Março de 2021 deve ficar marcado como o pior mês da pandemia no Rio Grande do Sul. Isso na melhor das hipóteses - se o
cenário não continuar se agravando. O Estado já registrou mais óbitos este mês do que em qualquer outro desde o início da pandemia. Foram 2.360 vidas perdidas em apenas 15 dias, segundo dados da Secretaria da Saúde (SES/RS). Em média, 157 vidas foram perdidas por dia - 1 óbito a cada 10 minutos.
Para enfatizar a importância de frear a circulação do coronavirus, o governo do Estado realizou nesta terça-feira (16) o primeiro Papo Científico, uma Live com especialistas para tirar as dúvidas da população. O principal assunto discutido no encontro foi o impacto da alta circulação da variante P1 do coronavírus (primeiramente registrada em Manaus) sobre a saúde da população gaúcha.
Para os especialistas não resta dúvida de que a presença da variante com maior potencial de transmissão do que as demais presentes no território gaúcho está intimamente relacionada ao aumento na lotação de UTIs. Mas chama atenção que o aumento no número de casos graves não está necessariamente relacionado a uma maior letalidade da mutação. O que há é um número ainda inimaginável de pessoas contaminadas.
É mais gente se contaminando e, por isso, mais gente ficando doente. São pessoas assintomáticas que seguem circulando com o vírus. Os especialistas creditam a essa dinâmica o fato de os leitos ocupados por jovens com Covid-19 serem cada vez mais comuns.
Em março, foram registrados 609 mortes de pessoas abaixo de 60 anos e outras 1.751 de indivíduos acima dessa faixa etária Fonte: SES/RS / Divulgação / JC
A diretora do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), Cynthia Goulart Molina-Bastos, ressalta: "se há um número alto de jovens nos hospitais hoje, é porque há muito mais jovens transmitindo". Por isso, as medidas mais duras adotadas no Estado para conter a circulação de pessoas são fundamentais.
Não se trata de penalizar o comércio ou os serviços, diz a especialista. "Trata-se de evitar o encontro entre as pessoas, de frear o avanço do vírus. Não tem mais como saber quem faz parte desse grupo gigante que está transmitindo e sem apresentar sintomas".
O farmacêutico da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Estadual de Saúde (SES/RS), Eduardo Viegas da Silva, acredita que o cenário ainda é reflexo do afrouxamento nos cuidados entre o final do ano passado, principalmente a partir de outubro, e o mês de janeiro - "quando as UTIs não estavam super lotadas como agora e os números mostravam uma certa estabilização".
"Foi justamente neste momento que chegou a variante P1 e a situação se agravou", afirma. Por isso, a única saída agora é manter as restrições, afirmam.