A inteligência artificial (IA) é cada vez mais usada na hora de investir. Segundo a consultoria TrendForce, de Taiwan, o mercado global de robôs consultores financeiros alimentados por IA cresce, em média, 75% ao ano. A estimativa é que, em 2020, serão US$ 5,9 trilhões investidos dessa forma. Nas gestoras digitais, os robôs de investimento traçam o perfil do investidor e avaliam o risco que ele está disposto a correr. Algumas usam a IA até para montar uma carteira de investimentos de acordo com os objetivos do cliente. Mas, mesmo deixando a escolha dos ativos para os robôs, especialistas ressaltam que o investidor precisa saber exatamente onde seu dinheiro está aplicado.
"Temos 15 robôs e 5 mil carteiras de investimentos montadas por eles. Na empresa, temos apenas 20 funcionários", conta Pedro Henrique de Melo, diretor da Vérios, gestora digital criada em 2011, voltada inicialmente apenas para milionários, mas que, em 2016, abriu para pequenos aplicadores.
As taxas nessas gestoras, inclusive de administração e corretagem, costumam ser inferiores às que os bancos cobram de pequenos aplicadores. Na Vérios, a aplicação inicial é de R$ 12 mil, com taxa de 0,95% ao ano, que inclui administração, corretagem e custódia. Para obter o perfil de risco do investidor - o chamado suitability, exigência da Comissão de Valores Imobiliários (CVM, que regula o mercado de capitais) -, um robô aplica um questionário, com perguntas sobre patrimônio e economia comportamental, por exemplo. A partir das respostas, o investidor é classificado em um dos cinco perfis.
A aplicação não é feita em fundos de investimento, mas em carteiras administradas montadas especialmente para cada pessoa, com ativos como Tesouro Direto, ETF de Ibovespa ou do índice S&P, da bolsa de Nova Iorque, com proteção em dólar. O que muda conforme as conclusões do robô sobre o perfil de risco é o percentual alocado em cada ativo. Segundo Melo, a carteira de perfil 5, com maior risco, ofereceu em 2018 rentabilidade de 180% do CDI (título interbancário usado como referência).
Na Vítreo, a IA observa ainda o comportamento do cliente - por exemplo, a frequência com que ele consulta seu saldo - para ampliar sua base de dados. Assim, em vez dos três perfis tradicionais (conservador, moderado e agressivo), a gestora obtém nove. "No mundo analógico, levaríamos 10 anos para construir a história desse cliente", diz George Wachsmann, um dos fundadores da Vítreo. Um investidor "conservador experiente", conta, pode ter parte dos recursos em ativos de maior risco, como bolsa.
Mas é um gestor humano que decide em que fundos os recursos serão investidos. Há um de Previdência, com taxa de 0,6% ao ano. O outro é um fundo de fundos, com ativos como dólar, ações (inclusive de empresas dos EUA) e ouro, com taxa de 0,9% ao ano, mais 10% de performance. O investimento mínimo é de R$ 1 mil. A rentabilidade está acima de 150% do CDI.
Para o consultor de investimentos Paulo Bittencourt, essas ferramentas minimizam o risco para o investidor. E evitam uma situação comum nos bancos, em que o gerente indica produtos com taxas de administração mais altas. "Os algoritmos matemáticos indicam produtos mais adequados ao objetivo do investidor, e não à empresa. E cada vez que surge um produto novo, mais sofisticado, o robô se adapta a essas novidades", diz o consultor.
Mas Bittencourt ressalta que é preciso saber exatamente em que se está investindo, para não colocar recursos em uma aplicação de três anos quando terá de usá-los em seis meses. "O uso de robôs não desobriga o investidor de saber em que ativos está sendo colocado seu dinheiro."