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Publicada em 10 de Abril de 2025 às 20:31

Caso em Rio Grande expõe fragilidade na infraestrutura do IGP-RS

Oito dos 15 maiores municípios do Estado não possuem peritos fixos

Oito dos 15 maiores municípios do Estado não possuem peritos fixos

/Judy Wroblewski/Ascom SSPS/JC
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Gabriel Margonar
Gabriel Margonar
A morte da professora universitária Aimée Teresa González Bolaños, atropelada enquanto caminhava na principal avenida da Praia do Cassino, em Rio Grande, escancarou uma falha estrutural na prestação do serviço de perícia criminal no Rio Grande do Sul. Como a cidade não possui peritos residentes, o corpo da vítima permaneceu por pelo menos três horas exposto na calçada até a chegada de uma equipe de Pelotas, a cerca de 60 quilômetros de distância.
A morte da professora universitária Aimée Teresa González Bolaños, atropelada enquanto caminhava na principal avenida da Praia do Cassino, em Rio Grande, escancarou uma falha estrutural na prestação do serviço de perícia criminal no Rio Grande do Sul. Como a cidade não possui peritos residentes, o corpo da vítima permaneceu por pelo menos três horas exposto na calçada até a chegada de uma equipe de Pelotas, a cerca de 60 quilômetros de distância.
O caso aconteceu no final de março, quando Aimée, de 81 anos, foi atingida por uma caminhonete enquanto ia à casa de uma amiga. O motorista, Lucas Pansera, de 34 anos, foi preso em flagrante. O teste do bafômetro indicou 0,51 mg/l de álcool no sangue, índice superior ao limite legal, e ele foi encaminhado à Penitenciária Estadual do Rio Grande.
Professora aposentada da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Aimée seguia ativa no Programa de Pós-graduação em Letras. Natural de Cienfuegos, em Cuba, vivia no Brasil desde 1997 e era reconhecida por sua produção acadêmica voltada à literatura feminina. Sua morte gerou comoção na comunidade.
A espera pela chegada da perícia, no entanto, gerou críticas da população e de servidores da segurança pública, que veem no episódio um retrato da fragilidade da estrutura do Instituto-Geral de Perícias gaúcho (IGP-RS) fora da Capital. Atualmente, Rio Grande depende da 3ª Coordenadoria Regional de Perícias, sediada em Pelotas.
Para a prefeita de Rio Grande, Darlene Pereira, a situação evidencia uma injustiça com as famílias e com a própria comunidade. “Temos grandes extensões de campos entre uma área urbana e outra. Quando acontece uma ocorrência grave, é preciso esperar por profissionais que vêm de longe e, muitas vezes, já estão em outro atendimento. Foi o que ocorreu nesse atropelamento trágico, que chocou a cidade inteira. O corpo ficou exposto por horas na avenida principal”, afirmou.
De acordo com nota do IGP-RS, o deslocamento da equipe é feito imediatamente após o acionamento da autoridade policial, "respeitando os protocolos técnicos e operacionais". Ainda assim, a demora se repete em diferentes municípios do Estado.
O Departamento de Perícias do Interior do Rio Grande do Sul é dividido em coordenadorias com sede em nove cidades-polo, responsáveis por atender dezenas de municípios vizinhos. Isso faz com que mesmo cidades entre as mais populosas do Estado fiquem sem peritos fixos. É o caso de Canoas, Gravataí, Viamão, São Leopoldo, Rio Grande, Alvorada, Cachoeirinha e Sapucaia do Sul — oito dos 15 maiores municípios gaúchos.
A ausência de equipes locais impacta tanto a celeridade das investigações quanto o atendimento às vítimas e familiares. Em casos de morte violenta, como o de Aimée, o perito precisa analisar a cena antes da liberação do corpo. Enquanto isso, a via permanece interditada e a vítima à vista de todos. O desgaste para quem presencia essas cenas, inclusive familiares, é evidente.
“Uma cidade com cerca de 200 mil habitantes, com porto, praia e vocação turística, precisa ao menos de um médico legista fixo”, cobrou Darlene.

 

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