Concessionária fez aporte de R$ 20,5 milhões no primeiro ano e projeta R$ 24 milhões para 2023 em espaço turístico na cidade de Cambará do Sul
/JUNIOR CASTAGNA/DIVULGAÇÃO/JC
Toda a biodiversidade e riquezas naturais presentes no Parque Estadual do Turvo, localizado no município de Derrubadas, no noroeste do Rio Grande do Sul, contrastam com a simplicidade do povo e do pequeno município interiorano. Com a infraestrutura ainda em desenvolvimento, os turistas que viajam até a cidade podem encontrar dificuldades na hospedagem, que até o momento acontece apenas em cabanas ou campings nos balneários da região. Mas, segundo a Secretaria de Turismo local, a expectativa é de novos investimentos e mudanças nos os próximos anos.
Em agosto deste ano, o Parque Estadual do Turvo foi concedido à iniciativa privada pelo governo gaúcho para a empresa Três Fronteiras Navegação e Turismo, no período de 30 anos. A parte concedida, por R$ 125 mil, está dentro do espaço destinado para visitação e turismo, que corresponde a 0,13% da área total do parque.
A secretária de turismo de Derrubadas, Angelita Bomm, explica que a iniciativa pode trazer melhorias na infraestrutura e novas atrações e atividades dentro do parque, como transporte interno e passeios de barco.
Além disso, de acordo com ela, esses investimentos fizeram a população começar a enxergar o potencial turístico da própria cidade, algo que, há alguns anos, não era tão valorizado. "Precisamos de mais infraestrutura e de mais investimento. Estamos com uma expectativa positiva nesse sentido. Em breve, estaremos trabalhando nessa transição. Isso vai somar com o público local", afirma.
A empresa vencedora pertence ao grupo paranaense Macuco Safari, também detentor da concessão dos passeios de navegação do Parque Nacional do Iguaçu (PR), e da empresa Três Fronteiras, responsável pela operação de catamarãs nos rios Iguaçu e Paraná.
Um caso semelhante ao do município de Derrubadas ocorreu com o turismo em Cambará do Sul. A cidade de pouco mais de 6 mil habitantes, localizada nos Campos de Cima da Serra, há cerca de três horas de Porto Alegre, é conhecida como a Terra dos Cânions. Em 2021, o Parque Nacional Aparados da Serra e o Parque da Serra Geral também foram concedidos à iniciativa privada para a empresa Urbia Cânions Verdes, que agora é responsável pela revitalização, modernização, operação e manutenção dos locais.
Algumas das novidades discutidas desde a concessão são a implantação de uma passarela de arvorismo, levantamento de voo de balão na beira do cânion, e sky bike. Além disso, o valor do ingresso e o tempo de permanência no parque foram alterados no ano passado. Antes da concessão, o acesso era gratuito. Hoje, os ingressos variam entre R$ 50,00 e R$ 80,00 por pessoa para um dia de visitação. O estacionamento de veículos também passou a ser cobrado, pelo valor de R$ 5,00 para motocicletas, R$ 10,00 para carros e R$ 50,00 para ônibus.
O Parque Nacional dos Aparados da Serra abriga o maior cânion da América Latina, o Itaimbezinho, que possui aproximadamente 700 metros de profundidade e seis quilômetros de extensão. Além de visualizar os cânions e poços naturais, os turistas encontram ali trilhas e cachoeiras, e podem realizar cavalgadas. O local recebe cerca de 250 mil visitantes a cada ano.
O turismo em Cambará do Sul surgiu por volta dos anos 1990, mas ganhou força a partir de 2015, quando um programa da Rede Globo de Televisão foi gravado na região. Hoje, boa parte da população local trabalha diretamente com o turismo, em pequenas empresas de hospedagem, gastronomia e agências de viagem. A projeção é que, com os novos investimentos, o turismo passe a ser o grande pagador de impostos do município.
Assim como no Noroeste do Estado, nos Campos de Cima da Serra o período de pandemia também atraiu novos turistas, que buscavam alternativas de passeios mais seguros em meio às incertezas trazidas pela Covid-19.
