O forte crescimento de casos de Covid-19 nos últimos dias, que levou 11 regiões gaúchas a receberem bandeira preta – de risco altíssimo de contágio – no mapa preliminar do distanciamento controlado do Estado, está causando pressão na capacidade de atendimento hospitalar de Porto Alegre. No começo da tarde deste domingo (21), seis Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) da Capital estavam lotadas.
Em Porto Alegre, até o começo da tarde deste domingo (21), os hospitais apresentavam 96,32% de ocupação, segundo dados do painel de monitoramento da prefeitura. Do total de 815 vagas, 760 estavam com pacientes.
A pior situação estava no Complexo Hospitalar Santa Casa, que apresentava 109,09% de lotação. Além disso, os hospitais Moinhos de Vento, São Lucas (Pucrs), Independência, e Restinga registravam 100% de ocupação.
Também o Hospital Fêmina estava lotado, mas a instituição, que é uma maternidade, não tem casos de Covid. Como outros hospitais restringem o fluxo, a demanda pode estar maior também no Fêmina.
Neste domingo, havia 338 pacientes internados com Covid-19 nas UTIs dos hospitais de Porto Alegre. Outras 57 pessoas apresentam casos suspeitos da doença em UTIs e mais 42 pacientes com Covid estão mantidos em emergências, aguardando para seguirem para UTI, segundo o painel.
O número de internados está próximo do recorde que foi registrado em 4 de setembro de 2020. Naquele dia, havia 347 internações devido à doença, o maior nível em 11 meses de pandemia.
A elevação do número de pacientes com Covid-19 pode estar ligada à possibilidade de uma nova variante do Covid-19 na cidade e à infecção entre jovens. Devido ao crescimento de internações, nos últimos dias, seis hospitais restringiram atendimentos, com suspensão de cirurgias não urgentes. Foi o que fez o Clínicas, Moinhos de Vento, São Lucas, Conceição, Divina Providência e Santa Casa.
O crescimento de casos já se reflete no trabalho dos profissionais de saúde. “Na sexta-feira fui trabalhar deprimido com essa situação. O número de casos está chegando a um caos assustador, e deve piorar com a falta de restrições à mobilidade”, alerta Eduardo Sprinz, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital Clínicas.
Prefeitura aumenta leitos, mas especialista quer restrição de mobilidade
Para remediar o crescimento de casos, a prefeitura de Porto Alegre tem incentivado o aumento do número de leitos nos hospitais do município. Apenas neste sábado (20), mais 80 leitos foram liberados para melhorar a capacidade de absorção de emergências. A prefeitura anunciou que, nos próximos dias, vai disponibilizar quase cem novos leitos.
Segundo o prefeito Sebastião Melo, o município tem feito a sua parte no combate à pandemia e no respeito aos protocolos. “Estamos abrindo leitos e seguiremos fiscalizando e orientando a população no combate às aglomerações clandestinas, que têm sido uma dificuldade série no Estado, especialmente no Litoral, o que impacta diretamente o sistema de saúde da Capital”, destacou Melo na sexta-feira.
Melo também afirmou que as atividades econômicas em Porto Alegre foram reabertas com muita responsabilidade. “E temos muita certeza e clareza que não foi a reabertura dos negócios a causa do aumento dos casos de Covid”, sustenta o prefeito.
No entanto, para o médico Eduardo Sprinz, chefe do Serviço de Infectologia do Clínicas, focar a política de combate à Covid-19 no aumento de leito ao invés de reduzir o risco de contágio com medidas de restrições é um erro. “Estamos falhando na prevenção, expondo a população a um risco desnecessário”, afirmou.
Segundo Sprinz, apesar de boa parte da população e das autoridades colocar a culpa do aumento de casos apenas nas aglomerações, como as causadas pelos feriados de Ano Novo e Carnaval e o veraneio nas praias, o problema é mais complexo. “Ninguém fala sobre a recepção de turistas, que podem ter trazido uma nova cepa do vírus para o Estado. Também não se fala sobre reduzir a circulação de pessoas no dia-a-dia. É mais fácil para o poder público abrir leitos, pressionando o sistema de saúde, do que restringir a mobilidade das pessoas”, afirma.