Centenas de pessoas acompanharam, nesta Sexta-Feira Santa, a 66º edição da Paixão de Cristo no Morro da Cruz, em Porto Alegre. Desde o começo da tarde, até o anoitecer, uma multidão assistiu a cerimônia religiosa, seguida da bênção da macela e da encenação dos últimos dias de Jesus e da Via Crucis, partindo do Santuário São José do Murialdo até o topo do morro, em uma caminhada de cerca de 1,5 mil metros.
Durante a celebração, fiéis acompanharam com atenção e não escondiam a devoção ao Jesus em sofrimento e à história que marca a tradição da Igreja Católica. Neste ano, o evento está alinhado com a temática Fraternidade e Ecologia Integral, conceito chave para a Campanha da Fraternidade.
Após a cerimônia religiosa, conduzida pelo padre Valmir Lorandi, a apresentação teatral teve início com uma alusão aos danos causados pelo homem ao ambiente e a reação da natureza, que se renova e regenera. A tradicional encenação mostrou a caminhada de Jesus – mais uma vez interpretado pelo vereador Aldacir Oliboni - entre os judeus, as tentações a que foi exposto, a Santa Ceia, a traição de Judas Escariotes, a prisão, o julgamento sob Pôncio Pilatos, a libertação de Barrabás e o calvário, até a crucificação, morte e ressurreição.

O vereador Aldacir Oliboni voltou a interpretar Jesus Cristo
DANI BARCELLOS/JC
O sol intenso deu ainda mais peso aos esforços do Cristo e aos açoites dos soldados romanos. E também exigiu persistência do público, formado por bebês, crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos, que percorreram todo o trajeto e pela rua Primeiro de Março e a íngreme subida da Santo Alfredo, no bairro São José.
Mas, nesse ambiente de contrição, chamaram atenção o consumo de pipoca, batatas chips e as conversas paralelas e risos. Tania Maria de Oliveira Martins, de 58 anos, que acompanha quase todos os anos o evento, destacou as boas lembranças da infância, na companhia da avó e outros familiares prestigiando a celebração e a encenação. E tentou justificar a descontração de alguns dos presentes.
“As pessoas começam mesmo a se concentrar e refletir quando começa a Via Crucis”, amenizou.

A cerimônia retratou todos os momentos vividos por Jesus durante a Via Crucis
DANI BARCELLOS/JC
Pelas vias por onde passou o percurso, muitos tinham razões pessoais para estar ali. Alguns, caminhando descalços, faziam o gesto por agradecimento a alguma graça recebida ou em penitência.
Andrieli Oliveira, 29 anos, carregava no colo a pequena Eloá Antonella, de seis meses. No ano passado, ela acompanhou a cerimônia e o calvário grávida e sob ameaça de sofrer um aborto.
“Tive outras complicações, precisei ser submetida a um procedimento de risco. Eu e ela passamos por um momento difícil. E também por isso estou aqui”, contou, com os olhos marejados e um sorriso leve no rosto.
Ao final do percurso, a encenação da crucificação e a morte de Jesus antecederam a ressurreição no alto do morro. Foi o ápice do evento, aplaudido com entusiasmo pelo público.

A procissão da Paixão de Cristo levou os fiéis ao Morro da Cruz em Porto Alegre
DANI BARCELLOS/JC