"Muitas pessoas buscaram viajar para destinos do Brasil. Isso nos beneficiou de certa forma. As pessoas buscaram estar em contato com a natureza em um espaço onde não tivessem contato direto com o público. Tivemos um nicho de visitantes que não costuma viajar internamente", explica o secretário de turismo de Cambará do Sul, Fabiano Souza da Silva.
De acordo com ele, nos fins de semana, os moradores de Porto Alegre e região são os principais visitantes, além de habitantes de Santa Catarina. Já de fora da região, São Paulo é a cidade que mais visita Cambará do Sul.
Parque Estadual do Turvo passa por reinvenção no pós-pandemia
Trilhas dão acesso a um santuário da vida selvagem, que serve de abrigo para cerca de 600 espécies diferentes de animais, aponta levantamento realizado
/Turismo Derrubadas/Reprodução/JC
Durante os anos de 2020 e 2021, com a pandemia do novo coronavírus, o turismo foi um dos setores mais afetados pelo isolamento social. Devido ao fechamento de fronteiras, redução de malhas aéreas e restrições em lugares fechados, os amantes de viagens precisaram se reinventar. Os turistas gaúchos passaram a explorar ainda mais o próprio Estado, valorizando passeios perto de casa e em lugares ao ar livre, consolidando o chamado ecoturismo ou turismo de natureza, tendência que vem se destacando no pós-pandemia.
Ao falar em turismo gaúcho, os famosos destinos na Serra, como Gramado e Canela, costumam ser os mais populares. Porém, o Rio Grande do Sul possui, em todas as suas regiões, atrações que proporcionam diferentes experiências, mesmo que em destinos ainda não tão conhecidos. É o que afirma o secretário de Turismo do Rio Grande do Sul, Raphael Ayub.
De acordo com ele, nas 27 regiões turísticas é possível encontrar atrações de ecoturismo das mais variadas ramificações. Além disso, o secretário explica que, com a pandemia, as pessoas mudaram a visão sobre turismo. O que antes era visto como algo supérfluo e caro, agora abre espaço para a exploração de alternativas mais acessíveis.
Somada à busca pelos passeios em meio à natureza, está a procura por experiências exclusivas, em que os turistas desejam vivenciar novidades e atividades inovadoras.
"O turismo de natureza foi redescoberto e desponta entre as principais predominâncias. Temos aqueles que buscam contemplação e conexão com a natureza e também o público ligado a esportes radicais", diz.
Em Derrubadas, no Noroeste do Rio Grande do Sul, é possível ter uma visão deslumbrante da maior queda longitudinal do mundo. O Salto do Yucumã, nome que significa o "grande roncador" na língua indígena tupi-guarani, localiza-se na divisa entre Brasil e Argentina, mas é em terras brasileiras que as quedas de 1.800 metros de extensão, às margens do rio Uruguai, podem ser visualizadas.
O Salto do Yucumã está inserido no Parque Estadual do Turvo, um santuário da vida selvagem no Estado. O local serve de abrigo para cerca de 600 espécies diferentes de animais, segundo o levantamento mais recente realizado.
Entre elas, espécies ameaçadas de extinção, como a onça pintada, a anta e o puma. Em sua flora, o parque possui mais de 900 espécies diferentes de plantas, como árvores nativas de grande porte, dificilmente encontradas fora de locais de conservação. Para a monitora ambiental do Parque Estadual do Turvo, Janaina Aparecida Machado, a biodiversidade é o grande destaque do local.
"O parque serve de abrigo para espécies que estão extintas em outras áreas do Estado, é um local que precisa de proteção. Isso se soma à atração sênior, que é o Salto do Yucumã. A biodiversidade é algo ímpar aqui", destaca.
No período de pandemia, o espaço esteve fechado em dois momentos devido às restrições. Em 2020, foram 101 dias abertos, com resultado positivo, conforme avalia a secretária de turismo de Derrubadas, Angelita Bomm.
Segundo ela, o turista gaúcho passou a viajar mais internamente após o coronavírus, e lugares como o Parque do Turvo, por serem abertos, arejados e espaçosos, foram os mais procurados.
As visitações tiveram um salto entre 2014 e 2021. No ano passado, o parque recebeu 33.786 pessoas, quase 20 mil a mais que os 14.934 turistas em 2014. Dentro desse número, estão visitantes de 23 estados brasileiros e 36 países, como África do Sul, Alemanha, Chile e Japão. Ainda assim, de acordo com a secretaria de Turismo, o maior número de visitantes vem da região Sul, especialmente do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.
