Tão logo a Justiça da Coreia do Sul confirmou a destituição de Yoon Suk Yeol (64) – quatro meses depois de ele decretar lei marcial (medida que restringe direitos civis e fecha o Parlamento) –, líderes de diferentes espectros políticos do país asiático se apressaram para ocupar qualquer possibilidade de vácuo no poder. A Corte Constitucional da Coreia do Sul declarou o impeachment do presidente nesta sexta-feira (4), pelo horário local (noite de quinta-feira, 3, no horário de Brasília).
Agora, a nação se prepara para uma nova corrida presidencial a toque de caixa, cujo pleito deverá ocorrer até o começo de junho, e lida com um ambiente ainda tumultuado: a tentativa de autogolpe desencadeou a maior crise política em décadas na Coreia do Sul, cujos efeitos continuam mesmo após o impeachment de Yeol.
O atual líder nas pesquisas, com folga, é o opositor Lee Jae-myung (61), do Partido Democrata, que em 2022 foi derrotado por Yeol com uma diferença de apenas 0,73 ponto percentual. No entanto, seu histórico tampouco é livre de controvérsias: no ano passado, ele foi considerado culpado de fazer declarações falsas durante a disputa, numa decisão posteriormente anulada por um tribunal de apelação. Entretanto, o caso não está encerrado, e Jae-myung corre o risco de ser excluído da disputa. O canditato ainda enfrenta outros julgamentos criminais, que incluem acusações de suborno e favorecimentos a empresários do ramo imobiliário, mas especialistas dizem acreditar que nenhum deles será resolvido em breve.
Jae-myung, que é parlamentar, fez um discurso na Assembleia Nacional em tom de campanha, logo após a decisão da Justiça que confirmou o impeachment de Yeol. Ele afirmou que o país vive um "novo começo" e prometeu esforços por crescimento e desenvolvimento para que todos os coreanos vivam em um ambiente seguro e pacífico.
Jae-myung foi um dos políticos que correu à Assembleia na noite de 3 de dezembro, quando Yeol declarou lei marcial pela primeira vez desde o fim da ditadura no país, em 1987. O texto suspendia atividades políticas e liberdades civis e levou militares às ruas de Seul, que chegaram a invadir o Parlamento, mas recuaram. A medida foi derrubada pelos parlamentares, que dias depois aprovaram o impeachment do presidente.
Ao chancelar a destituição de Yeol nesta sexta-feira, o Tribunal Constitucional apontou que ele desrespeitou a Constituição, interferiu na independência do Judiciário e violou os direitos básicos dos sul-coreanos. Suas ações, disseram os juízes, representaram um risco à democracia.
O agora ex-presidente disse que o decreto foi "necessário", devido ao impasse político e ameaças de "forças antiestatais" simpáticas à Coreia do Norte. Essas declarações, segundo analistas, aprofundaram a divisão política em um país já polarizado. Nos últimos meses, multidões foram às ruas em manifestações contrárias e favoráveis à destituição de Yeol. Na sexta, 14 mil policiais foram mobilizados para coibir atos de violência após o pronunciamento do tribunal.
O opositor Jae-myung é um sobrevivente da violência política. Em janeiro do ano passado, ele foi esfaqueado no pescoço enquanto respondia a perguntas de jornalistas e precisou passar por cirurgia. Não à toa, a confirmação do impeachment de Yeol tem sido descrita como necessária à ordem constitucional e fundamental à democracia.
Atrás de Jae-myung nas pesquisas de intenção de voto, aparece Han Dong-hoon (51). Conservador, ele é do partido Poder do Povo, o mesmo de Yeol, mas não apoiou a lei marcial anunciada pelo então presidente. Dong-hoon é popular entre os eleitores conservadores moderados, mas enfrenta críticas dos apoiadores de Yeol, que o acusam de trair o próprio partido e de permitir o impeachment do presidente pela Assembleia Nacional.
Outra candidatura especulada é a do também conservador Kim Moon-soo (73), atual ministro do Trabalho, que criticou a prisão de Yeol e as audiências conduzidas pelo Tribunal Constitucional. Devido à idade mais avançada, porém, ele tem dito que não pretende concorrer (os nomes da disputa não foram oficializados).
Até as eleições, a Coreia do Sul será liderada por Han Duck-soo, primeiro-ministro que agora exerce a função de presidente interino. Em dezembro, ele próprio foi alvo de impeachment devido à recusa em nomear os três juízes que preencheriam as vagas do Tribunal Constitucional, mas o processo foi posteriormente anulado pela Justiça.
Segundo um porta-voz da comissão eleitoral do país, Duck-soo e o chefe da comissão concordaram que 3 de junho seria uma boa data para o pleito. A data, porém, não havia sido oficializada. Até lá, a turbulência política deverá permanecer. Indiciado por insurreição, Yeol ainda enfrenta o risco de prisão perpétua ou até mesmo de pena de morte, caso seja considerado culpado, embora execuções não acontecem no país asiático há décadas. O agora ex-presidente também está proibido de viajar ao exterior.
Agências