Se muitos setores da economia observaram seus desempenhos caírem vertiginosamente por causa dos desdobramentos da pandemia do coronavírus, o mesmo não pode ser dito das companhias envolvidas com a venda do gás de cozinha. O presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (Sindigás), Sergio Bandeira de Mello, informa que, na segunda quinzena de março, a partir do dia 18, houve um crescimento de 23% na procura pelo botijão de gás liquefeito de petróleo (GLP) para o consumo residencial, em relação ao que era esperado inicialmente para esse período.
O dirigente detalha que se trata de uma compra antecipada, ou seja, muitas pessoas que resolveram aderir ao isolamento decidiram estocar produtos, entre os quais botijões de gás de cozinha. Devido a esse cenário, salienta o presidente do Sindigás, houve um aumento de demanda acima das expectativas. Depois dessa "corrida" atrás dos botijões, Mello prevê que haverá uma estabilização da procura. Mesmo assim, a estimativa é de que enquanto durar o isolamento da população as vendas verifiquem um incremento de 6% a 8% no segmento residencial e uma queda de cerca de 20% nos setores industrial e comercial (que envolvem embalagens maiores do que 13 quilos). Se forem levadas em consideração as vendas totais, já que o segmento residencial significa a maior parte do gás comercializado, o presidente do Sindigás estima um saldo positivo de 5% no crescimento.
Mello destaca que, no começo, a preocupação com a propagação do coronavírus era que houvesse uma dificuldade de operação com as plantas de engarrafamento do GLP ou quanto ao transporte dos produtos nos volumes necessários (são cerca de 34 milhões de botijões cheios comercializados mensalmente). Por causa desse cenário, o dirigente comenta que as empresas do setor abriram a possibilidade de prestarem auxílio entre elas, como, por exemplo, se uma planta interromper a produção, outra suprir essa lacuna.
Apesar do aumento da procura pelo gás de cozinha, o dirigente lembra que a Petrobras teve que reduzir a produção desse item. Isso se deve ao fato das refinarias da estatal terem diminuído o volume de petróleo processado, já que caiu o consumo de gasolina e diesel no País. Para compensar o corte na produção de GLP, a Petrobras está importando gás de cozinha. Mesmo com esse panorama, Mello diz que não houve maiores problemas quanto ao abastecimento da população, mas pode ter ocorrido em alguns mercados, principalmente o paulistano, uma sensação de escassez, pois os postos revendedores esvaziaram seus estoques. Ou seja, pode ter acontecido em algumas ocasiões uma demora maior para atender os clientes.
O presidente do Sindicato das Empresas Distribuidoras, Comercializadoras e Revendedoras de Gases em Geral no Estado do Rio Grande do Sul (Singasul), Ronaldo Tonet, afirma que, no mercado gaúcho, com as vendas aquecidas e uma menor produção, há um pouco de dificuldade, no momento, para atender aos pedidos de gás de cozinha. No entanto, ele frisa que não se configura em um problema de desabastecimento. "Não há falta de gás no mercado, pode um revendedor, eventualmente, sofrer com uma escassez pontual, mas não é algo que prejudique o abastecimento da população", enfatiza.
Tonet estima que o incremento das vendas de GLP no segmento residencial no Rio Grande do Sul esteja acompanhando o desempenho nacional, com uma elevação na ordem de 25%. O dirigente lembra que o setor, considerado como essencial para a população, não foi afetado por nenhum decreto restritivo por parte do governo.
Apesar da queda do preço do barril do petróleo no cenário internacional e da Petrobras ter baixado o custo de produção do GLP, o valor do gás de cozinha cobrado do consumidor final tem se mantido estável no Brasil nas últimas semanas. De acordo com levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço médio do botijão de 13 quilos do produto comercializado no País na semana compreendida entre 29 de março e 4 de abril era de R$ 69,91, contra R$ 69,98 entre 8 e 14 de março.
Conforme a Petrobras, com a redução de 10% a partir de 31 de março, o preço médio por botijão de 13 quilos de GLP nas refinarias da estatal está equivalente a
R$ 21,85. No acumulado do ano, a redução é de 21%. Uma explicação para que o preço final não tenha baixado com a diminuição do custo na refinaria é justamente o fato de os revendedores estarem com menos produtos para ofertar, com estoques enxutos, o que ocasiona menos competição no setor. O presidente do Singasul, Ronaldo Tonet, considera que, se não fosse a situação excepcional de vendas aquecidas, o preço do botijão para o consumidor final teria diminuído. Segundo o trabalho da ANP, entre 29 de março e 4 de abril, o menor preço médio do botijão nas cidades gaúchas pesquisadas foi encontrado em Alvorada, com R$ 63,57; e o maior, em Santa Rosa, com
R$ 78,14. Já Porto Alegre verificou um preço médio de R$ 68,64.
Quanto a cuidados que os entregadores precisam tomar no momento de levar os botijões até os consumidores, Tonet recorda que a orientação das autoridades de saúde é que o profissional esteja munido de máscara e luvas, além de fazer a higienização dos uniformes e calçados. Ainda quanto ao mercado de GLP, na tarde desta segunda-feira, a ANP divulgou uma nota informando que a agência tem recebido solicitações para flexibilizar as regras vigentes, com o objetivo de permitir que as empresas distribuidoras encham de GLP botijões de outras marcas, além da sua. O órgão regulador concluiu que este tipo de flexibilização não contribui para solucionar problemas de falta de gás de cozinha.
Diante de informações do segmento de revenda de GLP de que o processo de destroca de vasilhames estaria prejudicando o abastecimento, agentes de fiscalização da ANP vêm monitorando as 27 bases de distribuição e os cinco centros de destroca de botijões de GLP de todo o Brasil. Até o momento, segundo a agência, foram identificadas somente restrições momentâneas no suprimento de gás de cozinha. O órgão regulador entende que a flexibilização das regras atuais sobre enchimento de botijões exige a realização de consulta e de audiência pública, uma vez que elas afetam direitos econômicos.