Caroline da Silva
Diferentes formas, cores e propostas - em pintura, fotografia, escultura e instalação - ocupam o andar térreo do Santander Cultural (Sete de Setembro, 1.028) a partir de hoje, na mostra Zerbini, Barrão, Albano. A visitação vai até 16 de julho, de terça-feira a domingo, das 10h às 19h, com entrada franca. A exposição segue a temática da instituição em 2017: estímulo ao ofício curatorial. Totalizando 45 obras, três artistas distintos estão reunidos em um mesmo espaço expositivo: Albano Afonso, Barrão e Luiz Zerbini - com curadoria de Douglas de Freitas, Felipe Scovino e Marcelo Campos, respectivamente.
A ideia inovadora e arriscada partiu de Carlos Trevi, coordenador do Santander Cultural. Uma vez ao ano, o centro promove uma mostra de artista contemporâneo brasileiro. "Como os projetos foram se diversificando, agora quis reunir em uma única exposição ao menos três dos artistas mais respeitados do momento, em três suportes e com três curadores diferentes. É um desafio inédito, e que deu muito certo." Trevi relata que, no princípio, a proposta causou estranheza: "Mostrar ao público como é que cada curador se comporta com o suporte, com o artista, e como isso pode conviver. Depois, eles acharam espetacular. O mais maravilhoso é que todas as obras têm relação entre si, mesmo um artista não sabendo o que o outro estava fazendo".
Zerbini logo admite que não via coerência no projeto. Com curadoria do professor do Instituto de Artes da UERJ Marcelo Campos, ele trouxe para Porto Alegre três trabalhos totalmente inéditos (Mesa de rio, Mesa de mar e Mesa grande) e pinturas de coleções emprestadas, além de algumas monotipias novas que dão sequência a um trabalho anterior. "Marca sua trajetória o interesse por elementos ornamentais - como azulejaria, pedaços de arquitetura, veios de madeira -, criando espécies de paisagens impossíveis", avalia Campos. O artista multimídia paulistano, de 58 anos, diz que ficou surpreso com o conjunto da exposição, como ela "ficou coerente" e que foi engraçado trabalhar com três curadores para três artistas diferentes.
O carioca Barrão, 58 anos, também não conseguia imaginar o resultado a que chegariam a partir do convite: "Achei que iam ser coisas isoladas, e acabou acontecendo uma conversa bacana entre os trabalhos". Com formação na Escola do Parque Lage e esculturas apostando na surpresa, humor e ironia, o artista teria a parte central do hall da edificação histórica como espaço para suas obras. Barrão explicou que, para o local, ampliou a escala das suas criações, produzindo três obras especialmente para a exposição: Árvore do viajante, Mesa e Coluna de pneus.
Antigamente (inclusive com uma peça em exposição na última Bienal do Mercosul, também no Santander Cultural), o carioca utilizava em suas esculturas desconstruções e reconstituições de pequenas estátuas de louça. Há dois anos, trabalhou com objetos de gesso e, agora, chegou às cópias de artefatos feitas em resina, brancas, sem adicionar tons. "Poderia usar os originais, mas, em algum momento, precisei partir para essa nova construção, para talvez descaracterizar mais esses objetos: eles perdem a função original e também suas características de material. Por estarem todos em uma cor, você passa a ter uma relação maior com a forma deles, com o volume... Foi uma maneira de me sentir à vontade para usar coisas de universos diferentes", conta.
Já Albano Afonso, 53, o mais jovem dos artistas, também com o "caçula" dos curadores, Douglas de Freitas, trouxe à Capital cinco instalações inéditas e acreditava que a arquitetura do Santander Cultural não representaria divisão entre as criações: "Sabia que a abertura do espaço proporcionaria uma ligação, um elo entre os artistas: ver uma obra através da outra". Elegendo ainda algumas fotografias antigas, Freitas narra que o artista visual paulista já tinha essas novas peças desenhadas e queria muito apresentar nesta seleção: "Acho ideal mostrar novidade".