Desde o início da pandemia, dona Iara Borba vive com uma renda mínima. Devido à chegada do novo coronavírus, ficou impossibilitada de continuar com o seu trabalho como faxineira, que garantia o sustento de sua família. Aos 54 anos, ela mora em Canoas com os seus quatro filhos e sua neta, que está grávida, apenas com a quantia adquirida através do auxílio emergencial. Com a última parcela recebida no início do mês, comemora. "Paguei minhas contas e fiz um rancho. Graças a Deus eu consegui pegar". Ela é uma das mulheres auxiliadas pela Ação Emergencial Mulheres e Crianças em Vulnerabilidade Social - Covid-19.
Criado pela jornalista e produtora cultural Liege Ferreira, o projeto tem como foco ajudar mulheres chefes de família que estão passando por extrema necessidade, embora também ajude aquelas que moram com o marido. A ação surgiu dentro de um grupo nacional de auxílio no Facebook, onde ela viu a oportunidade de contribuir através de doações, passando também a escrever sobre essas mulheres e sua realidade. Após as primeiras entregas de cestas básicas, no entanto, a jornalista percebeu que a necessidade das mulheres era ainda maior. "Não adiantava eu levar cestas básicas, porque elas não tinham nem como cozinhar", conta.
Dessa forma, a ação passou a buscar compreender a situação específica de cada família para ajudar de uma forma mais efetiva. Desde abril, então, além de cestas básicas, kits de higiene e limpeza, gás de cozinha, fraldas, roupas, medicamentos e brinquedos, a ação realiza a distribuição das cestas mágicas, que incluem outros alimentos que as mulheres pedem, como leite e mucilon para as crianças. Atualmente, são contempladas 34 famílias presentes em Alvorada, Canoas, Viamão, Novo Hamburgo e dos bairros Rubem Berta, Passo das Pedras, Cruzeiro e Lami, em Porto Alegre.
Assim como dona Iara, Nitchele Alves também é uma das mulheres beneficiadas com a ação. Moradora de Novo Hamburgo, a jovem de 24 anos vive com os seus dois filhos e o marido. Junto dele, costumava fazer trufas e bolos de pote para vender antes da pandemia começar. Após tentativas de manter o negócio, no entanto, acabou ficando endividada e, hoje, tem dificuldade para pagar as prestações da casa, as contas de água, luz, além de comprar gás de cozinha e comida. "Agradeço muito por ter encontrado a Liege, que está me ajudando a dar o que comer para os meus filhos".
Graças à aprovação do auxílio emergencial para o seu marido, a família conseguirá ter um pouco de fôlego para o pagamento das dívidas. Os R$ 600,00, porém, estão longe de serem o suficiente para a sua sobrevivência. Para conseguirem se manter, além do projeto, eles têm recebido a ajuda da mãe de Nitchele, que também é beneficiada pela iniciativa, e de pessoas de sua igreja, que os auxiliam no pagamento da prestação da casa.
Liege mantém um contato diário com as mulheres. Sobre a realidade percebida através de sua ação, a produtora cultural explica que a situação tem sido muito difícil para aquelas que ficam em casa com os filhos. Sem um trabalho, a situação já é complicada, mas, com um trabalho, elas também não têm com quem deixar os filhos, de forma que os custos da casa aumentam ao mesmo tempo que o dinheiro não entra. "Antes, as crianças comiam nas escolas e também passavam parte do seu dia lá. Agora, com a pandemia, não tem mais isso. Então é gás que vai muito mais. É alimento que vai muito mais". Por isso, a partir da doação de insumos, ela também tem ajudado duas famílias a fazerem produtos para vender.
Assim, uma vez por semana, a produtora cultural realiza a coleta e a distribuição dos produtos arrecadados para cerca de cinco famílias. Por isso, ela conta com a ajuda do seu marido e de amigos que lhe dão carona, já que não possui um carro. A jornalista combina com quem quiser doar um dia para ela ir buscar as doações em suas casas, de forma que os doadores não precisem se deslocar. Após a arrecadação, ela passa madrugadas a organizar os produtos de acordo com a necessidade de cada família antes de distribuí-los.
Durante as entregas, Liege busca ter um cuidado também quanto às questões de higiene, garantindo o uso de máscaras e álcool gel. Além disso, ela procura conversar com as famílias sobre a situação do novo coronavírus e explicar sobre as formas básicas de cuidado, como lavar as mãos e higienizar os produtos. "Tem muitos lugares em que essa informação nem chega direito".
Para colaborar com a ação, basta entrar em contato com a Liege pelo Whatsapp, através do número (51) 99423.2404, ou pela página do projeto no Facebook (@acaoemergencialmulheresecriancas). Dentre os materiais de maior necessidade estão cestas básicas, leite e fraldas.