Porto Alegre, sex, 09/05/25

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 23 de Abril de 2025 às 18:26

RS lança plataforma para vítimas de violência doméstica solicitarem medida protetiva de urgência online

Novo sistema para registro de medida de proteção surge após feriadão com 10 casos de feminicídio

Novo sistema para registro de medida de proteção surge após feriadão com 10 casos de feminicídio

Raquel Hoefel/PC-RS/Divulgação/JC
Compartilhe:
Gabriel Margonar
Gabriel Margonar
Em resposta ao último feriado, um dos mais violentos dos últimos anos no Estado, com o registro de mais de dez feminicídios, o governo do Rio Grande do Sul lança nesta quinta-feira (24) uma nova funcionalidade na Delegacia Online da Polícia Civil. A plataforma permitirá que vítimas de violência doméstica solicitem medidas protetivas de urgência pela internet, por meio da ferramenta DOL Mulher. O objetivo é ampliar e agilizar o acesso à proteção.
Em resposta ao último feriado, um dos mais violentos dos últimos anos no Estado, com o registro de mais de dez feminicídios, o governo do Rio Grande do Sul lança nesta quinta-feira (24) uma nova funcionalidade na Delegacia Online da Polícia Civil. A plataforma permitirá que vítimas de violência doméstica solicitem medidas protetivas de urgência pela internet, por meio da ferramenta DOL Mulher. O objetivo é ampliar e agilizar o acesso à proteção.
A decisão de antecipar o lançamento da nova funcionalidade foi tomada após o fim de semana prolongado de Páscoa e Tiradentes marcado por tragédias. Entre a última sexta e segunda-feira, o Estado registrou 10 feminicídios — dois em Ronda Alta, e um nos municípios de Feliz, Pelotas, Serafina Corrêa, Santa Cruz do Sul, Viamão, Bento Gonçalves, São Gabriel e Parobé. Nenhuma das vítimas contava com medida protetiva. Em apenas dois casos havia registros policiais anteriores — e, ainda assim, sem indícios de risco iminente.
Esses números reforçam a urgência de facilitar o acesso às medidas protetivas”, afirma o delegado Christian Nedel, diretor do Departamento de Proteção a Grupos Vulneráveis da Polícia Civil do Rio Grande do Sul. Segundo ele, os dados de 2025 já apontam 28 feminicídios no Estado, sendo apenas um em Porto Alegre. Em 93% dos casos, não havia medida protetiva em vigor.  Para Nedel, isso evidencia que o principal desafio não está na resposta do sistema, mas no primeiro passo: a formalização do pedido de ajuda.
Até então, o registro de ocorrência podia ser feito online, mas o pedido de medida protetiva exigia comparecimento presencial à delegacia. Essa barreira, segundo o delegado, afasta muitas mulheres que enfrentam medo, vergonha ou dificuldades de deslocamento. “É por isso que a nova plataforma tem potencial de salvar vidas. A internet pode ser a porta de entrada para vítimas que não conseguiriam buscar ajuda de outra forma”, explica.
A ferramenta digital foi desenvolvida ao longo de 2024, em parceria com a Secretaria de Segurança Pública e o Programa RS Seguro. Ela permitirá que a vítima relate os fatos e solicite diretamente a medida protetiva por meio de um formulário. O sistema gerará um alerta de urgência para o servidor plantonista, que poderá encaminhar o pedido ao Judiciário em poucos minutos, pelo sistema eProc.
“O fluxo será mais ágil e eficiente”, destaca Nedel. A Polícia Civil continuará tendo até 48 horas para formalizar o pedido junto ao Poder Judiciário, mas, na prática, a tramitação deve ser muito mais rápida. Em muitos casos, a análise judicial poderá ocorrer no mesmo dia — o que pode ser decisivo para evitar novas violências.
Hoje, o Rio Grande do Sul conta com 23 Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs) e cerca de 90 Salas das Margaridas — espaços humanizados para acolher vítimas de violência doméstica. A Divisão de Proteção e Atendimento à Mulher (Dipam), vinculada ao departamento comandado por Nedel, também coordena o monitoramento eletrônico de agressores, com cerca de 300 tornozeleiras em uso atualmente.
Apesar disso, os feminicídios seguem ocorrendo, muitas vezes sem qualquer aviso prévio. Para o delegado, a subnotificação ainda é o maior obstáculo. “Boa parte das vítimas nunca procurou a polícia. Sem esse primeiro contato, fica muito difícil o Estado agir preventivamente”, avalia. Agora, a expectativa é que a medida protetiva online amplie significativamente esse primeiro contato.
A funcionalidade, segundo a Polícia Civil, já foi discutida em reuniões com os delegados das 29 regiões do Estado, e as equipes de plantão foram orientadas para lidar com a nova demanda. A plataforma passou pelos últimos testes técnicos na tarde desta quarta-feira (23), mas até a publicação desta reportagem ainda não havia um horário definido para o lançamento.

Notícias relacionadas

Comentários

0 comentários