O aguardado processo de transição do controle do aeroporto Salgado Filho para o grupo alemão Fraport será dividido em três etapas. A primeira consiste em apresentar para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) o planejamento para assumir no lugar da Infraero a operação do complexo, em um segundo momento haverá a gestão compartilhada da estrutura por parte da Fraport e da Infraero e, finalmente, o concessionário assumirá sozinho a responsabilidade das ações. Esse último passo, provavelmente, deve ser atingido no segundo trimestre de 2018.
O gerente de projeto da Fraport, Andreas Montag, ressalta que o processo é flexível, porque a empresa tem que se adaptar à realidade local. Neste momento, o grupo espera pela assinatura do contrato de concessão, que está prevista para ocorrer no dia 28 de julho. Sobre o total de investimento que deverá ser empregado no aeroporto gaúcho, Montag comenta que serão necessárias mais algumas semanas para precisar o montante que será aplicado. O executivo ressalta que há um cronograma a ser cumprido e esses aportes serão iniciados rapidamente.
A contrapartida em investimentos prevista em contrato é de pelo menos R$ 1,9 bilhão. Os recursos contemplarão, entre outros empreendimentos, a ampliação da pista, que tem hoje 2.280 metros e será aumentada em mais 920 metros. Montag recorda que para expandir a estrutura ainda é necessário realocar algumas famílias que estão morando na região.
Montag revela que a Fraport tinha conhecimento sobre o projeto do aeroporto 20 de Setembro (complexo previsto para ser desenvolvido no município de Portão) quando decidiu entrar na concorrência pelo Salgado Filho. Conforme o executivo, a companhia viu no empreendimento da Capital um potencial grande o suficiente para justificar o interesse. O representante da Fraport participou nessa quinta-feira da quinta edição do Fórum Internacional de Infraestrutura e Logística, realizada pela Câmara Brasil-Alemanha no Novotel Três Figueiras, em Porto Alegre.
Outro palestrante do evento foi o diretor da Airship do Brasil Indústria Aeronáutica, Paulo Vicente Caleffi. A empresa finalizou há cerca de 15 dias o protótipo do seu dirigível de carga. O modelo foi montado em São Carlos (SP), tem 60 metros de comprimento e utiliza gás hélio para alçar voo. O executivo reitera que se trata de um equipamento experimental. Primeiramente, a companhia desenvolverá veículos para transportar 1,5 tonelada, depois seis toneladas e, posteriormente, 30 toneladas. Caleffi estima que o dirigível cargueiro, com capacidade para 30 toneladas, custará aproximadamente US$ 20 milhões. Entre o perfil de cargas propício para esse transporte aéreo, o diretor da Airship cita a movimentação de pás eólicas, retirada de madeira em florestas e a instalação de torres de transmissão em locais inóspitos.
O diretor da Aeromóvel do Brasil, Marcus Coester, foi outro participante do seminário. O empresário comentou sobre as obras de implantação da primeira etapa da linha 1 do aeromóvel em Canoas, que terá 4,6 quilômetros e sete estações, desde a Brigada Militar, na avenida 17 de Abril, bairro Guajuviras, até a estação Mathias Velho da Trensurb. Nessa fase, o investimento no projeto é estimado em R$ 287 milhões. Mais adiante, a malha do aeromóvel no município deve chegar a 18 quilômetros.
Coester detalha que entre os trabalhos feitos já houve o deslocamento da rede de água e a compra de equipamentos com empresas como a Marcopolo e Siemens. Além disso, trilhos foram adquiridos, mas como a obra civil atrasou, ainda não foi possível fazer a montagem.
Governo do Estado mantém meta de conceder rodovias ainda neste ano
Apesar de já estar ingressando na segunda metade de 2017, o Executivo gaúcho continua com o plano de repassar para a iniciativa privada estradas estaduais ainda neste ano. O secretário dos Transportes, Pedro Westphalen, afirma que o objetivo do governo é fazer pelo menos um edital para concessão de rodovias antes de ingressar em 2018.
"Mas, não temos pressa, temos uma consultoria trabalhando para determinar os trechos viáveis", adianta o dirigente. Westphalen diz que quem anunciará as vias a serem repassadas será o governador José Ivo Sartori. Serão concessões de 30 anos, renováveis por mais 30 anos. Apesar do interesse em encaminhar para a iniciativa privada a gestão de estradas, outra preocupação mais urgente tem incomodado o Estado. Nos últimos dias, devido às chuvas, Westphalen estima em cerca de R$ 240 milhões os danos em estradas e pontes. O secretário salienta que há 70 frentes de trabalho do Daer espalhados pelo Estado hoje, fazendo operações tapa-buraco. "O bom era que pudéssemos fazer uma recuperação para durar mais tempo, mas precisamos ver o que há de dinheiro para isso", pondera.
Westphalen também compareceu ao Fórum de Infraestrutura e Logística da Câmara Brasil-Alemanha, assim como a CEO da DHL Global Forwarding Brasil, Cindy Haring. A executiva previu mais volatilidade no mercado logístico nos próximos anos. Outros pontos que influenciarão o setor são as mudanças climáticas e a necessidade do agentes do segmento se adaptarem a um cenário que exigirá menores impactos. Cindy adianta que uma das soluções que será cada vez mais aproveitada são os veículos elétricos.
Já o diretor-presidente do Terminal de Contêineres (Tecon) Rio Grande, Paulo Bertinetti, defendeu o uso das hidrovias. O dirigente argumenta que uma ação que contribuirá para intensificar o fluxo de cargas pelo modal é o aumento do número de embarcações. O empresário sugere que o governo disponibilize mecanismos de incentivo ao setor como, por exemplo, a liberação de recursos de bancos de fomentos para a construção de novos navios.
O diretor comercial do Tecon Rio Grande e coordenador do Comitê de Logística da Câmara Brasil-Alemanha, Renê Wlach, por sua vez, chamou a atenção para a continuidade do problema da falta de contêineres reefers (equipamentos isolados termicamente, que podem manter uma baixa temperatura no seu interior para preservar produtos perecíveis) no mercado. Em contrapartida, Wlach informa que a cabotagem cresceu 9% neste primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano passado. O dirigente justifica esse desempenho lembrando que o consumo nas regiões Norte e Nordeste do País de produtos como arroz, leite e conservas permanece elevado.
Na área de legislação, o diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Adalberto Tokarski, argumentou que a regularização das áreas portuárias será avaliada caso a caso. No porto do Rio Grande, o tema impacta terrenos aproveitados por grupos como os estaleiros Rio Grande (da Ecovix), QGI e EBR (em São José do Norte) e por companhias como Braskem, Petrobras, GM e Amoniasul. Resumidamente, são acordos vencidos ou cuja a forma de contratação é contestada.
Tokarski adianta que não há um prazo estipulado para que as empresas resolvam suas pendências. "O que a Antaq quer é solução, mas é lógico que tem todo um processo legal e uma agenda que vamos cumprindo", argumenta. O representante da agência recorda que, no caso dos estaleiros, a entidade teve parcimônia, pois sabia da condição de geração de empregos desses empreendimentos.