A falta de medicamentos sedativos e anestésicos utilizados nos kits para entubação tem levado muitas casas de saúde gaúchas a cancelarem procedimentos e cirurgias eletivas. Os insumos, com demanda crescente em razão da pandemia da Covid-19, estão escassos nos estoques dos hospitais, que têm tido dificuldades para encontrá-los no mercado ou sofrem com a elevação dos preços aplicados, por conta da grande procura. Apesar de a aquisição desses medicamentos ser de responsabilidade das instituições, o Estado já intermediou a questão junto ao governo federal e aguarda a chegada de estoques que serão licitados pelo Ministério da Saúde.
No domingo (28),
alerta da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos do Estado (Federação RS) e da Federação das Associações e Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) expôs o problema que vem sendo enfrentado por dezenas de hospitais gaúchos e prejudicado tratamentos e a saúde de muitos pacientes, uma vez que o kit de entubação é essencial nos procedimentos das Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs). Nos últimos três meses, desde que começou a pandemia no Estado, a quantidade de kits utilizados equiparou-se ao aplicado em todo o ano de 2019. "Ocorre que o acesso a tais medicamentos no mercado farmacêutico tem sido inviabilizado por duas causas principais, a primeira, a alta demanda, e, a segunda, os preços elevados. É evidente que a gravidade deste problema está acentuada em razão da pandemia do novo coronavírus", diz a nota das duas federações.
De acordo com a Federação RS, instituições como o Hospital Vila Nova, de Porto Alegre, o Hospital Vida e Saúde, de Santa Rosa, e o Hospital de Caridade de Ijuí já cancelaram cirurgias eletivas que necessitam desses medicamentos, por conta dos estoques baixos. Em Canoas, a prefeitura também anunciou que os hospitais Universitário e Nossa Senhora das Graças não realizariam cirurgias eletivas pela escassez dos medicamentos a partir de segunda-feira (29), justamente para poder garantir o atendimento aos pacientes de urgência e emergência, que são pacientes Covid.
No Hospital Instituto Cardiologia de Viamão, única casa de saúde da cidade e referência regional em traumatologia e neurologia, todas as cirurgias eletivas foram suspensas nesta terça-feira (30), para preservar os estoques de anestésicos e kits entubação para os atendimentos a pacientes da traumatologia com Covid-19. Segundo o administrador da instituição, Geison Farias, não há como manter o calendário de cirurgias, entre 20 e 30 semanais, diante dessa realidade. "Ainda temos estoque para uma semana, 10 dias, mas priorizamos os pacientes traumato e Covid nesse momento. Não sabemos o que teremos pela frente se, por exemplo, houver um acidente de grandes proporções para atender. Já comunicamos a Coordenadoria de Saúde e o governo do Estado, mas não há muito a se fazer a não ser esperar, pois os medicamentos estão em falta no mercado", enfatiza o gestor.
A Secretaria da Saúde do Estado (SES) fez um levantamento junto aos hospitais para saber a situação dos estoques de medicamentos do chamado kit entubação e encaminhou as informações ao Conselho Nacional da Saúde (Conass)e ao Ministério da Saúde, que fará uma licitação coletiva para aquisição dos produtos, mais de 20 medicamentos. Segundo a SES, os hospitais são os responsáveis pela compra dos medicamentos, mas, diante da escassez agravada pela pandemia, os estados têm feito a intermediação com os órgãos federais e pedido à Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) uma tomada internacional de preços.
Em live na segunda-feira (29), o governador Eduardo Leite e a secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann, abordaram o tema e disseram que o Estado aguardava o retorno do Ministério. Leite reforçou que já houve comunicado conjunto dos governadores ao órgão, para garantir a intermediação dos medicamentos, mas que a falta ocorre em todo o País e preocupa o Estado.
Segundo Arita, há um compromisso do Ministério da Saúde em viabilizar as aquisições aos hospitais. "Encaminhamos a lista dos principais insumos que faltam na rede hospitalar do Rio Grande do Sul, tanto para o Conass quanto para o Ministério da Saúde, e tivemos a informação de que nesta semana o Ministério estaria encaminhando para o Estado os itens necessários de anestésicos, kits entubação e outros insumos", relatou a secretária.