Mesmo que percentualmente as UTIs ainda não estejam 100% ocupadas em Porto Alegre, a gestão da Saúde já trabalha, na prática, com capacidade esgotada. Sem ter como acomodar tanto paciente na atual
velocidade de agravamento dos casos na pandemia, os gestores transformaram as emergências no grande amortecedor da demanda, virando quase UTIs.
"À medida que se aproxima dos 100%, ter 95% é só uma questão do leito vagar e ser ocupado, porque já tem outro paciente entubado na emergência vindo. É como trabalhar com capacidade máxima de todas as UTIs", explica o médico Jorge Osório, diretor de Regulação da Secretaria de Saúde da Capital.
Para ter uma expansão de capacidade para assistência de casos graves, também salas de recuperação e de pós-anestesia entram no esforço.
"Serão duas a três semanas de tensão máxima", antevê Osório, já entrando neste período de muita pressão por atendimento. O nível de ocupação das UTIs é um dos fatores que colocou a
Capital em bandeira preta no mapa preliminar do distanciamento controlado. Nesta segunda-feira (22), deve ser validado o mapa final. Pelo menos
10 regiões entraram com recursos, dispositivo previsto no sistema estadual.
As Utis do Estado estão com 85% de ocupação e apresentam maior número de pacientes em toda a pandemia. São 1.092 internados. As internações clínicas por Covid-19 são as que crescem de forma mais acelerada e são quase 2 mil casos.
Para se ter uma ideia da dimensão da demanda, no fim da noite desse domingo (21), 760 dos 815 leitos totais operacionais das UTIs tinham doentes, sendo que 448 deles eram de casos Covid (338) e suspeitos (57).
Mas havia 100 pacientes nas emergências esperando vagas nas UTIs, segundo 42 positivos para o novo coronavírus, 34 em ventilação mecânica e 24 com outras doenças. Ou seja, a demanda maior é ligada a complicações da crise sanitária. Os dados são do painel das UTIs, atualizado diariamente. Na manhã desta segunda, os hospitais vão lançar os novos dados, que podem vir piores ou não.
"É um momento único. Estamos com os sinais vermelhos possíveis ligados tentando ordenar da melhor maneira (o fluxo). Serão duas a três semanas de tensão máxima, que cede depois, como aconteceu em julho e dezembro", previne o gestor.
Mas a realidade en fevereiro de 2021 não é a mesma dos outros dois estágios. É pior. "Agora a curva vertical de subida da ocupação das UTIs é muito mais rápida. São muitos (pacientes) ao mesmo tempo", justifica Osório.
A estratégia que norteia a operação na rede de saúde reflete o esgotamento de leitos intensivos. Para administrar este colapso, foram estabelecidas condutas. Nenhum paciente é transferido de um hospital para outro com UTI. A porta de entrada é a emergência.
"É difícil aceitar um paciente de fora porque as emergências já estão pedindo leitos de UTIs."
O diretor de Regulação explica que a coordenação da área monitora na rede os pacientes mais graves e menos assistidos para levar às emergências dos hospitais, como os que estão em UPAs ou prontos atendimentos, que também estão com grande demanda e acabam concentrando mais casos por mais tempo por que não se consegue vagas em hospitais.
"Não recusamos nenhum paciente. Doente de alta complexidade, mais grave e menos assitido que está em uma UPA vamos priorizar", descreve. Além disso, para "subir" ao leite de UTI as equipes também elegem os casos com demandas mais críticas e só disponiveis nos centros de cuidados intensivos.
"Não quer dizer que na emergência o paciente esteja mal atendido. Ventilação mecânica e oxigênio têm, mas hemodiálise contínua é só na UTI. Estes casos sobem primeiro", exemplifica.
O gestor diz que o trabalho diário hoje é alocar "o máximo de recursos" (leitos nas unidades) que se consegue.
Três indicadores acenderam as luzes vermelhas, como citou Osório, e foram destacados pelo Gabinete de Crise do Estado para a região de Porto Alegre, que
inclui Cachoeirinha, Gravataí, Viamão e Glorinha. O número de novas hospitalizações por Covid-19 cresceu 41,7% em sete dias, até a sexta-feira (19), puxados pela alta de 42,6% em leitos clínicos. Na mesma comparação, os internados em UTIs por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) subiram 20,4%, e os confirmados da doença nas unidades, 16,3%.
Já o número de óbitos teve queda de 24,2%, o que não impediu a cor preta.