Em promessa de campanha à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump disse que, se eleito, “acabaria com a guerra da Ucrânia em 24 horas”. Passados 100 dias de mandato, o presidente se mostra cada vez mais impaciente com a dificuldade de encerrar o conflito que já se estende há três anos entre Rússia e Ucrânia. Mediar um cessar-fogo definitivo no Leste Europeu seria histórico para o país que quer se manter, a todo custo, protagonista no Ocidente.
Nesta quarta (23), os EUA deram um novo ultimato à Rússia e Ucrânia para chegar a um acordo de paz, sob ameaça do país sair da mediação da guerra. O vice-presidente americano, J.D.Vance, declarou que a proposta de cessar-fogo inclui “ceder territórios” e “congelar as atuais linhas territoriais”. A proposta inclui demandas russas como a permanência do controle sobre áreas ocupadas como Crimeia, Donetsk e Kherson, e a proibição de que a Ucrânia entre na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Também nesta quarta, Volodymyr Zelensky reafirmou não aceitar ceder territórios à Rússia. “Não há o que discutir, é a nossa terra.”
A ofensiva russa a Kiev na madrugada da última quinta-feira (24), colocou ainda mais pressão sobre a mediação de Donald Trump, que é frequentemente acusado de favorecer os interesses da Rússia. Zelensky afirmou, após o ataque, não enxergar sinais que Washington esteja de fato pressionando Moscou - ao que Trump respondeu estar colocando “muita pressão” contra a Rússia, e que um acordo entre os países em guerra está perto de ser alcançado.
Segundo o professor de relações internacionais da ESPM São Paulo, Roberto Uebel, a postura dos Estados Unidos quanto à guerra mudou completamente com a nova administração. A ideia de não negociar com o ‘agressor’, tão presente nas falas de Biden e de líderes da União Europeia, não está nas prioridades de Trump.
A retórica protecionista e os cortes de gastos são o novo foco do país, que reconhece que os investimentos americanos na guerra não estão trazendo resultados, muito pelo contrário. “É muito claro o objetivo político dos Estados Unidos de diminuir o financiamento da Ucrânia para forçar uma negociação - forçar com que os ucranianos, e leia-se de passagem também, os europeus, aceitem os termos de um cessar-fogo negociado diretamente com a Rússia”, afirma Uebel.
No entanto, a Rússia não tem pressa para o fim da guerra. É o que indica Eduardo Munhoz Svartman, professor na pós-graduação em Ciência Política e em Estudos Estratégicos Internacionais da UFRGS. “A guerra ainda está em curso e, de forma lenta, mas praticamente ininterrupta nos últimos meses, a Rússia tem avançado em termos de aquisição de territórios. E a Rússia não tem manifestado muita pressa em ir para a mesa de negociação, porque ela está num momento positivo na guerra. Quanto mais tempo levar para negociar, melhor será a sua posição de negociação em relação à Ucrânia e, eventualmente, em relação à Europa também", analisa Svartman.
A ofensiva russa a Kiev na madrugada da última quinta-feira (24), colocou ainda mais pressão sobre a mediação de Donald Trump, que é frequentemente acusado de favorecer os interesses da Rússia. Zelensky afirmou, após o ataque, não enxergar sinais que Washington esteja de fato pressionando Moscou - ao que Trump respondeu estar colocando “muita pressão” contra a Rússia, e que um acordo entre os países em guerra está perto de ser alcançado.
Segundo o professor de relações internacionais da ESPM São Paulo, Roberto Uebel, a postura dos Estados Unidos quanto à guerra mudou completamente com a nova administração. A ideia de não negociar com o ‘agressor’, tão presente nas falas de Biden e de líderes da União Europeia, não está nas prioridades de Trump.
A retórica protecionista e os cortes de gastos são o novo foco do país, que reconhece que os investimentos americanos na guerra não estão trazendo resultados, muito pelo contrário. “É muito claro o objetivo político dos Estados Unidos de diminuir o financiamento da Ucrânia para forçar uma negociação - forçar com que os ucranianos, e leia-se de passagem também, os europeus, aceitem os termos de um cessar-fogo negociado diretamente com a Rússia”, afirma Uebel.
