Você acha que não tem problema o presidente da república não ter implementado um plano nacional de prevenção à Covid-19? Ok. Você não vê nada demais em um presidente que troca quatro ministros da Saúde durante uma pandemia? Ok. Você não viu erro algum do presidente nas negociações e aquisições de vacinas para a população brasileira? Ok. Você não entende como um equívoco do presidente, no fim das contas um servidor público, fazer propaganda de remédio? Ok. Falando em ok, uma das explicações etimológicas do termo vêm do inglês 0 killed, que em português quer dizer zero morte. Em relação a pandemia, esse número é utopia. Ainda mais com uma gestão como a que estamos presenciando no Palácio do Planalto. Contudo, é possível que haja justificativas e argumentos plausíveis para defender os pontos citados acima. Não consigo imaginar nenhum. Mas é possível que haja, vá saber... Só não é ok assistir com indiferença esse palanque eleitoreiro que o presidente promove rotineiramente. Aglomeração pela aglomeração, como as chamadas “motociatas”. Isso é inadmissível, mesquinho, desumano. Uma postura gananciosa que coloca muitas vidas em risco. Sim, ainda há uma pandemia nas ruas! Estamos próximos das 500 mil mortes e longe de vacinar 70% da população com a segunda dose – índice considerado seguro para voltar à normalidade.
E se a morte que não comove mais, o que comove? Outro fator desumano do presidente é sua própria imagem nesses eventos – e, portanto, a mensagem que ele transmite. Vemos sempre a figura de alguém orgulhoso em não usar máscara. Logo quem deveria dar o exemplo.
O resultado é trágico. Um total desrespeito às normas e legislações sanitárias brasileiras e mundiais. Imagine se um cidadão ou empresário fizesse um evento com aglomeração e sem uso de máscara, exatamente como o presidente faz com frequência. Seria criminalizado por essa atitude, certamente.
O fato é que assistimos um líder que se mostra indiferente à realidade. A dor de milhares de pessoas que perderam parentes e amigos para a Covid-19 não diminui o afã do presidente em se perpetuar no poder. Os constantes palanques se justificam, porque representam uma pretensa demonstração de apoio para um pleito que se avizinha. Tudo é 2022. Uma campanha política escancarada. E vinda de um presidente que se elegeu com a bandeira de não ser político, de ser contrário a politicagem.
Jornalista