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Eleições 2018

- Publicada em 22 de Agosto de 2018 às 16:20

Leite e Bandeira protagonizam debate mais tenso da campanha eleitoral gaúcha

Discussão na Federasul teve troca de acusações entre os candidatos do Partido Novo e do PSDB

Discussão na Federasul teve troca de acusações entre os candidatos do Partido Novo e do PSDB


LUIZA PRADO/JC
Os candidatos ao governo do Estado do Partido Novo, Mateus Bandeira, e do PSDB, Eduardo Leite, protagonizaram ontem o embate mais tenso da campanha eleitoral. Durante o Tá na Mesa especial eleições 2018, organizado pela Federação das Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul), para ouvir as propostas dos políticos que disputam o Palácio Piratini, o tucano acusou Bandeira de "mentiroso" depois de ter sido sucessivamente criticado pelo candidato do Novo.
Os candidatos ao governo do Estado do Partido Novo, Mateus Bandeira, e do PSDB, Eduardo Leite, protagonizaram ontem o embate mais tenso da campanha eleitoral. Durante o Tá na Mesa especial eleições 2018, organizado pela Federação das Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul), para ouvir as propostas dos políticos que disputam o Palácio Piratini, o tucano acusou Bandeira de "mentiroso" depois de ter sido sucessivamente criticado pelo candidato do Novo.
Enquanto era servido o almoço, empresários, assessores e prefeitos assistiam à tensão entre Leite e Bandeira aumentar a cada pronunciamento no Palácio do Comércio. Alguns espectadores chegaram a interromper a refeição para prestar atenção nas críticas - às vezes diretas, às vezes indiretas - de Mateus Bandeira a Eduardo Leite. E, claro, às respostas do tucano. O atrito entre os dois roubou a cena de tal maneira que, a partir de um determinado momento, os convidados aplaudiam cada vez mais alto a fala de um ou outro.
Mas, se parte da plateia se impressionou com o embate, outra já sabia que o candidato do Partido Novo vem questionando a trajetória e as propostas de Leite desde o primeiro dia de campanha, quinta-feira passada, no debate na Rádio Gaúcha. Alguns espectadores mais atentos - que sabiam que os dois são pelotenses - até questionaram nas mesas: "Eles devem ter um desentendimento lá de Pelotas".
VÍDEOS JC: Confira o momento do embate entre Leite e Bandeira
Aliás, o candidato do Novo prestou consultoria à gestão do tucano quando este foi prefeito de Pelotas (2013-2016), além de participar, junto com Leite, da renegociação de uma dívida do município com o Banrisul. Esses temas vieram à tona quando a rusga chegou ao ápice.
Ao responder a mesma pergunta feita para todos os candidatos - como aumentar a receita do Estado sem aumentar impostos -, o tucano mencionou que era necessário controlar as despesas, aumentar as receitas, além de fazer reformas estruturantes. Na vez de Bandeira falar, este deu uma indireta.
"Tem uma distância quilométrica entre discurso e prática. Alguns candidatos dizem que ajustaram as contas das prefeituras que governaram. Mas aumentaram impostos (se referindo ao reajuste do IPTU em Pelotas, durante a gestão de Leite). Criou a taxa (da coleta) do lixo e deixou de pagar uma dívida com o Banrisul. Assim é fácil ajustar as contas", fustigou o candidato do Novo, sendo aplaudido por parte da plateia.
Em outra rodada de perguntas, quando os candidatos foram questionados sobre segurança, Leite - que vinha contra-atacando Bandeira mantendo um tom sereno - partiu para o ataque e chamou o candidato do Partido Novo de "mentiroso". A plateia chegou a exclamar um "óóó". E, para quem ficou na dúvida do que havia sido dito, Leite reforçou em alto e bom som: "repito, mentiroso, com todas as letras". Em seguida, relatou que, "quando Bandeira era o presidente do Banrisul, que tinha os créditos da companhia de energia elétrica, fez um acordo com a prefeitura de Pelotas que feria a Lei de Responsabilidade Fiscal, o que foi apontado pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional".
"Quando assumi a prefeitura de Pelotas, para não perder R$ 110 milhões de investimentos, tive que renegociar os débitos com o Banrisul. Ele (Bandeira) sabe que mente, porque, quando já era ex-presidente do banco, o chamei para a reunião com o presidente da época, para ajudar na renegociação. Ajustamos com o banco que ele nos acionaria judicialmente e, na Justiça, refizemos o acordo. Essa é a verdade. E agora ele vem mentir nesse debate!?", declarou Eduardo Leite, aplaudido por outra parte da plateia no evento da Federasul.
Bandeira parecia preparado para o confronto, pois, enquanto Leite respondia, pegou da sua mochila algumas folhas com informações que usaria na tréplica. Quando retomou a palavra, o candidato do Novo contou que, "quando o candidato Eduardo Leite foi eleito prefeito de Pelotas, me telefonou para pedir ajuda. Quando tomou posse, pediu a minha ajuda novamente, e contratou a minha consultoria para organizar o escritório de gestão de projetos da sua administração. Quando detectou que havia dificuldades para obter financiamentos no Ministério das Cidades, pediu a minha ajuda mais uma vez".
E aí, mostrando o papel que havia sacado da mochila, com uma notícia de jornal do dia 30 de julho de 2017, em que Eduardo Leite havia dito que contava com as ideias de Mateus Bandeira para montar o seu plano de governo, concluiu seu pronunciamento. "Talvez, esteja incomodado, porque, desta vez, não o ajudei com as minhas ideias."
Quanto à questão envolvendo o Banrisul, o ex-presidente do banco contou a sua versão, criticando a opção da gestão de Leite de interromper os pagamentos do débito e refazer o acordo na Justiça. "Tudo que eu disse aqui é verdade. Gostaria que tivesse uma agência fact checking aqui na Federasul para comprovar", arrematou.
Enquanto o clima pegava fogo, o candidato do PDT, Jairo Jorge, e o governador José Ivo Sartori (MDB), que disputa a reeleição, cochichavam alguma coisa e riam. Depois do debate, todos os políticos trocaram cumprimentos, menos Leite e Bandeira.

