Enquanto o ritmo de crescimento de pacientes em unidades de terapia intensiva se mantém acelerado, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) abre nesta sexta-feira (26) mais vagas. A unidade exclusiva para Covid-19, que fica no novo anexo do hospital, alcança 61 leitos e deve chegar a 70 até a semana que vem. A pressão por vagas em UTIs fez a Capital
ingressar na bandeira vermelha do distanciamento controlado.
Os novos leitos - inicialmente, o Clínicas infirmou ao Jornal do Comércio que seriam dez vagas, mas houve revisão do número nesta sexta -, vão dar um alívio momentâneo. O HCPA já tinha aberto dez vagas no fim de semana passado, passando de 46 a 56 camas, com toda a estrutura de suporte, como ventilador mecânico.
Segundo o painel de UTIs, monitorado pela Secretaria Municipal da Saúde, são 132 doentes, sendo 199 confirmados para a doença e 23 suspeitas nas unidades nesta sexta. O número de confirmados é 150% maior do que o do começo de junho, quando havia 44. A partir daí começa a disparar a ocupação, acionando o primeiro alerta,
dado pelo prefeito Nelson Marchezan Júnior.
Pelo acompanhamento da secretaria, é possível perceber que, dessa quinta-feira (25) para esta sexta, a variação para mais casos de Covid-19 internados reflete a confirmação das suspeitas.
O Hospital Conceição, que abriu mais 16 vagas esta semana, soma 27 doentes, apenas um deles é suspeita. Logo depois vem o Hospital Moinhos de Vento, com 17 casos - sendo 13 positivos de Covid-19.
"Serão quase 20 leitos em pouco mais de sete dias", resume o diretor médico do HCPA. A meta é chegar a 105 vagas no novo anexo, capacidade total prevista, e cuja instalação foi acelerada pela pandemia.
Com o ritmo de ocupação, os leitos podem rapidamente esgotar. São quase 200 leitos exclusivos para Covid-19 na Capital. Dos pacientes que são atendidos na Capital no SUS, a proporção é de 40% residentes na Capital e 60% do Interior. Isso faz parte dos compromissos da prefeitura porto-alegrense, que recebe verbas para ter mais estrutura e dar conta da demanda vinda de todo o Estado.
Clínicas sofre com carência de médicos para abrir mais vagas
Mas um gargalo pode frustar a velocidade da oferta de vagas que a demanda de enfermos está pedindo: a carência de profissionais. Faltarão abrir 35 leitos, e a maior dificuldade é conseguir médicos intensivistas, admite Berger. "Queremos completar a capacidade até o fim de julho, mas estamos enfrentando arduamente a questão de pessoal", admite. "Se 'amanhã' surgisse todo o pessoal que precisamos, abriríamos mais vagas."
Segundo Berger, a demanda por contratações aumentou muito para médicos de Medicina Intensiva. Uma barreira para que mais candidatos da área se apresentem é o contrato temporário. O HCPA obteve aval do Ministério da Educação para as contratações, mas que não são permanentes. Vão atender ao período da pandemia. "Não sei se vamos conseguir utilizar as vagas oferecidas pelo governo. Isso é um problema que não depende da gente", lamenta.
Para lidar com a dificuldade, o HCPA passou a fazer malabarismos, como deslocar pessoal de UTIs de outras áreas não Covid-19 para o núcleo de cuidados de casos da nova doença. Problema que isso impacta o atendimento de pacientes que passam por cirurgia ou têm outras complicações. O hospital reduziu a 30% a produção de cirurgias, mantendo apenas agendas para procedimentos essenciais, em áreas como oncologia ou recuperação funcional de órgãos, esclarece o diretor médico.