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Cultura

- Publicada em 28 de Agosto de 2018 às 01:00

Universo juvenil é destaque em filmes que podem ir ao Oscar e estreiam em Porto Alegre

Longa curitibano Ferrugem, de Aly Muritiba, saiu vencedor do Festival de Gramado

Longa curitibano Ferrugem, de Aly Muritiba, saiu vencedor do Festival de Gramado


FESTIVAL DE GRAMADO/DIVULGAÇÃO/JC
Caroline da Silva
Dois filmes que constam na lista das 22 produções habilitadas para concorrer à indicação para o Oscar pelo País, ambos exibidos no recente Festival de Gramado, estreiam nesta quinta-feira (30) nos cinemas da Capital. A temática sobre a geração adolescente com relações mediadas pela internet também aproxima os longas Yonlu, de Hique Montanari, e Ferrugem, de Aly Muritiba.
Dois filmes que constam na lista das 22 produções habilitadas para concorrer à indicação para o Oscar pelo País, ambos exibidos no recente Festival de Gramado, estreiam nesta quinta-feira (30) nos cinemas da Capital. A temática sobre a geração adolescente com relações mediadas pela internet também aproxima os longas Yonlu, de Hique Montanari, e Ferrugem, de Aly Muritiba.
Na produção paranaense Ferrugem, a protagonista Tati é uma adolescente cheia de energia e amigos, que gosta de compartilhar seus melhores momentos no Instagram e Facebook. Mas a sua vida virará ao avesso quando ela perde o celular e um vídeo cai no grupo de WhatsApp do colégio. O baiano radicado em Curitiba Aly Muritiba tem 39 anos, portanto nasceu no mundo analógico, mas seus filhos têm a idade retratada no longa: "As mesmas angústias da adolescência de antes se hiperbolizam no mundo digital de hoje".
Para os realizadores, a trama é mais sobre valores familiares do que sobre as redes sociais. "Nossos filhos não sabem lidar de forma alguma com frustrações. A nossa geração não ensina limite, não põe barreiras. Devemos educá-los, não ser amigos dos filhos - eles não precisam desse tipo de amigo, mas sim da idade deles", afirma o diretor. Ferrugem saiu do 46º Festival de Cinema de Gramado como grande vencedor, tendo levado os Kikitos de Melhor Longa Brasileiro, Melhor Roteiro (Jessica Candal e Aly Muritiba) e Melhor Desenho de Som Alexandre Rogoski.
A atriz Tifanny Dopke, em seu primeiro filme (antes, fazia somente teatro musical no colégio), diz que foi importante interpretar a Tati por tratar de um tema atual que precisa ser bastante debatido. O amigo "colorido" da protagonista, Renet, é vivido pelo ator Giovanni De Lorenzi, que destacou que o amparo em um roteiro preciso e uma aproximação do elenco para tratar de um assunto tóxico: "Tínhamos que atingir uma união para nos segurarmos em momentos difíceis. A culpa do Renet foi construída por entender o papel da Tati". Os pais do menino são interpretados por Enrique Díaz e Clarissa Kiste.
A equipe da produção lançou a campanha "E agora que você sabe?", com a mesma empresa que faz as camisetas "Lute como uma garota", para alertar sobre os riscos do compartilhamento de conteúdos íntimos - atitude muitas vezes justificada como se os autores não soubessem que aquilo é errado, semelhante a atos de assédio ou racismo.
Estrelado por Thalles Cabral, Yonlu também aborda uma tragédia decorrente das relações mediadas pela internet. Mais conhecido por seu papel na novela global Amor à Vida, de 2013, como Jonathan, filho do icônico Félix (Matheus Solano), o ator porto-alegrense de 24 anos faz sua primeira atuação como protagonista no cinema. Também músico que canta em língua inglesa (idioma usado por Yonlu para se comunicar), a sua atuação exigiu preparação para o papel que ele mesmo se ofereceu para fazer. "É uma história pesada, sim. O que mais me deixou encantando no roteiro era a forma como contava tudo isso, com respeito. Para ele, era como se a vida não bastasse. O que achei mais bonito é como entramos na mente dele. Por isso que o título é Yonlu, e não Vinicius, porque o filme é sobre o artista", analisa o ator.
Exibido na Mostra de Longas Gaúchos em Gramado, Yonlu traz para as telas a história de um garoto de grande inteligência e múltiplos talentos. O roteiro é baseado em fatos reais: Vinicius Gageiro Marques, de 16 anos, cometeu suicídio em 2006, com ajuda de internautas. Para o diretor e roteirista Hique Montanarai, o importante era tratar do tema com responsabilidade e sensibilidade. O filme participou da 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (Prêmio Abracine de Melhor Diretor Estreante). No 9º Festival Internacional da Fronteira (Bagé), recebeu o troféu de Melhor Filme na Mostra de Longas e o Prêmio da Imprensa. Integrou ainda a Seleção Oficial da Mostra Geração no 19º Festival do Rio e do Festival de Madri.
Músico e artista visual, Vinicius compunha, cantava e publicava seu trabalho pela rede, caminho que atualmente leva muitos garotos ao estrelato. Também era fluente em diversos idiomas, ilustrador e fotógrafo. A bela produção, com animações de James Zortéa em cima de desenhos originais de Yonlu, é uma obra que aposta no diferente. Além da narrativa ficcional não linear e estética pop-experimental que remete ao trabalho de criação do menino-prodígio, utiliza distintas técnicas (câmera na mão em planos-sequência, fotografia e suas texturas, animações em 2D, o uso de letras inéditas de suas músicas, poemas em voice over e linguagem de videoclipe remetem às colagens de Yonlu).
De fácil comunicação com os jovens, a obra tem ainda outros méritos. Além do próprio Thalles, que encarna o personagem-título, as atuações (bem menores) têm gabarito: Nelson Diniz (ótimo) faz o papel do terapeuta do garoto, Mirna Spritzer é a jornalista que o entrevista e Liane Venturella e Leonardo Machado fazem os pais do protagonista. A cidade de Porto Alegre também é um personagem no filme, pois ele a fotografou, ela era parte da obra do artista.
Em 2008, o CD com 23 registros das canções de Yonlu chegou à Luaka Bop, de David Byrne, que selecionou 14 faixas no álbum A Society in which no tear is shed is inconceavably mediocre (Uma sociedade na qual nenhuma lágrima é derramada é inconcebivelmente medíocre). 
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