Passado o período de declaração do imposto de renda, onde mais de 29 milhões de brasileiros prestaram contas com o Leão, não podemos deixar esfriar a discussão sobre a maléfica defasagem da tabela do IRPF. É sempre bom lembrar que a tabela está "congelada" desde abril de 2015 e atinge absolutamente todos trabalhadores (empregados, autônomos e empresários), que arcam com o ônus dos quase 90% de defasagem. Essa sistemática de aumentar arrecadação sem elevar as alíquotas é muito confortável para o governo, já que não enfrenta a sociedade e nem o Legislativo (Câmara e Senado), visto que basta não reajustar ou reajustar abaixo da inflação para a arrecadação aumentar. Essa "malandragem" engorda os cofres públicos em mais de R$ 40 bilhões a cada ano. Não podemos deixar de registrar que essa quantia sai do bolso do cidadão, que tem seu salário diminuído devido ao aumento do desconto.
Mas os efeitos devastadores da defasagem não param por aí, no ano de 2016, foram 1,39 milhão de assalariados, ou cerca da população de Porto Alegre, que contribuíram com IR só pela tabela não estar ajustada. Para ilustrar a perda do poder de compra, em 1996 o salário isento de IR comprava 1.436 litros de gasolina e 11,8 cestas básicas em POA, porém com o limite de isenção atual, compramos apenas 446 litros de gasolina e 4,2 cestas básicas.
A defasagem deveria ser recuperada, criando--se um dispositivo legal e automático de aumento da tabela pela reposição da inflação e mais um ganho real, para que se recupere, lenta e gradativamente, ao patamar de 1996. No entanto, há sinais do governo de que isso não irá ocorrer. Um erro grave que lesa toda economia do País. Por fim, fica evidente que a solução não é repassar a conta da má gestão dos gastos públicos para os cidadãos. O governo precisa extirpar a corrupção e enxugar a máquina pública, pois a carga tributária é muito desproporcional ao serviço devolvido a população e não é justo que a conta caia, mais uma vez, no colo do trabalhador.
Empresário contábil