Inicialmente fundado como reserva florestal, em 1937, o Parque Estadual do Turvo é uma das primeiras unidades de conservação do Rio Grande do Sul. Em 1954, passou para a categoria de parque com o intuito de proteger a área de forma irrestrita, sem atividades de extração, ao mesmo tempo em que recebe turistas para o contato com educação ambiental.
O local funciona entre quinta e segunda-feira, a partir das 8h, com entrada até as 15h. No centro de visitantes, os turistas têm a oportunidade de ouvir explicações sobre a fauna e flora do local antes de explorarem todo o território.
Outra atração são as trilhas em meio à natureza, com duração entre trinta minutos e uma hora e meia, de intensidades fácil, média e difícil. Além da visita ao parque, em dias quentes é possível se refrescar nas mais de 50 cachoeiras existentes na cidade de Derrubadas.
O valor do ingresso inteiro é R$ 20 e, para quem tem direito a meia entrada, é R$ 10, bilhetes que podem ser adquiridos antecipadamente pela internet. No local não há restaurantes, apenas contêineres com venda de biscoitos e bebidas.
A infraestrutura conta com estacionamento, banheiros e mesas para piqueniques. É proibido entrar com animais de estimação e bebidas alcoólicas.
Todas as estações do ano proporcionam diferentes belezas ao Parque Estadual do Turvo, mas é preciso estar atento aos períodos de chuvas, já que podem interferir diretamente na visualização do Salto do Yucumã.
Os caminhos que levam até o Salto do Yucumã
Nos últimos dois anos foi realizado um mapeamento de todos os atrativos e potencialidades da região Noroeste
/ANA PAULA APRATO/ARQUIVO/JC
O Salto do Yucumã, em Derrubadas, é a principal atração dos 21 municípios do Noroeste do Estado que compõem a chamada Rota do Yucumã. Formado nos anos 2000, o trajeto era originalmente composto por 32 municípios, mas alguns dele,s como Ijuí e Panambi, deixaram de compor o itinerário em 2022.
Com boa parte das cidades banhadas pelo Rio Uruguai, os caminhos em torno do Yucumã proporcionam atividades para todos os gostos e interesses, fartos de biodiversidade e contato com a natureza. Além disso, as opções de passeios proporcionam contato com tradições culturais de diversas etnias.
Segundo a turismóloga da Rota do Yucumã, Fabíula Rosso, nos últimos dois anos foi realizado um mapeamento de todos os atrativos e potencialidades da região. Placas de localização turística foram adicionadas nas rodovias para chamar a atenção dos viajantes. Além disso, a rota conseguiu um recurso de mais de R$ 1 milhão para fazer toda a sinalização interna dos 21 municípios que a compõem.
"Quando falamos de turismo, não precisamos falar só de Serra gaúcha. O Rio Grande do Sul é riquíssimo, tem diversas regiões lindas para serem conhecidas. Um dos maiores potenciais é a riqueza de biodiversidade, o potencial natural que temos no Estado", afirma. Para ela, a concessão do Parque do Turvo será a mola propulsora para outros investimentos acontecerem.
Café Colonial Família Grolli faz parte do roteiro turístico
Os ingredientes do café são produzidos e colhidos na propriedade
/Iva Ana Grolli/Reprodução/JC
A cerca de 5 km do Parque Estadual do Turvo, em Derrubadas, está o tradicional Café Colonial Família Grolli. Com funcionamento no porão da casa da família, tudo o que é servido no café é produzido e colhido na propriedade. Os turistas podem experimentar a típica refeição de manhã, no final da tarde, e até mesmo na hora do almoço, através de reservas e agendamentos. Iva Ana Grolli, proprietária do estabelecimento - que já completa oito anos-, conta que os principais clientes chegam através de excursões, muitas vindas de Porto Alegre e região, inclusive.
Sugestão de rota permite explorar região Noroeste
Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo, na região das Missões, é considerado patrimônio mundial pela Unesco
/IVAN MATTOS/ESPECIAL/JC
Para quem sai de Porto Alegre e região com o intuito de explorar o Noroeste do Estado, a turismóloga Fabíula Rosso recomenda unir no roteiro da Rota do Yucumã a região das Missões e Ametista do Sul. Segundo ela, os três locais se complementam e oferecem experiências que misturam história, natureza e esoterismo. Além disso, existem opções de passeios para todos os públicos e preferências, desde famílias com crianças até turistas mais aventureiros.
