A Coreia do Norte decidiu não realizar um dos eventos anuais mais simbólicos do país, o comício anti-imperialismo dos EUA, que marca as comemorações pelo início da Guerra da Coreia. A informação foi confirmada nesta segunda-feira (25) apesar de nenhum funcionário do governo ter se manifestado oficialmente sobre a decisão. Este seria mais um sinal de melhora nas relações entre o líder norte-coreano, Kim Jong-un, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Normalmente, massas de moradores gritam frases de efeito, agitam bandeiras e levantam os punhos a cada ano, marcando o começo de um mês de eventos anti-EUA, todos voltados para a Guerra da Coreia e destinados a fortalecer o nacionalismo e a união. Tudo culmina em 27 de julho, um feriado nacional chamado "Vitória na Guerra de Libertação da Pátria". No ano passado, o evento foi realizado na Praça Kim Il-sung e contou com a presença de 100 mil pessoas. O país chegou a emitir selos oficiais especiais para comemorar o evento.
A Coreia do Norte enfraqueceu sua retórica anti-Washington nos últimos meses, com o objetivo de criar uma atmosfera mais conciliadora antes da cúpula realizada no dia 12 e, também, evitar desentendimentos dos dois lados para reduzir tensões e aumentar o diálogo.
Após o encontro entre Trump e Kim, a mídia estatal norte-coreana exibiu um especial de 42 minutos sobre o encontro diplomático. O programa tem sido reprisado desde então, o que provavelmente significa que são poucos os moradores do país que não estão cientes das mudanças. Para muitos norte-coreanos, o especial televisivo também foi a primeira vez em que puderam de fato ver a figura de Trump. Ainda assim, as mudanças e o modo como são apresentadas são detalhadamente planejadas pelo governo.
Até agora, pouco foi falado sobre o interesse de Washington na desnuclearização norte-coreana, apesar da diminuição das referências à necessidade de o país possuir armas nucleares. Em 2017, Kim testou mísseis de longo alcance em ritmo recorde e as tensões com os EUA se deterioram consideravelmente.
A postura menos estridente de Pyongyang nas últimas semanas destaca a posição delicada do país, décadas depois de ter declarado que os EUA eram seu arqui-inimigo. Nos relatórios sobre a cúpula em Cingapura, a mídia estatal se referiu a Trump com deferência, usando seu nome completo e o título de presidente dos Estados Unidos, postura diferente da normalmente utilizada para funcionários do governo americano, que são apresentados apenas pelo sobrenome e sem cargo.
A mudança de tom da Coreia do Norte ainda não é permanente e vai depender de como os processos de desnuclearização e suspensão de sanções econômicas ocorram. Caso falhem, as relações com Washington podem piorar com rapidez e é provável que os esforços de propaganda e doutrinação do regime de Kim sejam recalibrados. Mas acabar com toda a propaganda antiamericana seria uma tarefa hercúlea. A Guerra da Coreia devastou o país, que sofreu nas mãos dos EUA e seus aliados, e o conflito ainda é uma parte importante na educação e doutrinação de toda a população.
Imagens negativas de americanos retratados como duendes de nariz grande são comuns em escolas primárias e jardins de infância, assim como os avisos para que a população tome cuidado com a agressão, fraude e brutalidade americanas. Tais lições estão presentes em todos os livros didáticos e centros de educação no país asiático. Os slogans antiamericanos também podem ser vistos na capital norte-coreana e em outras cidades, mas não são tão numerosos.
Enquanto suaviza o tom contra os EUA, a Coreia do Norte também intensifica os ataques aos "valores capitalistas", estabelecendo um alerta de que suas tentativas diplomáticas para criar relações com o resto do mundo não devem ser entendidas como o abandono das ideias socialistas no país. Fonte: Associated Press.