Na próxima terça-feira, dia 1º de agosto, deverá ser aprovado no Conselho do Plano Diretor de Porto Alegre o estudo de viabilidade urbanística (EVU) para o projeto da Fazenda do Arado. Pela proposta da Arado Empreendimentos Imobiliários, proprietária do terreno, serão construídos no local condomínios residenciais, comércio e serviço. Com isso, a parte urbana da Capital será ampliada ainda mais ao Sul. Parte da área de 426 hectares, onde há uma reserva natural com mata nativa, será preservada.
O EVU trata do pedido para parcelamento do solo em todo o terreno, com a delimitação dos lotes e divisão da matrícula única em lotes menores, e também definição das áreas públicas, que serão convertidas em ruas e praças. O que será construído, bem como a liberação para isso, virá em outro momento. Também, após a análise atual, será encaminhado o pedido de licenciamento ambiental, que será conduzido pela Fepam, órgão ligado ao governo do Estado. O projeto tramita na prefeitura há mais de 10 anos - acesse aqui detalhes do projeto e a linha do tempo do empreendimento.
Apesar de ter recebido cinco votos contrários nos relatos de vista no Conselho, a tendência é que a maioria do colegiado siga o voto favorável do relator, o Sinduscon, e o EVU seja aprovado. Essa é a expectativa do proprietário Iboty Brochmann Ioschpe, que aguarda esta etapa para avançar o empreendimento com a parceria de uma empresa incorporadora, ainda não revelada. O empresário falou ao Jornal do Comércio sobre a expectativa com o projeto.
Jornal do Comércio - A sua empresa, quando adquiriu a área da Fazenda do Arado, já foi pensando em fazer a urbanização e criar um condomínio?
Iboty Brochmann Ioschpe - A nossa ideia nunca foi ser o empreendedor (empreiteiro), sempre imaginamos ser o "terreneiro" e buscar um empreendedor do segmento. E isso só pode se tornar mais real com a existência do EVU. Antes disso é muito difícil ter um interessado. Então agora estamos bastante evoluídos, com uma empresa urbanizadora nacional.
JC - Já pode revelar?
Iboty - Não. Temos um memorando de entendimentos que me impede de qualquer informação.
JC - Não é a Arado Empreendimentos Imobiliários que vai construir, isso?
Iboty - Nossa ideia é que seja alguém do segmento, que tenha experiência e que tenha aporte financeiro também. Porque é um empreendimento de vulto. Então tem que ser uma empresa de um porte bom.
JC - Pelo que o senhor disse, já tem uma grande empresa interessada. Sinal de que o empreendimento está seguindo o caminho que vocês buscam?
Iboty - Está. Como eu comentei, precisávamos do EVU para ter uma conversa mais séria. Então agora temos condição de ter essa conversa séria e temos uma empresa que estamos com um entendimento. Ainda não assinamos nada a não ser um memorando, mas imaginamos que provavelmente essa empresa tenha condição de desenvolver um bairro em Porto Alegre. Ela já desenvolve em outros lugares do Brasil, basicamente focada em alto padrão. Enfim, imaginamos que ela possa fazer esse trabalho.
JC - A Arado ficaria com a administração de alguma área deste empreendimento ou a ideia é passar tudo adiante?
Iboty - A nossa ideia é não participar do desenvolvimento, mas não temos ainda a formulação jurídica para ver se é um a permuta física ou financeira. Mas um objetivo é que a gestão do empreendimento seja dessa empresa.
JC - O que é mais questionado sobre o empreendimento é por avançar com construção em direção à área que hoje tem característica rural e é de preservação ambiental…
Iboty - O EVU que está sendo aprovado impossibilita a criação de unidades nessas áreas, então, é uma afirmação totalmente incorreta, porque o EVU que define isso e só viabiliza (construções) nas áreas que não são preservadas. Então é impossível imaginarmos vir a usar essas áreas de preservação.
JC - A parte mais baixa do terreno, onde tem banhado, não receberá as construções?
