Eis a regra mais difícil para trabalhar numa empresa familiar: manda quem pode e obedece quem precisa - máxima adaptada por mim, aliás. Foram muitos anos para entender essa regra e conseguir respeitá-la. Comecei cedo. Com 14 anos, limpava o banheiro de um dos restaurantes da família. Aqui está a segunda regra: só sabe mandar quem sabe fazer. Passei por diversas áreas específicas da empresa, me sujando, me queimando, trabalhando aos sábados, domingos e feriados. Cada promoção precisou de argumentos baseados em dados que justificassem meu desempenho e resultados para a empresa. Terceira regra: meritocracia. Ter o mesmo sobrenome do dono da empresa pode gerar medo, mas não gera respeito, nem liderança. Ser reconhecido está ligado ao que se constrói ao longo do tempo, ao conhecimento compartilhado e à empatia com colaboradores e clientes.
Construir o próprio caminho, ouvir, estar disponível, ser proativo. Só assim é possível ser reconhecido, conquistar a liderança e não atuar apenas na sombra do sobrenome. Trabalhar em família exige ainda autogerenciamento, para separar o convívio em família dos assuntos da empresa, além da compreensão de que desacordos são relacionados à empresa e que brigas familiares pertencem ao âmbito pessoal, e as duas coisas, definitivamente, não podem se misturar. O aprendizado é árduo e contínuo. É preciso aprender a conviver com as diferenças. Muitas vezes, o perfil de gestão ou liderança é diferente entre pais e filhos, e isso não é ruim, desde que seja uma forma de trocar pontos de vista, e não uma briga por quem está certo ou errado.
As diferenças geram crescimento, como dizia Walter Lippmann: "Quando todos pensam o mesmo, ninguém está pensando". Trabalhar em família é como formar um time, e a única forma de essa parceria dar certo é tendo os mesmo valores e propósitos. Se houver divergências que não possam ser contornadas, fique com a família, até porque, ao seguir as regras citadas, é possível ser um bom profissional em qualquer lugar.
Gerente de Comunicação da Pizza Hut/RS