Embate começou no primeiro dia de campanha

No primeiro dia de campanha eleitoral, em debate na Rádio Gaúcha, por exemplo, os dois já haviam se engalfinhado. Na ocasião, Bandeira perguntou a Leite: "Pretende aumentar impostos como fez em Pelotas (se referindo à revisão da planta do IPTU, promovida pelo tucano, quando era prefeito)?" Antes mesmo do tucano começar a responder, quando agradeceu à pergunta, o clima já ficou tenso.
O candidato do Novo ironizou: "Ficou nervoso?". O que gerou uma reclamação do tucano: "Atenha-se a falar no seu tempo". Ao prosseguir, o ex-prefeito de Pelotas defendeu a superação da crise financeira do Estado através da adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF).
O candidato do Novo não ficou satisfeito com a resposta. "O candidato não respondeu a minha pergunta, mas sei que aumentou impostos em Pelotas, porque eu pago IPTU lá".
Quando a palavra voltou a Leite, foi direto: "Revisamos a planta do IPTU em Pelotas, para que quem possa pagar mais, pague mais. O candidato (do Novo) talvez esteja incomodado porque esteja construindo uma casa em uma área nobre, onde tem que pagar mais IPTU".

Candidatos apresentam propostas na Federasul

O painel com os concorrentes ao governo gaúcho não teve só o embate entre os candidatos do Novo, Mateus Bandeira, e do PSDB, Eduardo Leite. Os cinco participantes do evento também apresentaram propostas. Ainda integraram o painel Miguel Rossetto (PT), Jairo Jorge (PDT) e o governador José Ivo Sartori (MDB).
Sartori e Jairo propuseram a união das forças políticas no Estado. O emedebista defendeu o ingresso no Regime de Recuperação Fiscal (RRF). "A adesão ao RRF é para permitir que R$ 11,3 bilhões fiquem no Rio Grande do Sul (valor oriundo da suspensão, por até seis anos, do pagamento das parcelas mensais da dívida do Estado com a União). Durante o período de suspensão da dívida, queremos tornar o Estado menos burocrático e mais moderno", resumiu o governador.
Jairo Jorge criticou o acordo do RRF nos atuais termos. Disse que pretendia renegociar algumas cláusulas. Também apresentou duas propostas que implantou quando era prefeito de Canoas: a criação da Lei do Gatilho estadual (mecanismo pelo qual o ICMS baixaria toda vez que aumentasse a arrecadação do Estado) e a implementação de escritórios do empreendedor regionais (órgãos que buscam agilizar o licenciamento para empreendimentos no Estado).
Rossetto teve dificuldades de dialogar com o público de empresários, sobretudo, depois de defender a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O petista sustentou, entre outras coisas, que é necessário recuperar o polo naval e desenvolver o setor carboquímico.
Leite disse que o ajuste fiscal é necessário, mas que também é preciso a implementação de um projeto de desenvolvimento econômico. Bandeira defendeu privatizações e insistiu que o Novo é a única sigla que representa uma novidade na política.