Nos últimos anos, vimos o setor calçadista sofrer revezes seguidos, tanto no mercado doméstico como internacional. O impacto foi mais forte nos nossos domínios. Acostumados com crescimentos de dois dígitos até 2014, o segmento viu suas vendas encolherem nos anos seguintes, causa de um endividamento que atingiu mais de 60 milhões de pessoas e de um desemprego que chegou a níveis estratosféricos, de quase 13 milhões de cidadãos brasileiros. Para ilustrar, em 2014 o consumo aparente de calçados ficou em torno de 815 milhões de pares, caindo para pouco mais de 800 milhões no ano passado. No mercado externo, também tivemos quedas significativas no período, passando de uma exportação de mais de 130 milhões de pares para 113 milhões, em 2018.
Porém, a partir de 2018, com a economia um pouco mais estável, a roda finalmente começou a girar. Devagar, é verdade, mas começou a dar indícios de uma recuperação, que foi registrada especialmente nos últimos meses daquele ano. Não fosse o ano atípico, com eleições, Copa do Mundo e paralisações dos caminhoneiros, teríamos logrado uma performance melhor. Mas, o legado foi positivo. O fato é que o setor calçadista saiu mais forte deste período, uma das recessões mais longas da nossa história. Foram poucos fechamentos significativos de plantas produtivas, o que mais vimos foram adequações de estrutura.
Para 2019, os ventos são outros. Com o novo governo eleito e as reformas prometidas, especialmente a da Previdência, as perspectivas são melhores, com uma maior confiança por parte do mercado, interno e externo. Também, aos poucos, devemos recuperar a demanda interna, que compra mais de 85% dos mais de 900 milhões de calçados produzidos no Brasil. O desemprego, com a reforma trabalhista, deve diminuir, injetando mais pessoas na roda do consumo. O mesmo deve ocorrer com o endividamento, que deve enfraquecer na medida em que os cidadãos consigam renda suficiente para honrar seus compromissos.
Presidente executivo da Abicalçados