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A Furg pretende conectar todo o Litoral Sul gaúcho com projetos ligados ao empreendedorismo

A Furg pretende conectar todo o Litoral Sul gaúcho com projetos ligados ao empreendedorismo


/FURG/DIVULGAÇÃO/JC
Patrícia Lima
A abertura do conto Correr Eguada, publicado pelo escritor pelotense João Simões Lopes Neto em 1913, no livro Contos Gauchescos, descreve a realidade dos campos que compreendiam a região Sul do Rio Grande entre o final do século XVIII e o começo do XIX. Para introduzir mais um dos seus causos, o narrador/personagem Blau Nunes chama a atenção de seu interlocutor para a particularidade geográfica e econômica da extensão de planícies e coxilhas que se estendia da Lagoa dos Patos até à Fronteira Oeste. Dizia ele:
"Tudo era aberto; as estâncias pegavam umas nas outras sem cercas nem tapumes; as divisas de cada uma estavam escritas nos papeis das sesmarias (...). Vancê vê que desse jeito ninguém sabia bem o que era seu, de animalada".
Caso dessem uma volta pela mesma área nos dias de hoje, Blau Nunes e seu criador bem que poderiam ter a impressão de que pouca coisa mudou desde aquele tempo. Talvez, em seu passeio, estranhassem somente as plantações de soja, os vinhedos e os olivais, além das raças de gado britânicas, bem diferentes dos animais que vagavam outrora pelas pastagens. O que certamente lhes escaparia é a revolução que já está em curso na Metade Sul, capaz de transformar a economia sem mudar a paisagem que tanto inspirou Simões Lopes Neto há mais de 100 anos.
É pela pesquisa e pelo desenvolvimento tecnológico que a região deve encontrar o caminho do crescimento, sem abrir mão da vocação agropastoril que esteve entre os temas centrais dos Contos Gauchescos.
Pilar promissor apontado pelo Mapa Econômico do Rio Grande do Sul (acesse a edição completa aqui), a inovação pode ser a chave para tornar as cidades e os territórios mais prósperos e sustentáveis, gerando o estado de bem-estar social necessário para fixar talentos e estabelecer uma economia global no coração do Pampa Gaúcho.
A aposta na inovação e no desenvolvimento tecnológico é a única saída para uma região cuja performance econômica é deficiente, especialmente se forem considerados índices como distribuição de renda e empregabilidade, em comparação com a Metade Norte. Essa é a avaliação do superintendente de Inovação e Desenvolvimento Interinstitucional da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Vinícius Campos, que também é vice-presidente do Pelotas Parque Tecnológico. Para ele, a região é um polo único de produção de conhecimento, com a presença de pelo menos quatro grandes universidades, três delas federais. Os recursos investidos em pesquisa devem fomentar o surgimento de empresas na região, transformando o conhecimento em renda. "Temos que desenvolver as soluções do futuro aqui, transferindo tecnologia e incentivando os empreendedores. Outros lugares do mundo se transformaram assim", afirma Campos.
O primeiro dos pilares da inovação - pessoas - é também o primeiro desafio a ser vencido nos ambientes de fomento da região. "Precisamos reter os talentos, os bons alunos, que tenham habilidades socioemocionais para empreender. E também precisamos de densidade, tanto de pessoas quanto de projetos inovadores", ressalta o diretor do OceanTec, o polo tecnológico da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Artur Gibbon.
Para ele, construir um ambiente de inovação capaz de atrair esses talentos é o primeiro passo para a criação de uma cultura de inovação que beneficie toda a região. Focada em um dos braços estratégicos da região, a chamada Economia Azul, que é voltada para o mar e para as potencialidades costeiras, a Furg pretende conectar todo o Litoral Sul, incluindo as cidades que margeiam a Lagoa dos Patos, com projetos ligados às áreas de inovação e empreendedorismo.
Além das universidades, outros centros de produção de conhecimento também já estão no caminho para tornar mais eficientes e sustentáveis as atividades pelas quais a região é reconhecida. O caso mais emblemático é o do agronegócio, que há décadas tem o apoio científico da Embrapa, que soluciona os problemas do campo por meio de pesquisas e produção de conhecimento.
Lorena Bernardi, supervisora do Setor de Prospecção e Avaliação de Tecnologias da Embrapa Clima Temperado, no município vizinho de Capão do Leão, salienta que o conceito de inovação aberta norteia as iniciativas da instituição. Isso significa que a integração com o setor produtivo é o que determina as prioridades e os temas a serem estudados, para que as soluções encontradas sejam partilhadas com a comunidade e sirvam para o desenvolvimento da cadeia como um todo.
"Construímos a inovação em conjunto com os produtores. Nossas pesquisas resultam em ativos, que podem ser uma nova cultivar, uma prática de manejo, um banco de dados ou um aplicativo. O importante é que tudo volta como benefício para a sociedade. Esse é o espírito da inovação aberta", explica Lorena.