Enquanto o Rio Grande do Sul aguarda por novas medidas de distanciamento social a serem anunciadas nesta quinta-feira (30) pelo governador Eduardo Leite, a segunda fase da pesquisa de prevalência da Covid-19 estimou um infectado por coronavírus a cada 769 habitantes do Estado. Na primeira etapa, no começo do mês, era um para 2 mil gaúchos, segundo a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), que coordena o estudo considerado inédito no mundo.
A prevalência é de 0,13% na população. São 1,3 mil casos para 1 milhão de pessoas. O Estado tem mais de 11 milhões de habitantes. Pelos registros oficiais, apenas 108 a cada 1 milhão são notificados. Com isso, para cada caso conhecido há 12 não notificados. Na primeira fase, a estimativa era de cinco a sete casos. A margem de erro é de 5 a 26 casos, para mais e para menos.
"Mesmo que o resultado seja o mais conservador, de cinco casos, ainda assim a teoria do iceberg se aplica: para cada caso confirmado existem vários que estão na população que não sabem que têm a infecção", destaca o reitor da UFPel e epidemiologista que coordena a pesquisa, Pedro Hallal. O grupo responsável pelo estudo reúne um pool de instituições universitárias e de apoio no financiamento.
Os registros oficiais, com base em quem é testado, cuja prioridade ainda é quem chega a serviços de saúde com sintomas (do consultório ao hospital), indicam 1.375 infectados em 134 municípios até a manhã desta quarta, sendo que 825 deles já se recuperaram da doença e 50 acabaram morrendo. (confira o painel do JC para a Covid-19 no final do texto)
Os dados da pesquisa foram divulgados na manhã desta quarta-feira (29), em transmissão ao vivo pelo perfil do governo gaúcho no Facebook. Leite dirigiu a sessão, que teve a apresentação das informações pelo reitor da UFPel. Os dados farão parte do novo tipo de enfrentamento da pandemia, que está sendo chamado de distanciamento controlado e cujas regras a serem seguidas por regiões devem ser apresentadas nesta quinta. A implantação é projetada pelo governador "para os primeiros dias de maio".
O decreto em vigor vence nesta quinta, 30 de abril, e tem restrições mais pesadas na Região Metropolitana (RMPA). A expectativa é que, com base na pesquisa, casos e ocupação de UTIs de hospitais, possa ter recuo em medidas que flexibilizaram o comércio, por exemplo, em regiões como a de Passo Fundo.
A pesquisa busca estimar qual é a população gaúcha que já teve contato com o novo coronavírus. Outro dado que foi estimado pela primeira vez foi a letalidade. Segundo Hallal, o indicador é de 0,33%, que fica abaixo ao que se tem hoje baseado em notificações, que é de 3,7%, abaixo da média brasileira de 7%, que também reflete a base do número que é testado. O Rio Grande do Sul é o 13º em mortes no País, que superou 5 mil registros e também a estatística da China, onde o vírus começou a agir.
Na aplicação de testes rápidos que detectam anticorpos, concentrada no último fim de semana, em nove cidades distribuídas em todas as regiões representando 31% da população estadual, o grupo da UFPel encontrou seis positivos para Covid-19 - três em Porto Alegre e um em Canoas, Pelotas e Santa Maria. Nestes casos, foram testadas as pessoas que moravam com o infectado. Das 12 pessoas, nove tinham anticorpos. "Isso mostra a eficácia do teste e também a alta transmissibilidade do vírus", observa Hallal.
O reitor esclareceu que não encontrar resultado positivo em diversas localidades - chamou a atenção Passo Fundo, que enfrenta surto e está em segundo lugar em casos e mortes no Estado, sem nenhum positivo, faz parte do tipo de amostragem e baixa prevalência. Outro detalhe importante é que a amostra foi definida para toda a quatro fases de captação, portanto, não é possível alterar os locais apenas porque surgem mais casos na evolução da contaminação.
Um dado que foi destacado pelo grupo é o comportamento das pessoas em suas cidades, em relação a medidas de distanciamento social, um dos pilares da estratégia gaúcha para frear a transmissão. Hallal apontou que os números indicam que há uma redução no nível de isolamento.
Na primeira fase, realizada na Páscoa, 58,3% das pessoas declararam que só saíam de casa para atividades essenciais, e agora, 53,4% dos ouvidos indicaram a condita. Saltou de 20,6% para 28,3% o percentual da população que está saindo diariamente.
Hallal, que já
defendeu o distanciamento social como fator decisivo para reduzir a velocidade de contaminação no Estado, disse nesta quarta que os "cuidados nas prefeituras e no governo precisam ser redobrados". "Vai demorar muito tempo para voltar ao normal do que era antes do surgimento do coronavírus", preveniu o reitor.
Entre as recomendações do reitor, estão a maior testagem da população para conhecer o nível de contato com o vírus e a busca ativa, quando se tem identificada uma pessoa com a Covid-19 e outras pessoas das relações são testadas para verificar a contaminação.
Além do Rio Grande do Sul, a equipe passa a fazer também a mesma apuração e testagem em todo o Brasil, com mais de 33 mil pessoas - no RS, serão, 1,9 mil. O Ministério da Saúde vai custear a ação, definição ainda no período do então ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.
O foco é conseguir detectar a presença do vírus e a letalidade (estimada em relação à população que teve contato com o coronavírus e não apenas com base nos casos notificados, como é hoje). Outro dado importante é conhecer a velocidade de transmissão, para se ter um quadro mais real da evolução da doença no Brasil.