Rui Weschenfelder
Nos últimos anos, um fenômeno tem chamado a atenção da comunidade médica mundial: o aumento da incidência de câncer entre adultos jovens, ou seja, pessoas entre 25 e 49 anos. Dados recentes confirmam que esse crescimento tem sido consistente em diferentes países, com destaque para tumores de mama, cólon e reto, esôfago, rim, fígado e pâncreas.
Ao mesmo tempo, observamos que, na faixa etária entre 50 e 74 anos, as taxas de câncer seguem estáveis ou até mesmo em queda em alguns países — um reflexo direto das estratégias de rastreamento e diagnóstico precoce que vêm sendo adotadas nas últimas décadas. Isso mostra que investir em prevenção e detecção precoce funciona — e precisa começar mais cedo.
É importante reforçar que câncer não é uma doença única. Ele representa um conjunto de doenças com comportamentos, causas e tratamentos diferentes. No entanto, muitos dos fatores de risco que aumentam a chance de desenvolver câncer são comuns a vários tipos e, o mais importante: muitos deles são modificáveis.
Estudos indicam que mudanças no estilo de vida e nas exposições ambientais, especialmente a partir da década de 1950, podem estar por trás desse aumento entre os mais jovens. Isso compreende uma série de hábitos cada vez mais presentes na vida moderna.
A alimentação passou a incluir grandes quantidades de alimentos ultraprocessados, carnes embutidas, refrigerantes, produtos com excesso de gordura, açúcar e sal — e pouco espaço para frutas, verduras, legumes e fibras. O sedentarismo e a falta de atividade física regular se tornaram comuns. O excesso de peso e a obesidade, inclusive desde a infância, cresceram de forma alarmante. E o uso precoce de álcool e cigarro permanece como um fator de risco importante.
Além disso, a exposição à poluição ambiental — especialmente nas grandes cidades — pode ter impacto direto sobre a saúde, inclusive aumentando o risco de diferentes tipos de câncer.
Nesse cenário, o Dia Mundial de Combate ao Câncer, celebrado no mês de abril, nos convida a refletir: o que podemos fazer hoje para mudar esse futuro? A resposta é direta: muito. Pequenas escolhas no presente podem fazer uma grande diferença mais adiante.
Manter uma alimentação saudável, praticar atividade física, evitar o tabaco e o álcool, cuidar do peso e estar atento a exames de rastreamento, quando indicados, são medidas fundamentais. E o mais importante: essas mudanças devem começar o quanto antes. A prevenção é o caminho mais poderoso que temos. E começa com informação, consciência e atitude.
Oncologista do Hospital Moinhos de Vento