Luiza Fritzen
Celebrando o Dia Mundial da Água, o Margs (Praça da Alfândega, s/nº) abre suas galerias para receber a exposição A inquietude do olhar, da artista plástica gaúcha Vera Reichert. Com curadoria de Ana Zavadil, a visitação pode ser feita até o dia 7 de maio, de terça-feira a domingo, das 10h às 19h. A entrada é franca.
A mostra é também uma oportunidade para a artista lançar o livro que deu origem à exposição. Em 256 páginas, a obra faz um registro da produção de Vera em seus 30 anos de carreira e aborda questões como o uso consciente da água e os reflexos da ação do homem no ambiente.
Através de imagens e depoimentos, a artista conta como sua busca por novas percepções resultou em novas formas de conhecimento sobre a arte bem como sobre o meio aquático e suas criaturas acompanhado por imagens carregadas de cores, diferentes densidades e texturas.
A escolha pela temática que engloba natureza e preservação pode dar a Vera Recihert um quê de bióloga, mas sua formação acadêmica é em Letras. A arte e as imagens revelam sua essência de ser humano inquieto, sempre disposto a um novo mergulho e a novas experiências.
A ideia de criar o livro surgiu com a inquietação de não ter feito nenhum trabalho relativo ao curso que concluiu. "Eu tinha essa necessidade de fazer algo com o conhecimento que adquiri na faculdade e, como tenho tanta coisa sobre água para falar e uma trajetória tão rica, decidi deixar um legado sobre isso para os meus netos para que eles tenham a história da vó toda contadinha", explica.
Quem vê as belas imagens que a artista capta e produz não imagina que a paixão pela água foi consequência de um trauma. Aos quatro anos de idade, seu filho, Marcelo, quase se afogou ao cair em uma lagoa, o que fez com que Vera o matriculasse em uma escola de natação e passasse a nadar com frequência. A atividade física e o contato com a água se tornaram inspiração para os desenhos que a artista criava com os filhos, o que a levou a frequentar um curso de desenho.
A partir daí o mergulho interno em busca de influências para sua arte resultou também na busca por novos destinos e experiências, como o mergulho em alto mar. A artista não parou em um formato e conforme sua técnica evoluía, avançava também seu interesse por novas ferramentas e formas de registrar sua paixão liquida. Logo, o que começou com o desenho e a pintura, passou pela fotografia, desdobrou-se em instalações, e hoje conta também com produção em vídeo e intervenções na paisagem.
Ao adaptar seu trabalho aos mais diversos formatos, a artista acompanhou as grandes mudanças da arte contemporânea. Vera ressalta que, como essência, seu intuito era o de registrar e mostrar aos outros o que buscou captar para si mesma. "Quis fugir da fotografia usual para registrar outras coisas, como manchas, olhos de animais, detalhes que me tocaram de alguma forma", conta.
Entre os locais visitados estão as Ilhas Maldivas, Galápagos, Barbados e Fernando de Noronha. Foi através desses mergulhos que o interesse pela preservação e conscientização da poluição dos oceanos teve origem. "Quando eu voltava aos lugares em que mergulhei, percebia o branqueamento dos corais, o acúmulo de lixo no oceano, o aquecimento da água e decidi levar o público a pensar e perceber como com pequenas atitudes podemos melhorar essa situação e fazer diferente", explica a artista.
A criação de esculturas também marca o processo de amadurecimento artístico e a busca por novas experiências proposta por Vera. Quando descobriu lixo plástico descartado de uma indústria, percebeu que seria possível criar a partir do que fora desprezado e criou esculturas de borracha. Para Vera, o processo foi uma realização pois foi capaz de transformar o inútil em útil, o lixo em um agente de vida, em arte.
Vera Reichert é natural de Não-Me-Toque, mas vive atualmente em Campo Bom, onde trabalha em seu ateliê. A artista já realizou 28 exposições individuais, inclusive no exterior, e possui trabalhos em coleções de arte brasileira, americana e canadense.