Um ecossistema jovem, que cresce rápido, que está gerando empregos, intensivo em conhecimento, mas que ainda enfrenta desafios gerenciais e tem dificuldade para acessar linhas de crédito de instituições financeiras e capital de risco para crescer. Com a perspectiva de conhecer em profundidade a realidade das startups gaúchas, o estudo RS Tech 2023: As startups do ecossistema de inovação gaúcho foi apresentado nesta terça-feira no Instituto Caldeira, como parte da programação da Semana Caldeira, que acontece até amanhã no hub de inovação gaúcho Quarto Distrito.
A pesquisa é promovida pelo governo do Rio Grande do Sul – por meio da Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia (Sict) e da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG) – e o Instituto Caldeira.
A RS Tech 2023 revelou que 68% das startups atuam em um dos 10 segmentos, sendo os mais citados HealthTech, AgTech e Gestão de Negócios, e 78% foram fundadas nos últimos cinco anos. Das respondentes, 46% realizaram o primeiro faturamento antes de completar seis meses, mas 23% ainda não tiveram o primeiro faturamento.
"Ainda é um movimento dentro da bolha, e isso representa um espaço fantástico para crescimento”, resume o CEO do Caldeira, Pedro Valério. “O nosso ecossistema jovem, ainda há uma dependência grande dos parques tecnológicos e precisamos empurrá-lo, com toda nossa energia, para construir um ambiente de maior maturidade e capaz de expandir para novas regiões do Estado", acrescenta.
A titular da Sict, Simone Stülp, destacou o fato de as startups serem intensivas em conhecimento, já que a pesquisa revelou grande participação de mestres, doutores e pós graduados - 36% são mestres e doutores. “Mais de um terço das startups gaúchas foram fundadas por pessoas com mestrado ou doutorado. Acredito que este é um dos pontos de sucesso do nosso ecossistema. As ações que estamos fazendo estão contribuindo para que as startups sejam baseadas em conhecimento”, comemorou.
Outra boa notícia é a percepção sobre o ecossistema de inovação gaúcho: 54% consideram o nível de desenvolvimento do ecossistema como alto ou médio alto e 77%% como médio alto ou médio. E 83% dos fundadores afirmaram que buscaram conhecimento e interação com algum ator do Rio Grande do Sul para inovar.
As startups alcançam o Brasil, mas poderiam alcançar o mundo - 49% desenvolvem soluções inovadoras no Brasil e 29% no mundo. “O Brasil é imenso, mas é importante que as empresas também busquem oportunidades em outros países”, alerta Simone.
Por outro lado, 75% nunca procuraram acessar linhas de crédito de instituições financeiras públicas ou privadas, 9% tentaram acessar e não obtiveram sucesso. E 72% não conhecem ou não buscaram acessar políticas públicas. “Precisamos ser mais assertivos nestas políticas" admite a gestora.
A RS Tech, que conta com parceria estratégica do SebraeX, da Associação Gaúcha de Startups (AGS), da Rede Gaúcha de Ambientes de Inovação (Reginp) e do South Summit Brazil, foi realizada com mais de 300 startups que responderam um questionário.
Foram consideradas para a pesquisa startups que estivessem de acordo com o que foi definido pelo Marco Legal das Startups: até 10 anos de história, faturamento de até R$ 16 milhões e ao menos a metade da equipe trabalhando no Rio Grande do Sul. O estudo foi realizado de forma exclusivamente online e autodeclaratória, composto de 120 questões, e recolheu respostas por 100 dias, de 7 de dezembro de 2022 a 17 de março de 2023.
“Temos o compromisso com dados científicos para o estudo, o que garantiu a possibilidade inédita de retratar, de maneira científica, como são e quais são as dificuldades que as startups gaúchas enfrentam no nosso ecossistema de inovação. Buscamos dados confiáveis que apontassem para políticas públicas eficientes”, explicou a subsecretária de Planejamento da SPGG, Carolina Mór Scarparo. Segundo ela, este é apenas o primeiro relatório do estudo, que terá outras duas entregas em 2024.
A ideia de fazer um estudo mais robusto surgiu depois que um estudo feito pelo Instituto Caldeira em 2022, em parceria com a Distrito, referência em inovação no Brasil, foi citado por um representante do BID para referenciar o cenário do ecossistema gaúcho.
“Ali vimos como esse tipo de estudo pode ser relevante. Buscamos o Departamento de Economia e Estatística da SPGG porque precisávamos garantir a qualidade e a confiabilidade dos dados para pensar, futuramente, políticas públicas nesse contexto”, contou, destacando o viés qualitativo do estudo, que possui confiável segurança estatística.
Raio-X das startups gaúchas
- 68% atuam em um dos 10 segmentos de mercado mais citados (Health Tech, Ag Tech, Gestão de Negócios, Ed Tech, Retail Tech, Serviços, Bio Tech, Real Estate/Construtech, Green Tech, Food Tech);
- 78% foram fundadas nos últimos 5 anos;
- 50% estão na fase de pré-operação (ideação, validação e operação inicial) e 50% estão em operação (operação, tração, scale up);
- 64% apresentam crescimento de faturamento superior a 20% ao ano;
- 44% das startups têm equipe com seis ou mais funcionários;
- 54% das startups contam com mestres ou doutores na equipe;
- As startups inovam, com maior grau de novidade para o Brasil (49%), seguido para o RS (32%) e para o mundo (29%);
- 85% atuam no desenvolvimento de tecnologias estratégicas para o RS;
- 34% estão situadas em incubadoras (total ou parcialmente), mas apenas 14% se graduaram em incubadoras;
- 28% das startups têm ou já tiveram relação com aceleradoras;
- 71% não conhecem ou não buscaram acessar políticas pública de apoio a startups (dessas, 34% conhecem, mas não buscaram acessar e 37% não conhecem);
- 15% conhecem e já acessaram políticas públicas de apoio a startups e 14% tentaram acessar e não obtiveram sucesso;
- 74% nunca procuraram acessar linhas de crédito de instituições financeiras públicas ou privadas;
- 55% indicaram alguma dificuldade de contratação de profissionais no RS;
83% buscaram conhecimento com algum ator do ecossistema gaúcho de inovação, mas apenas 9% recorreram ao poder público municipal para inovar; - 75% vendem para além do RS;
- 15% já fizeram uma transação internacional
Fonte: RS Tech