse hídrico. “Se não chover bem nos próximos dias, e a janela de sol após as chuvas for muito grande, a estiagem deverá ser intensa, e afetará o milho justamente em um período crítico de desenvolvimento”, alerta Folador, da Acsurs.
“Não podemos antecipar problemas, mas as previsões para o clima preocupam muito”, afirma Paulo Pires, da FecoAgro/RS. “Se essa situação de falta de chuvas seguir durante os próximos meses, teremos um problema grave de desabastecimento de grãos em 2021”, destaca o dirigente.
De acordo com a Emater, a sequência de dias com tempo seco nas últimas semanas reduziu a umidade do solo e, em algumas regiões do Estado, já há lavouras com sintomas de estresse hídrico. “Se não chover bem nos próximos dias, e a janela de sol após as chuvas for muito grande, a estiagem deverá ser intensa, e afetará o milho justamente em um período crítico de desenvolvimento”, alerta Folador, da Acsurs.
“Não podemos antecipar problemas, mas as previsões para o clima preocupam muito”, afirma Paulo Pires, da FecoAgro/RS. “Se essa situação de falta de chuvas seguir durante os próximos meses, teremos um problema grave de desabastecimento de grãos em 2021”, destaca o dirigente.
Preço ao consumidor deve subir
Com todas essas pressões sobre o custo de produção, as empresas do setor não veem outra alternativa para manter as atividades senão reajustar os preços para os consumidores. O presidente executivo da OARS lembra que, enquanto o milho subiu mais de 70% em um ano, os preços das carnes no varejo tiveram elevações muito menores.
Segundo o IBGE, em 12 meses fechados em setembro, na Região Metropolitana de Porto Alegre, por exemplo, os preços da carne suína no varejo subiram 6,66%, e da carne de frango e ovos, 6,30 %, baseado nos dados da inflação oficial calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
“Não temos outra alternativa a não ser repassar para o consumidor o aumento de preços”, afirma Santos. “Já existe movimento para isso, ocorrendo de forma gradativa. Precisamos repor esses valores para conseguir manter nossa atividade”, destaca o dirigente.
Entidades buscam soluções junto ao governo federal
Para mitigar as necessidades de soja e milho no mercado interno, no dia 16 de outubro o governo federal, através da Câmara de Comércio Exterior (Camex), zerou a alíquota do imposto de importação dos dois grãos. A suspensão temporária para soja (grão, farelo e óleo de soja) valerá até 15 de janeiro de 2021. Já em relação ao milho, as importações brasileiras sem pagamento de imposto irão até 31 de março de 2021.
"Essa foi uma ação importante do governo, mas só começará a fazer algum efeito nos próximos 10 dias. Para muitos produtores, a situação já está no limite", afirma José Eduardo dos Santos, presidente executivo da OARS.
A fim de reduzir ainda mais as dificuldades do setor, a OARS enviou, nesta quinta-feira (22), ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), um documento com novas solicitações. Entre as sugestões apresentadas, está a criação de um crédito presumido temporário de PIS/Cofins pela compra de milho e farelo de Soja (de produtor rural cooperativa ou cerealista) destinado à criação de animais, semelhantes aos moldes adotados no programa Mais Leite Saudável.
O documento também pede uma linha de crédito especial com carência 36 meses, juros baixos e prazo mínimo de 5 anos para pagamento; adoção de alguma medida que garanta abastecimento interno de grãos com subsídios de equilíbrio de comercialização com valores sustentáveis para produtores e consumidores; e a retomada, de forma dinâmica e menos burocrática, do programa de milho balcão /Conab para produtores de aves e ovos.