O western rodado no sertão nordestino que arrebatou o Prêmio do Júri em Cannes em 2019 foi o título da sessão de abertura do 47º Festival de Cinema de Gramado na noite de sexta-feira (16). Contando com a diva da sétima arte Sonia Braga, uma extensa equipe de Bacurau esteve presente no evento, passando pelo tapete vermelho da Rua Coberta e subindo ao palco do Palácio dos Festivais instantes antes da exibição. Um dos diretores, o pernambucano Kleber Mendonça, filmou a veterana atriz atendendo aos chamados do público, e legendou: “Gramado sabe armar um show”.
Aproveitando a visibilidade do festival de badalação, Kleber fez questão que todos os atores e técnicos da equipe do filme se apresentassem e arrematou: “Somos todos profissionais da cultura e exigimos respeito”. Em seguida, ainda no palco, sua esposa e também produtora do filme, Emilie Lesclaux reforçou o fato de o filme se tratar de uma coprodução internacional que não teve nenhum tipo de censura. O codiretor Juliano Dornelles deu eco à declaração da produtora.
Com o eterno vilão de Hollywwod, Udo Kier, e mais sete atores do exterior, a obra une ação, distopia e ficção científica. Porém, Kleber brincou que a produção fez uso de efeitos especiais baratos, em quatro palavras: “Daqui a alguns anos”. Bacurau é um povoado de um rincão do Agreste num futuro próximo, cujos habitantes descobrem que a vila saiu do mapa e eles começam a ser atacados violentamente.
Além de Sonia Braga, o elenco brasileiro tem destaque com Silvero Pereira, Barbara Colen, Wilson Rabello, Thomas Aquino, Karine Teles e Antonio Saboia. A diva faz Domingas, uma senhora médica em um posto de saúde, dentro de um filme-coral, com as micro-histórias de diferentes personagens. “Domingas completamente bem diferente de Clara (protagonista de Aquarius, 2016, longa ficcional anterior do diretor). Pela primeira vez, eu trabalhei no sertão nordestino. O importante é ser dirigida, entender a personagem, que brota daquela terra. Dediquei esta personagem a Marielle e quero saber quem a matou. E Marielle vive, sim!”, bradou a veterana atriz.
Na trama, os moradores do povoado se escondem em uma escola e um museu, com a memória do Cangaço. “A escola e o museu são fortalezas dentro da comunidade, mas não tínhamos colocado dessa maneira dentro do roteiro”, comenta Kleber, que também retrata no filme uma mania meio brasileira de não visitar museus.
O cineasta complementa: “Educação é a base de Bacurau. A casa de Carmelita (moradora antiga da vila, ex-quilombola, interpretada por Lia de Itamaracá, em uma participação cheia de brilho e simbolismo) é cheia de livros. Era uma cidade que não usava armas. Elas estavam guardadas em museu. Que, para mim, é a situação ideal das armas, somente como arquivo, para explicar o que era e para o que serviu”.