Desde o início da pandemia, 19 linhagens diferentes do coronavírus já foram identificadas no Rio Grande do Sul. Entre elas, está a variante P1, que causou a
primeira morte de um gaúcho em fevereiro, em Gramado, e já teve casos confirmados em
outras localidades recentemente, incluindo
Porto Alegre. De acordo com o terceiro Boletim Genômico da vigilância do SARS-COV 2 no Estado, divulgado nesta quinta-feira (4), foram três tipos de vírus mais frequentes em solo gaúcho desde o ano passado, os mesmos identificados em todo o Brasil.
Elaborado pela Vigilância Genômica do SARS-COV-2 no RS, do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS) da Secretria Estadual da Saúde, o estudo aponta que mais de 260 amostras coletadas no Estado foram enviadas para a Rede Genômica do Ministério da Saúde. As linhagens diferentes identificadas foram sequenciadas no Cevs e por outras instituiçoes gaúchas, como o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e a Universidade Feevale. Essa avaliação detalhada da circulação das linhagens pelas diferentes regiões é, de acordo com o boletim, considerada fundamental para a identificação de variações na transmissibilidade e gravidade da Covid-19, que também influencia na elaboração futura de vacinas e medicamentos.
Para Tatiana Gregianini, bióloga especialista em Saúde e responsável pelo diagnóstico de vírus respiratórios do Laboratório Central do Estado (Lacen/RS) do CEVS, o trabalho científico presta um serviço essencial para a saúde pública nesse momento de enfrentamento e
agravamento da pandemia."O boletim compila as informações sobre as linhagens circulantes no RS desde o início da pandemia, em março de 2020, e ainda traz informações sobre a circulação comunitária da variante P1 e das outras linhagens que continuam ccirculando em todas as regiões do Estado", comenta.
O estudo traz atualização da circulação do coronavírus no período entre novembro de 2020 até a oitava semana epidemiológica de 2021, e foi finalizado na quarta-feira (3). Os dados apresentados incluíram 372 genomas do vírus SARS-CoV-2, agente da Covid-19, 76 deles sequenciados no Cevs.
De acordo com os pesquisadores à frente do levntamento, as mutações entre os vírus são extremamente frequentes e, de forma geral, não representam alteração no comportamento ou na ação do vírus. Assim, as diferentes linhagens são identificadas pelas combinações entre as mutações. "Importante destacar que o número de linhagens, bem como a classificação das mesmas, pode variar entre as diferentes edições deste boletim. Uma vez que as bases de dados e ferramentas utilizadas para determinar as linhagens de cada sequência são constantemente atualizadas", explicam no material.
Estudo apontou três tipos de vírus mais frequentes no RS desde o ano passado. Fotos: SES/Divulgação/JC
Segundo o boletim, apesar do aumento de linhagens circulantes, apenas algumas preocupam em relação a alterações no comportamento do vírus, e três delas geram maior alerta: a B.1.1.7, popularmente conhecida como variante do Reino Unido, detectada no Brasil apenas em São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e no Distrito Federal; a B.1.351, conhecida como variante da África do Sul, e sem registro no Brasil; e a P.1, que no Brasil é chamada de "variante de Manaus”, e já foi identificada no Rio Grande do Sul, com maior poder de transmissibilidade e a capacidade de contaminar pessoas previamente infectadas pelo SARS-CoV-2.
É essa a variante que teve primeiro caso detectado em Gramado em 12 de fevereiro, identificado por transmissão local na cidade serrana. Recentemente, o Laboratório de Pesquisa em Resistência Bacteriana do HCPA confirmou 25 amostras pertencentes à linhagem P1 entre pacientes atendidos no hospital. Para os testes, foram selecionadas amostras com maior probabilidade da presença desta variante, como pessoas com contato com pacientes vindos no Norte do País e pacientes mais jovens e com carga viral alta, realidade que vem aumentando nas últimas semanas.
Entre as amostras identificadas, foi identificada a transmissão comunitária dessa linhagem também na Região Metropolitana de Porto Alegre. Junto à identificação de um considerável número de amostras pertencentes a esta linhagem, em nenhum dos casos há registro de contato com pacientes transferidos da região Norte, o que comprova a transmissão comunitária da P1.
O estudo mostra ainda que, dentre as mais de 32 linhagens do novo coronavírus já identificadas no Brasil, conforme dados da Rede Genômica da Fiocruz, é possível notar o surgimento das linhagens P2 e P1 no terceiro e quarto trimestres de 2020. No Estado, a introdução da variante P1 se deu no mês de janeiro de 2021, com aumento de sua presença já a partir de fevereiro.
Principais variantes do novo coronavírus
Apesar do elevado número de linhagens circulantes, três delas preocupam quanto a alterações no comportamento do vírus:
B.1.1.7 – Popularmente conhecida como "variante do Reino Unido”
Detectada pela primeira vez em setembro de 2020 no Reino Unido, tem uma maior transmissibilidade, uma possível maior severidade da doença e pode escapar dos
anticorpos produzidos por algumas vacinas. No Brasil, há registro dessa variante apenas no Distrito Federl, Goiás, São Paulo e Rio de Janeiro.
B.1.351 – Popularmente conhecida "variante da África do Sul”
Detectada pela primeira vez em outubro de 2020 na África do Sul, tem uma maior transmissibilidade, e alguns estudos já demonstraram uma possível diminuição da eficácia de diferentes vacinas contra essa variante. Não há registro de identificação no Brasil.
P.1 - Popularmente conhecida como "variante de Manaus”
Inicialmente detectada em novembro de 2020, em Manaus (AM). Estudo recente indica que essa linhagem provavelmente possua maior transmissibilidade e capacidade de infecção. Atualmente há registro dessa variante em pelo menos dez estados brasileiros, incluindo o Rio Grande do Sul, com o primeiro caso detectado em Gramado, em 12 de fevereiro, e atribuído à transmissão local.
Já foram identificadas pelo menos 25 amostras da linhagem entre pacientes atendidos no HCPA, demonstrando a ocorrência de transmissão comunitária também na Região Metropolitana de Porto Alegre.
Fonte: Boletim Genômico da vigilância do SARS-COV 2 no Estado