Cair para a Série B dificulta qualquer relação entre a torcida e o clube. Se tratando de uma agremiação que jamais tinha sido rebaixada, então, mais ainda. Só que o Internacional quer usar a segunda divisão para reaproximar-se de seu torcedor. De olho no crescimento do quadro social, estratégias de identificação são repetidas no Beira-Rio.
Logo na primeira rodada da Série B, os jogadores do Inter usaram na camisa o slogan que deve acompanhar o time durante todo 2017: "Nada vai nos separar". Trecho de cântico da torcida, a frase esteve abaixo do símbolo vermelho no uniforme durante a vitória contra o Londrina, por 3 a 0, no último domingo (14).
E foi apenas o primeiro ato do plano de reaproximação da torcida. Está sob análise a criação de uma modalidade de associado com preço mais baixo. A ideia é atrair os aficionados que hoje não têm condições de arcar com os planos existentes. O início das vendas depende da aprovação do comando do clube.
Mas a meta é maior do que o objetivo financeiro. O Inter quer recuperar a identidade do clube e a unidade com os torcedores, além de recompensar o público pelo que ocorreu no fim do ano passado.
Quando beirava o rebaixamento, o Internacional apelou para a torcida, que compareceu. Encheu o Beira-Rio rodada após rodada e viu de perto a derrocada do time. Com a bola rolando, não faltava apoio, assim como pressão depois do apito final. Ao passo que se fazia presente nas cadeiras do estádio, a torcida protestava, às vezes violentamente, após os infortúnios.
A decepção com 2016 se deu também pelo campo. Não era apenas perder, mas mostrar-se apático em relação ao adversário. Por isso, tão logo assumiu o time, Antonio Carlos Zago fez questão de imputar nos atletas um espírito de empenho. E tal situação já foi vista em campo.
"Esperamos contar com o apoio do torcedor. Este é um ano que precisaremos muito deles. Depois de tudo que aconteceu no ano passado. Eles podem ter certeza que vontade nunca vai faltar para esta equipe", disse o técnico na semana passada.
A cada rebaixamento de clube grande, a 'união na dificuldade' fica mais forte. A torcida que muitas vezes cobra, vaia e exige, resolve abraçar seus jogadores e empurrar o clube de volta à elite.
Aconteceu com o Grêmio em 2005. Depois de começar a segunda divisão atuando com portões fechados devido a uma punição em razão de fatos ocorridos na temporada anterior, o rival do Inter recebeu todo carinho de sua torcida no Olímpico. Lotando o estádio em quase todas as partidas, a carência de apoio e a vontade de participar de alguma forma do resgate do clube fez nascer a principal característica dos aficionados tricolores hoje: cantar o jogo todo.
Formou-se, atrás de uma das goleiras do estádio, nas arquibancadas, um movimento espontâneo de gremistas que passaram a adotar características das 'barras' sul-americanas. Mesmo que date de 2001 a criação da torcida, o 'nascimento' da Geral do Grêmio aconteceu ali. Mais tarde ela passaria a ser a maior torcida organizada do clube.
Com o Corinthians o movimento foi semelhante. Em 2008, quando disputou a segunda divisão, o clube paulista ganhou o abraço dos aficionados ao redor do Brasil. Não lotou apenas partidas em casa, mas fora dela foi maioria em quase todos os Estados pelos quais passou. As viagens pelo país também deu aporte financeiro para a recuperação do clube. Foi em 2008 que o plano de sócio-torcedor da equipe foi lançado, alavancando o número de quem contribui mensalmente para padrões jamais vistos na agremiação.
Movido pelo empurrão da torcida, o Corinthians foi muito bem na segunda divisão. Subiu com muita tranquilidade, bem antes do fim do torneio, e hoje é modelo para o Internacional na trajetória de regresso à elite.