Iboty - Há um estudo, vai ter que ter aterro (para as construções) na área urbanizada. A área que não for urbanizada não vai ter movimento de terra. O estudo que contratamos foca a área urbanizada.
Contrapartidas
Para a aprovação do projeto urbanístico de parcelamento do solo (loteamento), a empresa se compromete a executar uma série de contrapartidas ao município. As destacadas pelo empreendedor são a revitalização da orla no bairro Belém Novo e a doação de uma parte do terreno da Fazenda para a implementação, pelo Dmae, de uma das obras da Estação de Tratamento de Água (ETA) Ponta do Arado. Para Iboty, outras também são importantes, mas “normalmente todos os empreendimentos têm”. O destaque da Arado, sustenta ele, são as obras de maior impacto para a cidade.
Sistema de Abastecimento de Água Ponta do Arado
A Estação de Tratamento de Água (ETA) Ponta do Arado integra o Sistema de Abastecimento de Água com o mesmo nome e atenderá, quando pronto, mais de 240 mil pessoas de 20 bairros do Extremo Sul e da Zona Leste, incluindo Restinga e Lomba do Pinheiro, que sofrem com o desabastecimento, especialmente no verão.
Em 2014, um decreto municipal declarou uma parte da Fazenda do Arado como de utilidade pública, já que a área foi considerada necessária para a construção da ETA. Um termo de compromisso foi assinado pelo proprietário se comprometendo com a doação antecipada da área ao Dmae. "Caso o empreendimento não tenha estudo de viabilidade aprovado, o Dmae indenizará o proprietário", diz o documento.
Orla de Belém Novo
Com a proposta de ser a continuidade da orla já revitalizada na região central de Porto Alegre, a recuperação e manutenção da orla em Belém Novo é destacada por Iboty como “fundamental para a região, não só para a comunidade, porque a gente viu como a orla mudou o espírito de Porto Alegre, e provavelmente lá também vai acontecer isso”.
Catamarã
A área que receberá o empreendimento fica 25 quilômetros distante do Centro de Porto Alegre, tendo o Mercado Público como um dos pontos de referência e a atual entrada da Fazenda do Arado como o outro ponto. Prevendo que potencial incremento na quantidade de veículos pode “saturar o tráfego atual na região, que já não é fácil”, Iboty conta que a intenção é instalar um catamarã privado do condomínio para atender aos futuros moradores. “Imaginamos dois aspectos: dar conforto com uma opção para o morador e, segundo, a menor utilização das vias públicas”. Ele complementa que, se no futuro, houver interesse e consumo, o meio de transporte poderá se tornar público.
Plano Diretor
O projeto urbanístico da Fazenda do Arado é citado no relatório da consultoria Ernst & Young sobre a revisão do Plano Diretor de Porto Alegre. O documento admite que a autorização para construir naquela área pode “suscitar uma aparente contradição entre a expansão urbana no extremo sul em contraposição ao propósito de adensamento do centro de Porto Alegre”. Ainda assim, sustenta que “tem um papel importante de promover uma transição ordenada da área urbana com a área rural”.
Visita
Casarão que pertenceu ao jornalista Breno Caldas será preservado
ANA TERRA FIRMINO/JC
A convite da Arado Empreendimentos Imobiliários, o Jornal do Comércio visitou a área da Fazenda na sexta-feira, dia 21 de julho. A equipe percorreu o terreno e passou por áreas que hoje são destinadas à criação de gado e rebanhos, banhado e um ponto da orla, onde existiu e voltará a ter uma marina. Visitamos ainda a casa que pertenceu a Breno Caldas, na parte mais alta dos 426 hectares da fazenda. O casarão está preservado e, embora não seja objeto de proteção legal, deverá ser mantido – assim como as demais construções do entorno, por exemplo o antigo haras. A visita foi guiada pela engenheira civil Fabiana Curvello, da Arado, e por Dinar Melo de Souza, conselheiro da Região de Planejamento 8 do Plano Diretor, na qual a Fazenda do Arado está inserida.