Enquanto a série espanhola Merlí, da Netflix, tem se destacado por atrair jovens e adultos por sua abordagem dos problemas do sistema educacional e das diferentes juventudes, percebemos um enfraquecimento da Filosofia enquanto componente curricular da Base Nacional do Ensino Médio. Para traçar esse paralelo, cabe perguntar, quem é Merlí?
Merlí é professor de Filosofia de escola pública que utiliza de sua capacidade mediadora e conhecimento teórico para encantar e inspirar um grupo de jovens. Ele incentiva os estudantes a avaliarem suas próprias ações e seus modos de pensar e agir na sociedade, os estimula a perguntar, mas também escuta e questiona. Merlí valoriza a pessoa independentemente de rótulos, opções e pré-conceitos. A conduta, por vezes irresponsável, de Merlí, que ultrapassa os limites docentes, fazendo papel de pai, mãe e amigo dos estudantes, contrasta com o educador exigente, firme e apaixonado por aquilo que ensina. Merlí mente, furta, engana e manipula pessoas para fazer valer a sua maneira de pensar. Merlí está longe de ser exemplo docente. Talvez não tivesse oportunidades em nosso sistema educacional. Porém, sua habilidade na mediação com os estudantes é bárbara. Sua capacidade de problematizar as situações do cotidiano pela Filosofia, inspira e faz refletir.
Olhando para o nosso horizonte, na medida em que a proposta da Base diminui e enfraquece a Filosofia, temos menos oportunidades de ensinar nossos estudantes a realizar as perguntas certas. Reflito a partir do cenário político-econômico que vivemos. Estará faltando Matemática em nossas escolas? As manobras políticas, repletas de raciocínio lógico, indicam que não. As teses de defesa jurídica bem construídas não mostram que há falta de conhecimento em Língua Portuguesa nas nossas escolas. Não estaria faltando a ética, a estética, os valores morais, a lógica e finalmente, a capacidade de fazer perguntas? Enfim, cabe filosofar: a quem interessa o enfraquecimento da filosofia em nossos currículos?
Gerente dos Colégios da Rede Marista