No entanto, a Rússia não tem pressa para o fim da guerra. É o que indica Eduardo Munhoz Svartman, professor na pós-graduação em Ciência Política e em Estudos Estratégicos Internacionais da UFRGS. “A guerra ainda está em curso e, de forma lenta, mas praticamente ininterrupta nos últimos meses, a Rússia tem avançado em termos de aquisição de territórios. E a Rússia não tem manifestado muita pressa em ir para a mesa de negociação, porque ela está num momento positivo na guerra. Quanto mais tempo levar para negociar, melhor será a sua posição de negociação em relação à Ucrânia e, eventualmente, em relação à Europa também", analisa Svartman.
Para Uebel, a nova relação da Rússia com os Estados Unidos significa uma força de legitimidade na invasão da Ucrânia, apoiada pela maior potência do mundo. Também, um retorno do país ao sistema político internacional e ao sistema comercial do Ocidente. “A Rússia volta a poder negociar com o restante do mundo, com a flexibilização e relaxamento das sanções”, afirma o professor.

Líderes da Ucrânia (Volodymyr Zelensky), Estados Unidos (Donald Trump), França (Emmanuel Macron), e Reino Unido (Keir Starmer) reuniram-se no funeral do Papa Francisco
UKRAINIAN PRESIDENTIAL PRESS SERVICE/AFP/JC
Europa escanteada
Fora das discussões centrais de negociação, e com o corte de apoio financeiro à OTAN e à Ucrânia, a União Europeia se vê em segundo plano, precisando reformular estratégias diplomáticas e até de segurança para o próprio território. “É a primeira vez na história, pelo menos desde o século XVI e das grandes navegações, que os europeus não estão ditando as regras do jogo, não estão decidindo os rumos das relações internacionais”, indica Uebel.
O professor destaca a necessidade europeia de diminuir dependências com os Estados Unidos.“ Essa [nova] política de defesa seria financiada pelos próprios europeus. Justamente porque hoje chamam os Estados Unidos de um aliado não confiável, enxergaram o que aconteceu na Ucrânia e se viram extremamente vulneráveis. Que se, por exemplo, Vladimir Putin decidir atacar qualquer país europeu, isso seria possível”.
O fim da guerra pode demorar mais tempo do que é do desejo de Donald Trump, e o lado a ter de fazer mais concessões futuramente parece ser o ucraniano e o europeu. O que a nova relação entre a Rússia e os Estados Unidos significará para a ordem mundial nos próximos meses e anos ainda está sob análise constante dos pesquisadores das relações internacionais. “Eu diria que se trata do enfraquecimento do multilateralismo, ou seja, as organizações multilaterais que têm se tornado cada vez menos importantes para decidir coisas relevantes, especialmente no campo da segurança, e um fortalecimento, talvez, de um ambiente mais multipolar. Temos um um sistema internacional muito mais complexo hoje do que tínhamos 10, 15 anos atrás", explica Svartman.
O professor destaca a necessidade europeia de diminuir dependências com os Estados Unidos.“ Essa [nova] política de defesa seria financiada pelos próprios europeus. Justamente porque hoje chamam os Estados Unidos de um aliado não confiável, enxergaram o que aconteceu na Ucrânia e se viram extremamente vulneráveis. Que se, por exemplo, Vladimir Putin decidir atacar qualquer país europeu, isso seria possível”.
O fim da guerra pode demorar mais tempo do que é do desejo de Donald Trump, e o lado a ter de fazer mais concessões futuramente parece ser o ucraniano e o europeu. O que a nova relação entre a Rússia e os Estados Unidos significará para a ordem mundial nos próximos meses e anos ainda está sob análise constante dos pesquisadores das relações internacionais. “Eu diria que se trata do enfraquecimento do multilateralismo, ou seja, as organizações multilaterais que têm se tornado cada vez menos importantes para decidir coisas relevantes, especialmente no campo da segurança, e um fortalecimento, talvez, de um ambiente mais multipolar. Temos um um sistema internacional muito mais complexo hoje do que tínhamos 10, 15 anos atrás", explica Svartman.