Na rota das Missões, está localizado o Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo, considerado patrimônio mundial pela Unesco, na cidade de São Miguel das Missões. O passeio, uma verdadeira viagem no tempo, oferece ao turista a oportunidade de aprender sobre o período das Missões Jesuíticas dos índios Guaranis, catequizados por padres jesuítas entre os séculos XVII e XVIII.
Após a visitação das ruínas e do museu, os visitantes podem assistir a apresentação de um espetáculo de Som e Luz, que conta a história das missões jesuíticas guaranis no local. O funcionamento do sítio arqueológico acontece entre terça-feira e domingo, com ingressos pelo valor de R$ 14,00 para visitação e R$ 25,00 para o Som e Luz, que acontece sempre à noite.
Há cerca de 30 km do centro de São Miguel das Missões, está a Aldeia Indígena Tekoa Koenju, nome que significa Alvorecer. O local, criado em 1990, pode ser visitado mediante agendamento por quem deseja vivenciar uma verdadeira imersão na cultura dos índios. A atração especial é a apresentação do Coral Guarani.
Seguindo viagem e deixando para trás a parte histórica da região, em Ametista do Sul, cidade conhecida como capital mundial da pedra ametista, é possível conhecer túneis, minas e escavações. Nos últimos anos, o turismo no município teve um salto de desenvolvimento, e hoje conta com vinícolas, cervejarias e restaurantes subterrâneos, além dos passeios tradicionais em meio às pedras.
O Ametista Parque Museu contempla mais de 2 mil exemplares nacionais e internacionais de pedras raras. Além do acervo, há passeio motorizado pela mina e tirolesa com vista para a cidade. No passaporte de R$ 30,00 por pessoa está incluso acesso ao parque e estacionamento.
Vinícola Weber é destaque
Visitação permite conhecer todo o processo de fabricação do vinho
/Rota do Yucumã/Reprodução/JC
Para aqueles que não abrem mão de degustar um bom vinho, mesmo longe da Serra gaúcha, no município de Crissiumal encontra-se a Vinícola Weber, construída em 1999. A visitação do local permite conhecer todo o processo de transformação da uva, em um passeio de cerca de uma hora de duração pela vinícola e pelos vinhedos.
Além disso, o jardim da vinícola também conta com pallets e almofadas, onde os visitantes podem descansar e fazer piquenique. No local, a companhia dos pets também é permitida.
Ainda em Crissiumal, os turistas podem conhecer o Balneário Três Ilhas, onde é possível desfrutar de belas paisagens banhadas pelo Rio Uruguai.
Balneário Cascata atrai público
Local é rodeado de natureza e conta com águas próprias para banho
/Rota do Yucumã/Reprodução/JC
As várias opções de cascatas e cachoeiras são o ponto forte da Rota do Yucumã. Na cidade de Humaitá, é possível visitar o Balneário Cascata, que conta com uma queda d'água de 15 metros. Localizada a 15 minutos do centro da cidade, o local é rodeado de natureza, e a água é própria para banho. Na estrutura, é possível encontrar um bar e lanchonete, mesas, bancos, churrasqueira e espaço para acampamento. Aqueles que desejarem podem levar seu próprio piquenique e bebidas não alcoólicas.
Santuário Nossa Senhora do Caravaggio tem entrada gratuita
Além do mirante com imagem da santa, há missas mensais na capela
/Rota do Yucumã/Reprodução/JC
Inaugurado em 2013, no interior da cidade de Esperança do Sul, o Santuário Nossa Senhora do Caravaggio oferece aos turistas uma vista da natureza e do rio Uruguai. Ali, além de um mirante com a imagem da santa, está uma capela na qual acontecem missas mensais. No local, os fiéis têm acesso a uma escadaria com mais de 400 metros e 250 degraus, que possibilita percorrer as 14 estações da Via Sacra. A entrada é gratuita todos os dias da semana, e a infraestrutura conta com uma área para lazer e refeições junto à mata nativa.