Ricardo Gruner
Na metade do século passado, a produção artística feminina ainda era vista como diletantismo, algo realizado por prazer, sem comprometimento. Nesse contexto, Alice Soares, Alice Brueggemann, Cristina Balbão e Leda Flores são vistas como pioneiras no Rio Grande do Sul, onde exerceram atividade profissional. Para celebrar a trajetória do quarteto, abre amanhã a exposição 4 mulheres, 1 centenário, na Pinacoteca Ruben Berta (Duque de Caxias, 973). A inauguração ocorre às 19h, e o período de visitação vai até 1 de setembro. O material pode ser conferido de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h, com entrada franca.
Com referência aos 100 anos de nascimento das artistas, a mostra tem curadoria de Blanca Brites e Paulo Gomes. Foram selecionados trabalhos pertencentes aos acervos de instituições públicas, como Margs e as pinacotecas Aldo Locatelli e Barão de Santo Ângelo, entre outras. Além de esculturas, desenhos, pinturas e gravuras, a atração conta com mesas documentais, compostas por registros de época e recortes sobre a história das homenageadas.
Conforme Blanca, a seleção não abrange toda a produção das contempladas na mostra, mas destaca exemplos desenvolvidos ao longo de períodos diferenciados. "No caso da Alice Brueggemann, temos um trabalho mais inicial, retratos, depois natureza morta, e então obras que vão identificá-la bem, as mais conhecidas dela. É possível ver um panorama, sim", sugere a curadora
O mote da exposição é a associação de acordo com a época em que despontaram - e não alguma eventual aproximação artística. "São mulheres centenárias que, na década de 1940, começaram a lecionar, trabalhar e fazer exposições de uma forma mais atuante, consistente", destaca Blanca.
Alice Brueggemann e Alice Soares, conhecidas como "as duas Alices", até dividiram um ateliê por quatro décadas. Da segunda delas, a mostra conta com desenhos, pelos quais ficou mais popular, e também pinturas e uma escultura pouco conhecida.
Já Leda Flores conquistou prestígio a partir de cerâmicas e esculturas - A flautista é considerada uma obra referencial no Estado. Essa área de produção, na qual a artista se firmou, tem destaque na montagem proposta por Blanca e Paulo Gomes.
Se o quarteto teve projeção em um período de poucas galerias de arte ou museus importantes dedicados à produção artística, uma das homenageadas agiu em duas frentes. Com trajetória representada em 4 mulheres, 1 centenário através de esculturas e uma pintura, Cristina Balbão buscou a valorização da arte de outras maneiras além da criação. "Ela se dedicou mais ao lado docente, como professora (da Ufrgs), e esteve muito próxima do Margs, trabalhou em sua organização", explica a curadora, salientando que o recorte celebra a carreira de artistas que atuaram profissionalmente.
Ao longo do período de exposição, a programação ainda prevê eventos paralelos, como projeção de filme, ações educativas, cursos e palestras. A mostra tem promoção conjunta da Coordenação de Artes Plásticas da Prefeitura de Porto Alegre, pinacotecas Ruben Berta e Aldo Locatelli, Pinacoteca Fundacred, Pinacoteca Barão de Santo Ângelo, do Instituto de Artes da Ufrgs, e Margs.