Anunciada em outubro passado, a proposta da prefeitura de Porto Alegre de conceder por 30 anos a gestão do Parque Farroupilha – a Redenção – está sendo revista e deve ser mais curta. Em comunicado à imprensa nesta quinta-feira, o prefeito Sebastião Melo (MDB) confirmou isso e também que “está afastada a proposta” de construir um estacionamento subterrâneo no parque, por ter sido “um dos temas mais combatidos” nas consultas públicas realizadas no fim do ano passado.
O pronunciamento acontece um dia após reportagem do jornal Sul21 divulgar a resposta da prefeitura a um pedido de informação do Ministério Público (MP) Estadual. Motivado por uma representação feita pelo Instituto Gaúcho de Meio Ambiente (InGá) em novembro do ano passado, o órgão buscou com o poder público informações acerca de questões ambientais que envolvem a Redenção, a Praia do Lami e o Parque Marinha. A proposta de concessão inclui também o trecho 3 da Orla do Guaíba. Mas, embora as outras áreas sejam citadas no documento do MP, tanto este quanto o prefeito se referem somente à Redenção.
A coluna teve acesso ao documento, segundo o qual a prefeitura cita uma “medida intermediária” de adaptação dos estudos “para uma concessão mais curta, entre 5 e 7 anos”. Melo não falou o prazo, mas detalhou à imprensa o mesmo que foi comunicado ao MP, sobre a ideia de reunir em um modelo de gestão único os serviços atualmente instalados no parque e operados por terceiros: o Mercado do Bom Fim (com diversos permissionários), o parquinho de diversão, o trenzinho e o Refúgio do Lago.
Também entraria no cálculo a área azul dos estacionamentos já existentes no entorno da Redenção – a prefeitura informa que há cobrança na área perto do mercado, mas não há na rótula que liga as ruas Paulo Gama e Garibaldi. E cita ainda uma potencial nova operação na área onde ficava um posto de combustíveis, na esquina das avenidas Osvaldo Aranha e José Bonifácio – o terreno, que é público, está sem uso. “Uma conversa preliminar é juntar tudo isso num gerenciamento único e tudo o que for possível (de recurso) potencializar em segurança, não mudando absolutamente nada na concepção do parque”, sustenta Melo.
Sobre o estacionamento, a resposta do município ao MP é que “para dar maior segurança à implantação, o ideal seria obtermos os estudos” conforme indicado em um termo de referência para a concessão. E completa que “por ora, o município não dispõe de recursos para custear os ditos estudos”. Mas Melo garante que essa hipótese está descartada. Ele trata a mudança de rumo como uma resposta às demandas populares.
Aproveitando a volta do tema ao debate público, o prefeito apelou por “compreensão da sociedade” para apoiar ações do governo de melhoria do local, citando a iluminação, os bebedouros e os banheiros públicos recentemente vandalizados. Melo pede para todos “juntos encontrar uma governança que dê mais segurança ao parque em todos os momentos”.
Como a resposta da prefeitura ao Ministério Público indicou que, por ora, não deve avançar com os estudos sobre a concessão no modelo inicialmente apresentado, o promotor de Justiça Alexandre Saltz determinou o arquivamento da notícia de fato (classificação dada à demanda). Paulo Brack, coordenador geral do instituto, informa que o InGá pretende encaminhar um ofício solicitando o não arquivamento, por considerar que “há lacunas importantes nas respostas” e que “a prefeitura não respondeu ainda à sociedade, de forma clara, a mudança eventual de planos (da concessão)” de todos os parques já citados.
Entenda o caso
Em outubro de 2022 a prefeitura tornou pública uma ideia que já era tratada nos gabinetes desde o primeiro ano da gestão de Sebastião Melo: conceder para a iniciativa privada a gestão de parques públicos de Porto Alegre.
A Fundação Getúlio Vargas (FGV) foi contratada para fazer estudos de viabilidade econômica, que resultou em duas propostas: uma une o Parque Farroupilha (Redenção) e o Calçadão do Lami (lote 1), a outra coloca no mesmo pacote o trecho 3 do Parque Orla do Guaíba e o Parque Marinha do Brasil (lote 2). O Parque Moinhos de Vento (Parcão) também foi estudado, mas uma concessão foi considerada inviável economicamente.
Em novembro foram realizadas as audiências públicas para avaliação das minutas dos editais. As propostas enfrentam resistência popular e resultaram na criação do Coletivo Preserva Redenção, formado para se posicionar publicamente pela manutenção da gestão pública do espaço.
O governo pretendia lançar o edital em 2023, mas integrantes do governo municipal já afirmavam desde o ano passado que não havia pressa. Antes de lançar o edital definitivo e abrir a concorrência, o processo passará por apreciação do Tribunal de Contas do Estado.