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Publicada em 23 de Abril de 2025 às 19:14

Dívida do agro gaúcho com vencimento em 2025 supera os R$ 30 bilhões

Estiagem de 2025 causou quebras variadas no RS, conforme regiões afetadas com maior ou menor intensidade

Estiagem de 2025 causou quebras variadas no RS, conforme regiões afetadas com maior ou menor intensidade

SOS Agro/Divulgação/JC
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Claudio Medaglia
Claudio Medaglia Repórter
Somente as parcelas das dívidas dos produtores rurais gaúchos com vencimento em 2025 somam mais de R$ 30 bilhões. O montante representa mais de 25% do total do passivo, que supera os R$ 113,6 bilhões em contratos junto ao Banco do Brasil, Banrisul, BRDE, Santander, Sicoob e Sicredi, conforme levantamento feito pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) há cerca de um mês. E, com esse volume em jogo, entidades do setor e o governo federal tratam da renegociação do passivo em uma mistura entre jogos de Paciência e Xadrez.
Somente as parcelas das dívidas dos produtores rurais gaúchos com vencimento em 2025 somam mais de R$ 30 bilhões. O montante representa mais de 25% do total do passivo, que supera os R$ 113,6 bilhões em contratos junto ao Banco do Brasil, Banrisul, BRDE, Santander, Sicoob e Sicredi, conforme levantamento feito pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) há cerca de um mês. E, com esse volume em jogo, entidades do setor e o governo federal tratam da renegociação do passivo em uma mistura entre jogos de Paciência e Xadrez.
Nesta quarta-feira (23), a suspensão e o alongamento das dívidas foi assunto de uma reunião virtual entre técnicos das federações da Agricultura (Farsul), dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS), das Cooperativas Agropecuárias (FecoAgro-RS) e da Ocergs com representantes dos Ministérios da Fazenda, da Agricultura (Mapa) e do Desenvolvimento Agrário (MDA). No encontro, o governo avisou que o Conselho Monetário Nacional (CMN) irá publicar uma resolução ampliando o leque de contratos passíveis de prorrogação dos pagamentos conforme o Manual de Crédito Rural para operações de custeio, atualmente restrito a 8% dos contratos pelo Pronaf. A medida abarcará também empréstimos pelo Pronamp e demais produtores.  
A reunião ocorreu na sequência de encontro realizado na terça-feira, na Farsul, da qual participaram as superintendências estaduais de agentes financeiros envolvidos na negociação. A conversa havia sido alinhada na semana passada, quando o secretário de Política Econômica da Fazenda, Guilherme Mello, condicionou a interrupção da cobrança da parcela que vence em abril à elaboração de um diagnóstico detalhado sobre as perdas e avisou que o benefício não será concedido de forma geral, mas limitada.
Conforme a Fetag, a resolução do CMN seria uma medida inóqua, já que não há fonte de recursos financeiros disponível para suportar a prorrogação dos pagamentos. E, sem isso, a tendência é de os bancos, que têm autonomia para decidir, não aceitarem os pedidos dos produtores.
A entidade vê com muitas reservas os movimentos do governo federal, que estaria arrastando a negociação. Afinal, os próprios números exigidos pela União para que fossem apresentados pelo setor, consolidando o montante e o perfil da dívida, já são de domínio do governo. E a decisão sobre o atendimento ao pleito do agronegócio do Rio Grande do Sul é mais política do que técnica. Mas, sem o acolhimento do ministro Fernando Haddad, o tema não avança, avaliam fontes ouvidas pela reportagem.
Ainda assim, foram levadas à reunião algumas ideias já aventadas. Uma delas, apresentada pelo governo gaúcho, contempla o uso do Fundo Social do Pré-Sal para a criação de um fundo de investimentos gerido pelo Banco do Brasil (BB), com repasse de recursos às cerealistas e cooperativas, que emprestaram dinheiro ao setor, e também aos produtores.
Esse tema não prosperou no encontro. Mas, ainda à noite, estava prevista conversa entre Haddad, senadores gaúchos e representantes do agronegócio para tentar avançar nas conversas. 
O problema é que conversar com os representantes dos bancos do RS não resolve muito. Eles escutam nossos argumentos, nos ajudam a estratificar o perfil do endividamento e a atualização desses R$ 113 bilhões apurados em março, como quer a União, mas não passa disso, observou o secretário-executivo da Fetag-RS, Kaliton Prestes, antes de ingressar na reunião virtual.
Segundo ele, o principal complicador para os produtores são as sucessivas perdas nas lavouras. Esse é o quinto ano consecutivo em que os produtores enfrentam dificuldades climáticas, frustrações de safra e de receita.
"A questão não se restringe a esta safra ou à passada. Há um acúmulo de passivos, o que torna a situação muito complicada”.
Para o economista-chefe da Farsul, Antonio da Luz, que participou da reunião virtual, a resolução é um pequeno avanço, já que antes não havia nenhum sinal positivo por parte do governo. Ele avalia que a medida pode dar um respiro aos médios e grandes produtores, mas vê com contrariedade o poder de discricionaridade dos agentes financeiros para decidir sobre cada pleito. Ainda assim, Luz recomenda que os produtores com finanças efetivamente comprometidas formalizem o pedido de prorrogação o quanto antes junto aos bancos.
Estamos em uma renegociação de dívida em meio à pior situação fiscal do governo federal que já vi. Tudo será muito complicado, difícil e dificultado. Eles irão restringir ao máximo quem poderá ser atendido”, disse o economista ao JC.
Ele, porém, destacou ter percebido alguma abertura da União para discutir o uso do Fundo Social do Pré-Sal. Para Luz, esse é o único caminho viável para colocar dinheiro novo na mesa. A Farsul defende que, se aprovado esse formato, o alongamento das dívidas tenha a máxima abrangência. Mas, principalmente, que comece por quem já está com crédito negativado ou na iminência.
Precisaremos de muitas reuniões para chegarmos a um acordo. Mas entendo que precisaremos avançar um pouquinho de cada vez, embora ainda tenhamos entendimentos muito distantes”, concluiu.

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