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Cultura

- Publicada em 09 de Junho de 2021 às 19:02

Com 'Acqua movie', Lírio Ferreira traz um banho no sertão nordestino

A história do longa narra a reconstrução da relação afetiva entre mãe e filho durante viagem

A história do longa narra a reconstrução da relação afetiva entre mãe e filho durante viagem


FRED JORDÃO/ACQUA MOVIE/DIVULGAÇÃO/JC
Lara Moeller Nunes
Explorando a água como elemento poderoso na narrativa, o filme Acqua movie estreia nos cinemas nesta quinta-feira. O sexto longa-metragem do diretor pernambucano Lírio Ferreira mostra a forte presença do coronelismo no sertão nordestino e apresenta como a paisagem regional foi alterada pela transposição do Rio São Francisco. A história é centrada na relação maternal de Duda (Alessandra Negrini) com Cícero (Antonio Haddad).
Explorando a água como elemento poderoso na narrativa, o filme Acqua movie estreia nos cinemas nesta quinta-feira. O sexto longa-metragem do diretor pernambucano Lírio Ferreira mostra a forte presença do coronelismo no sertão nordestino e apresenta como a paisagem regional foi alterada pela transposição do Rio São Francisco. A história é centrada na relação maternal de Duda (Alessandra Negrini) com Cícero (Antonio Haddad).
Na obra, o adolescente encontra seu pai, Jonas (Guilherme Weber), morto no banheiro, vítima de um infarto fulminante. A mãe, que estava na Amazônia gravando um documentário sobre a demarcação de terras indígenas, volta para casa e embarca com o filho em uma viagem para a terra natal do progenitor. Com o intuito de resgatar o afeto mútuo, eles vão de São Paulo até o interior de Pernambuco para deixar as cinzas do falecido na cidade em que ele havia crescido.
O longa funciona como espécie de extensão de Árido movie, lançado em 2006 pelo mesmo diretor. A terra, que antes era elemento central na história, agora dá lugar à água como grande protagonista da narrativa. Ferreira, que também é roteirista, diz ter muitas memórias afetivas com o sertão pernambucano. "Sou fascinado com a geografia, com as pessoas e com a cultura sertaneja. Me identifico muito, e sinto que parte de mim sempre está lá espiritualmente", diz, em entrevista ao Jornal do Comércio.
A ideia da história surgiu durante uma viagem à região quase dez anos depois das filmagens do primeiro filme. Na ocasião, ele viu pela primeira vez a obra de transposição do Rio São Francisco, que lhe causou grande impacto. "Me vieram alguns pontos que tinham se perdido durante o caminho. Tive, então, um estalo para fazer um spin-off a partir da questão da gravidez", conta. A ideia não era preservar o mesmo elenco, mas sim quebrar um pouco a continuidade e investir em uma "pegada" mais espiritual.
Ferreira diz que quando pensou em explorar e desenvolver a temática da maternidade, a água veio como complemento para construir a narrativa, principalmente dentro da mente de Cícero. "A água transita tanto pelos sentimentos de morte, como de afeto. É quase um personagem no filme. Ela dá possibilidade de fuga, mas também abraça", explica.
É exatamente em um banho de rio que o adolescente parece conseguir se conectar às raízes do falecido pai. Agora, ele busca recuperar os laços afetivos com sua mãe. Segundo o diretor, a resolução dos conflitos e a reconstrução da relação entre eles se dá de forma natural, assim como deve ser a formação de um curso de água: "É isso que norteia o filme".
Fascinado pelo estilo road movie, ele acredita que o gênero seja o mais cinematográfico de todos. Vê a estrada como uma simbologia que representa a própria obra e o carro como condutor da história que está sendo narrada. "Você tem o futuro na sua frente e o passado no retrovisor, o tempo todo em movimento", reflete.
A questão dos povos indígenas e da disputa territorial também marca presença no longa. Em um ambiente dominado pelo coronelismo, os índios lutam pela manutenção de seus costumes e tradições. Para o cineasta, isso é algo ancestral. O Brasil foi construído em cima de bases muito perversas, com o extermínio de nações que já habitavam o território nacional há muito tempo. "Isso faz parte do inconsciente da construção da sociedade brasileira. Nunca deixou de existir", comenta.
O diretor, que lamenta a situação, diz colocar o seu cinema à disposição como forma de denunciar esses conflitos. "No momento em que vivemos, isso funciona como mecanismo para refletirmos a respeito do assunto."
Finalizado desde o segundo semestre de 2019, Acqua movie já participou de festivais de cinema em estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Apesar de a pandemia ter impedido a participação em outras mostras, o resultado, segundo Ferreira, foi igualmente positivo. Ele diz que, de todas as produções que já trabalhou, talvez esta tenha sido a que mais bateu no coração das pessoas. "O retorno está sendo muito afetuoso. O filme não é meu, é de todos que participaram dele de alguma forma. Criamos uma grande família", conta.
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