Enviado especial a Buenos Aires
A primeira atividade da comitiva do governo gaúcho em Buenos Aires, nesta quinta-feira (27), teve como palco a Embaixada do Brasil na Argentina. Ali foi realizado o seminário "Rio Grande del Sur: El futuro nos Une" quando, entre outros temas tratados, foi ressaltada a necessidade de uma qualificação da estrutura e das normas que envolvem a logística entre as duas regiões.
Por uma plateia formada por empresários e políticos dos dois países, foi apontada pelos participantes a demanda de melhorias nas pontes de Uruguaiana–Paso de Los Libres e São Borja–Santo Tomé.
Em resposta, o embaixador do Brasil na Argentina, Julio Glinternick Bitelli, afirmou que tem evoluído a questão da qualificação dessas ligações. Sobre a visita da missão gaúcha, Bitelli espera que a iniciativa sirva de modelo para a vinda de representantes de outros estados. Ele destaca que o fato de o Rio Grande do Sul fazer fronteira com a Argentina torna a relação política e empresarial mais próxima entre as duas partes.
Em resposta, o embaixador do Brasil na Argentina, Julio Glinternick Bitelli, afirmou que tem evoluído a questão da qualificação dessas ligações. Sobre a visita da missão gaúcha, Bitelli espera que a iniciativa sirva de modelo para a vinda de representantes de outros estados. Ele destaca que o fato de o Rio Grande do Sul fazer fronteira com a Argentina torna a relação política e empresarial mais próxima entre as duas partes.
A pouca distância entre o Estado e o país vizinho também faz com que o transporte de cargas seja intenso entre os dois parceiros comerciais. No entanto, uma nova regra na Argentina tem desagradado as empresas de logística.
O presidente da Associação Brasileira de Transportadores Internacionais (ABTI), Francisco Cardoso, informa que as companhias do setor foram surpreendidas, em abril, por uma norma do Banco Central argentino que determina que a cobrança de fretes só poderia ser realizada depois de 90 dias da entrega da carga.
Em maio, houve um novo impacto, porque foi estabelecido que, após transcorridos esses três meses, para o dinheiro ser transferido ao Brasil precisaria de uma licença (a Sirase – Sistema de Importaciones de la República Argentina y Pagos de Servicios al Exterior).
Segundo Cardoso, essas licenças levam mais 60 dias para serem analisadas. "E infelizmente, até agora, não tivemos nenhuma licença liberada. Desde abril, não conseguimos transferir nenhum frete cobrado na Argentina para o Brasil" lamenta o dirigente. Ele acrescenta que há um represamento de cerca de R$ 200 milhões em fretes para as transportadoras brasileiras. O representante da ABTI espera que as embaixadas dos dois países e o governador gaúcho, Eduardo Leite, possam levar essa preocupação do setor logístico ao governo argentino.
Leite ouviu a consideração de Cardoso logo após terminar sua palestra na Embaixada brasileira. Em sua apresentação, feita em espanhol, o governador destacou as agendas de reformas no Rio Grande do Sul com o objetivo de deixar o ambiente mais favorável para empreender.
Ele também salientou que as privatizações nas áreas de energia, gás natural e saneamento (Grupo CEEE, Sulgás e Corsan) permitirão a ampliação dos investimentos nesses segmentos. Leite calcula que nos próximos 30 anos aproximadamente R$ 30 bilhões serão investidos nesses setores, devido às desestatizações, sendo boa parte desse montante aplicada nos 10 anos iniciais.
O governador enfatizou ainda o processo de repasse para a iniciativa privada do Cais Mauá, em Porto Alegre, e disse que, quando explica a ação, menciona que a ideia é "fazer lá um Puerto Madero (tradicional ponto turístico de Buenos Aires, a partir da revitalização do antigo porto)".
Outra pauta defendida por Leite na Argentina é fazer uma troca de experiências e colaborações quanto ao enfrentamento do ciclo de secas. "Com as mudanças climáticas, essa situação pode nos afetar outras vezes no futuro", alerta. Ele acrescenta que é importante discutir que tecnologias e investimentos podem ser empregados para proteger a produção agrária de ambas as regiões. Na área energética, o governador reforça a relevância de que o gás proveniente da jazida argentina de Vaca Muerta entre no Brasil pelo Rio Grande do Sul.
Leite espera ainda uma presença maior de representantes argentinos na próxima Expointer, que inicia em 26 de agosto, assim como em outras feiras promovidas no Estado. A posição do governador faz sentido, a julgar pela relevância que a Argentina tem para a economia do Rio Grande do Sul.
Também integrante da comitiva gaúcha, o gerente de Relações Internacionais e de Comércio Exterior da Fiergs, Luciano D'Andrea, destaca que as importações do Estado provenientes daquele país são superiores às exportações, deixando o saldo da balança comercial negativa para o lado dos gaúchos. Ele informa que, no ano passado, a Argentina foi o terceiro maior destino das exportações do Rio Grande do Sul, totalizando US$ 1,26 bilhão, e quanto às importações o país vizinho foi o maior parceiro do Estado, somando US$ 2,72 bilhões. Entre os produtos comercializados pelas duas nações estão veículos e auto peças, plásticos, combustíveis e máquinas e equipamentos.
Entrada de gás por Uruguaiana simplificará negociação entre parceiros
A intenção da Argentina em avançar no escoamento do gás da jazida de Vaca Muerta é ressaltada pelo secretário-chefe da Casa Civil do Rio Grande do Sul, Artur Lemos. Ele acrescenta que é importante que o combustível ingresse no Brasil pela fronteira com Uruguaiana, porque se o insumo entrar pela Bolívia (outra possibilidade avaliada), para depois chegar ao Brasil pelo Mato Grosso do Sul, a negociação quanto ao fornecimento do combustível no mercado brasileiro dependeria de duas nações (Bolívia e Argentina).
Lemos reforça que o gás chegando a Uruguaiana aumentará em muito a possibilidade da construção de um gasoduto ligando a cidade da Fronteira Oeste gaúcha com a Região Metropolitana de Porto Alegre.
Já o embaixador argentino no Brasil, Daniel Scioli, comenta que a integração energética é uma questão estratégica para os dois países. Ele também salienta a mudança do perfil da nação vizinha nesse departamento. "Vamos sair de um déficit energético para um superávit", antecipa. Ele frisa que o custo desse combustível oriundo de Vaca Muerta deverá ser amplamente competitivo, o que favorecerá diretamente o setor industrial.