Com mais de 60 espécies de alimentos cultivadas em harmonia com a natureza, a propriedade agroecológica Schiavon, localizada na Colônia São Manuel, 8º distrito de Pelotas, se tornou uma referência na aplicação dos sistemas agroflorestais (SAFs) na região Sul do estado. O modelo, que une cultivo agrícola e regeneração florestal, tem ganhado cada vez mais espaço como alternativa sustentável de produção rural e como resposta aos desafios impostos pelas mudanças climáticas.
Desde 2012, a família Schiavon adota os princípios da agrofloresta para cultivar frutas nativas e exóticas em uma área de mais de 9,8 hectares. Mais do que um método de cultivo, o sistema propicia benefícios ambientais, econômicos e sociais, garantindo mais biodiversidade e qualidade de vida no campo.
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“Os sistemas agroflorestais te dão a possibilidade de usar a cabeça, a imaginação. Tu imaginas o que quer fazeres com ele e tu consegues. A gente se sente parceiro da natureza. Tu ajudas ela e ela te ajuda”, resume Enio Schiavon, um dos responsáveis pela propriedade.
Além das frutas, como cítricos, goiaba e açaí, o local abriga também uma rica fauna que passou a conviver diretamente com os agricultores. Saracuras, jacus e tucanos são algumas das espécies que frequentam ou até moram nas áreas cultivadas, atraídas pelo ambiente equilibrado criado pelas florestas agrícolas.
Segundo pesquisadores da Embrapa Clima Temperado, como Ernestino de Souza Gomes Guarino, os sistemas agroflorestais são, na verdade, uma prática ancestral, inspirada nos saberes dos povos originários. “Talvez seja um nome novo para uma coisa antiga. A gente tem relatos de indígenas que já trabalhavam com essa cultura de cultivar várias espécies de diferentes ciclos ao mesmo tempo”, explica.
De acordo com Guarino, nos últimos 20 anos, o interesse por esse tipo de sistema aumentou significativamente, impulsionado pela busca de soluções mais sustentáveis para o uso do solo. O modelo possibilita colheitas em diferentes épocas do ano, o que barateia custos, conserva água e solo, melhora a fertilidade e mantém estoques de carbono, além de aumentar a biodiversidade e reduzir a incidência de pragas e doenças. “É bom para a planta, é bom para o ser humano, é bom para a sociedade como um todo. Só vejo ganho”, reforça o pesquisador.
Na prática, pontua Guarino, o sistema transforma o dia a dia dos trabalhadores rurais. “Enquanto muitos trabalham debaixo do sol, no calor, o agricultor agroflorestal está na sombra. E de forma muito mais agradável”, destaca o pesquisador da Embrapa.
A prática é versátil e pode incluir, além de espécies vegetais, o manejo sustentável de animais e a produção de madeira e fibras. Com planejamento adequado, é possível estabelecer consórcios produtivos diversos, que atendem tanto mercados locais quanto cadeias de valor sustentáveis.
A propriedade Schiavon é um exemplo de que é possível alinhar produtividade com cuidado ambiental. E mais do que uma referência em técnicas agrícolas, o espaço serve de inspiração para quem acredita que o futuro da agricultura está na reconexão com os ciclos da natureza.
Colaborou Lívia Araújo