José Pedro Gomes
Você já imaginou uma empresa que troca seu presidente todos os anos? Parece arriscado, talvez até imprudente. Afinal, em tempos de busca por estabilidade e previsibilidade, poucos aceitariam tamanha rotatividade no comando. Mas e se essa renovação constante fosse o segredo do sucesso?
Ciclos fazem parte da natureza, da vida e das instituições humanas. Tudo que se mantém vivo está em constante transformação. Estagnação é o primeiro sintoma da decadência. É por isso que entender e respeitar os ciclos - e, sobretudo, promover ativamente a renovação - é essencial para a longevidade de qualquer organização, seja ela uma empresa, uma associação ou mesmo uma nação.
O Instituto de Estudos Empresariais (IEE) é um exemplo concreto de como os ciclos, quando bem administrados, são fonte de força e crescimento. Há 40 anos, o IEE troca anualmente sua diretoria, em um processo que poderia parecer, à primeira vista, temerário. Porém, é exatamente essa renovação constante que mantém o Instituto pulsante, criativo e em permanente evolução. A sucessão frequente não enfraquece o IEE - ao contrário, fortalece-o, ao permitir a entrada de novas ideias, estilos de liderança e energia. O resultado é visível: o Instituto cresceu, amadureceu e se consolidou como uma referência nacional na formação de lideranças e na defesa da liberdade individual.
Nas empresas, esse princípio é igualmente válido. Negócios que não se adaptam, que não permitem a renovação de suas lideranças, de suas estratégias ou de sua cultura organizacional correm o risco de se tornar obsoletos. Aquelas que entendem a importância dos ciclos criam mecanismos internos de oxigenação - promovem jovens talentos, revisam processos, adaptam e reformulam objetivos. Não se trata de mudar por mudar, mas de manter vivo o espírito de reinvenção. Grandes empresas, de diferentes setores, entenderam que o dinamismo é a alma da competitividade. O novo não ameaça o legado: ele o preserva e o projeta para o futuro.
Na política, a lição não é diferente. O Brasil viveu, nos últimos anos, uma série de impasses institucionais, polarizações agudas e descrédito nas lideranças. Parte do problema está na dificuldade do sistema político de se abrir para novos ciclos. Figuras e práticas envelhecidas, que se perpetuam no poder sem renovação real, impedem o surgimento de soluções e lideranças mais conectadas com os desafios da população. A democracia, para florescer, também precisa de arejamento, de alternância, de novas ideias e novos nomes. Reeleições sucessivas e estruturas rígidas criam um ambiente fechado à mudança - e um país que não se renova empaca no tempo.
Os ciclos não devem ser temidos, mas celebrados. São eles que nos lembram que o tempo passa, que as necessidades mudam e que a adaptação é a chave da sobrevivência e do progresso. O IEE, ao praticar há quatro décadas a troca de lideranças como um princípio fundante, nos ensina que a renovação é menos uma ruptura e mais uma continuidade criativa. Que seja assim também nas empresas e na política: novos ciclos, novos ares. Talvez seja isso que falte para o Brasil decolar, como tantas empresas e instituições já fizeram - e, enfim, tornar-se o país do futuro que sempre prometeu ser.
Diretor de Comunicação do IEE