As novas restrições ao comércio de Porto Alegre, anunciadas pela prefeitura na última sexta-feira (12), deverão ser menos duras do que era esperado. Neste domingo (14), a prefeitura confirmou que o novo decreto (20.608) sobre medidas para combater o contágio de Covid-19 na Capital gaúcha, que será publicado nesta segunda-feira (15) e entra em vigor na terça-feira (16), deverá apresentar alterações em relação ao divulgado pelo prefeito Nelson Marchezan Júnior, permitindo um número maior de abertura de empresas.
O anúncio de sexta-feira afirmava que as lojas de shopping centers seriam fechadas e as de rua seriam restritas às microempresas, com faturamento até R$ 360 mil ao ano. Agora, a prefeitura irá permitir a abertura de todas as empresas com faturamento anual até R$ 4,8 milhões inclusive as localizadas dentro de centros comerciais. Com isso, 20 mil empreendimentos poderão manter suas atividades, 5 mil a mais do que com a restrição até R$ 360 mil anuais, segundo Marchezan. "Essas empresas de pequeno porte não costumam gerar aglomerações tão grandes, e são mais capilarizadas, gerando menos risco de contágio pela doença".
Além disso, restaurantes, inclusive os instalados em shoppings centers, só poderão ficar abertos até as 23h. Academias são poderão receber alunos em espaços exclusivos de 16 metros quadrados. Empresas que prestam serviços presenciais também terão restrições, exceto escritórios de contabilidade, devido à demanda gerada pelo prazo de entrega do Imposto de Renda (IR), que acaba no dia 30 de junho.
Indústrias e empresas de construção civil seguem em operação normal, independente do faturamento, mantendo as mesmas restrições e cuidados que já vinham seguindo. Marchezan destacou que lojas de computadores, celulares e equipamentos desse setor também terão atividades mantidas, devido à demanda aumentada. Além disso, lojas de autopeças e revendas de automóveis também serão liberadas, devido à pouca geração de aglomerações. De acordo com o prefeito, 14 mil empresas da Capital gaúcha devem seguir com suas atividades sem alterações.
Após a decisão anunciada por Marchezan na sexta-feira, inúmeras entidades empresariais já haviam se manifestado pela manutenção, com restrições, das atividades do comércio na Capital. Segundo o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL-POA), Irio Piva, a decisão de aumentar o valor de faturamento anual das empresas que tem permissão para operar contribui para preservar um nível maior de empregos do comércio.
"Lojas que faturam até R$ 360 mil ao ano são micro e pequenas, e geralmente usam a mão de obra dos próprios donos ou um número reduzido de funcionários. Com essa mudança para R$ 4,8 milhões anuais, já temos vários empreendimentos que contratam um número maior de empregados”, lembra. Segundo o presidente da CDL-POA, com a mudança, cerca de 85% das lojas instaladas em shopping centers poderão permanecer abertas.
O diretor da Associação Gaúcha para o Desenvolvimento do Varejo (AGV) Juarez Meneghetti observa que, se a permissão para abertura de lojas que faturam até R$ 4,8 milhões ao ano for aplicada por empresa, deixará de fora franqueados que têm várias unidades que, no conjunto, faturam mais.
"O critério justo deveria ser tamanho de loja ou faturamento no ponto de venda (por filial)", defende Meneghetti, que também gerencia 27 lojas da franquia do Boticário em Porto Alegre, muitas delas em shopping, que não se manterão abertas caso seja firmada a tendência de considerar a receita da empresa e não de cada operação.
Medidas visam a reduzir velocidade de ocupação de leitos
Ao explicar na noite deste domingo as novas medidas de restrição às atividades econômicas em Porto Alegre, o prefeito Nelson Marchezan Júnior destacou que o motivo para as imposições é necessidade de frear a velocidade de novos casos graves de Covid-19 na cidade. De acordo com o prefeito, se não fosse tomada nenhuma ação, havia um risco grave de que o número total de leitos de UTIs destinados para pacientes de Covid-19 no município (174) fosse totalmente ocupado em três semanas.
Marchezan destacou que, durante quase dois meses a partir de 10 de abril, o número de leitos de UTIs ocupados por pacientes confirmados com Covid-19 se manteve estável em torno de 42 nos hospitais de Porto Alegre. No entanto, depois da liberação generalizada de atividades econômicas, no dia 20 de maio, esse índice começou a crescer fortemente. Neste domingo, a Capital gaúcha contava com 77 pacientes confirmados com Covid em leitos de UTI. Pela velocidade do crescimento de internações devido à doença, a tendência apontada pela equipe da prefeitura é de que os 174 leitos destinados para os contaminados pela doença seriam totalmente ocupados entre 30 de junho e 4 de julho.
"Esse era um cenário que precisava ser alterado. Por isso estamos tomando essas medidas, que devem ajudar a reduzir a circulação de pessoas e a contaminação pelo vírus", explicou Marchezan. O prefeito afirmou que novas ações mais restritivas não estão descartadas caso a velocidade de ocupação de leitos não for estabilizada nas próximas semanas.
Parque e praças seguem abertos
O fechamento de parques e praças em Porto Alegre para buscar reduzir a exposição de pessoas ao novo coronavírus foi descartado pelo prefeito Nelson Marcheza Júnior. A grande presença de pessoas em alguns ambientes públicos, como a Orla do Guaíba, tem gerado críticas e pedidos para a restrição de circulação da população nesses locais.
Segundo o prefeito, os mais de 670 parques e praças da Capital gaúcha são mais seguros para o população do que outros ambientes fechados, e não deverão sofrer restrições. "Estar com a família em um local aberto com circulação de ar, como um parque ou praça, é bem melhor e gera menos riscos do que um ambiente fechado, como uma loja, academia ou shopping center", destacou Marchezan.