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Bruna Suptitz

Bruna Suptitz

Publicada em 15 de Abril de 2025 às 20:22

Em um mês, 13 contêineres novos foram queimados em Porto Alegre

Contêiner de resíduos recicláveis (lixo seco) incendiado / vandalizado

Contêiner de resíduos recicláveis (lixo seco) incendiado / vandalizado

Reprodução redes sociais/Divulgação/JC
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Bruna Suptitz
Bruna Suptitz
Nos 10 primeiros dias da operação em Porto Alegre, que teve início em 12 de março, foram queimados três contêineres novos, de cor verde e destinados exclusivamente à coleta do lixo seco. Passados pouco mais de três semanas, outros 10 equipamentos foram queimados. O caso mais recente foi na madrugada de ontem, no bairro Menino Deus. O que deveria ser um passo para elevar o baixo índice de reciclagem das embalagens na Capital está se transformando em mais um problema a ser encarado na gestão dos resíduos.
Nos 10 primeiros dias da operação em Porto Alegre, que teve início em 12 de março, foram queimados três contêineres novos, de cor verde e destinados exclusivamente à coleta do lixo seco. Passados pouco mais de três semanas, outros 10 equipamentos foram queimados. O caso mais recente foi na madrugada de ontem, no bairro Menino Deus. O que deveria ser um passo para elevar o baixo índice de reciclagem das embalagens na Capital está se transformando em mais um problema a ser encarado na gestão dos resíduos.
Todos os 13 casos de contêineres queimados até o fechamento deste conteúdo foram registrados em boletim de ocorrência online junto à Polícia Civil. A Coluna busca informações sobre o procedimento e andamento das investigações.
Até o momento, a prefeitura contabiliza um prejuízo de R$ 260 mil. Individualmente, cada estrutura custa aos cofres públicos R$ 12,8 mil, conforme informação do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), responsável por implantar o projeto da nova coleta seletiva na cidade.
Em 22 de março, o prefeito Sebastião Melo publicou nas redes sociais (foto 2) que "esse vandalismo prejudica a cidade, desperdiça dinheiro público e atrapalha quem faz a destinação correta dos resíduos". Poucos dias depois, em 27 de março, afirmou, também nas redes sociais, que "quem queima um contêiner queima dinheiro público, que poderia estar sendo investido em outras prioridades".
Os incêndios expõem os entraves do sistema adotado na Capital para atender a política de saneamento básico, neste caso, o destino de todo o lixo que é gerado na cidade - a gestão dos resíduos urbanos é uma obrigação dos municípios.
A maior parte da cidade opera no modelo de coleta "porta a porta", quando os sacos de lixo são deixados na calçada em frente ao imóvel para ser recolhido por uma pessoa e jogado, literalmente, para dentro da caçamba de um caminhão. Em tese, esse descarte deveria condizer com o dia, o horário e o tipo da coleta naquele endereço. No entanto, é comum que pessoas digam não saber ou não ter esta informação - que pode ser consultada aqui.
A adoção do modelo de coleta por contêiner, onde o saco de lixo fica armazenado em um lugar fechado até a chegada do caminhão, é uma tentativa de evitar que o acúmulo de material orgânico nas calçadas atraia animais e se transforme em um foco de propagação de doenças. Além disso, dá maior liberdade para quem descarta o material, já que nem sempre há disponibilidade para o descarte no dia indicado pela prefeitura.
Com esse propósito Porto Alegre adotou em 2011 os contêineres cinzas, destinados aos resíduos orgânicos e ao rejeito (o lixo de banheiro, por exemplo). Inicialmente em 11 bairros, foi anunciado que o uso dos equipamentos seria expandido para todas as regiões da cidade. Passados quase 14 anos, isso não aconteceu, e alcança atualmente apenas 18 dos quase 100 bairros da Capital. Moradores de áreas sem contêineres reivindicam a instalação. Onde eles já operam, o uso passa longe do adequado, com material reciclável descartado junto ao material que terá como destino o aterro.
A introdução dos contêineres verdes, cor tradicionalmente associada à reciclagem, ao sistema de coleta da cidade não é novidade. Na gestão de Nelson Marchezan Júnior (PSDB, 2017-2020), equipamentos iguais aos cinzas foram espalhados por algumas ruas do Centro Histórico também por um período de teste. No entanto, pela ampla abertura da tampa, foi identificado que o recolhimento antecipado pelos catadores de rua descaracterizava o propósito da iniciativa, e ela logo foi encerrada.
O modelo adotado hoje, no segundo governo de Sebastião Melo (MDB, 2021-atual), é muito diferente, a começar pelo material: os cinzas são de metal, os verdes são de plástico PEAD (polietileno de alta densidade) - material que derrete quando submetido a altas temperaturas, e é o que tem acontecido com as estruturas incendiadas. Sem abertura por uma tampa, mas com um círculo na parte alta de duas laterais, dificulta o acesso de pessoas - dificulta, mas não impede, e a retirada de materiais por parte dos catadores autônomos segue ocorrendo.
Já que passa por um período de avaliação, cabe à prefeitura analisar se o modelo de contêiner escolhido é o mais adequado, não em conformação com os atos de vandalismo praticados na cidade, mas compreendendo o cenário onde estão sendo inseridos. E, se nessa mais de uma década de adoção do sistema de gestão de resíduos com contêineres faltou orientação adequada para a população sobre como descartar o seu lixo, o caminho para mudar a situação deveria começar por aí, com aposta em campanhas massivas de educação ambiental.
 

Contêineres incendiados

Contêiner de resíduos recicláveis (lixo seco) incendiado / vandalizado

Contêiner de resíduos recicláveis (lixo seco) incendiado / vandalizado

Reprodução redes sociais/Divulgação/JC
Dos 450 contêineres colocados nas ruas, 13 foram incendiados em um mês. Confira a data e o local dos registros (a numeração é aproximada de onde fica o equipamento):
1 | 15/03 - Rua Cícero Ahrends (265), Menino Deus
2 | 22/03 - Avenida Ipiranga (321), Praia de Belas
3 | 22/03 - Rua Barão de Teffé (351), Menino Deus
4 | 27/03 - Rua Cícero Ahrends (265), Menino Deus
5 | 28/03 - Rua José de Alencar (664), Menino Deus
6 | 02/04 - Rua General Canabarro (398), Centro Histórico
7 | 02/04 - Rua General Cipriano Ferreira (551), Centro Histórico
8 | 02/04 - Rua Demétrio Ribeiro (273), Centro Histórico
9 | 03/04 - Avenida João Pessoa (981) Cidade Baixa
10 | 07/04 - Av. Aureliano de Figueiredo Pinto (972), Praia de Belas
11 | 10/04 - Rua Lima e Silva (377), Cidade Baixa
12 | 10/04 - Rua da República (303), Cidade Baixa
13 | 14/04 - Avenida Getúlio Vargas (560), Menino Deus
 

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