Luiza Fritzen
"Todas as vidas são dignas e merecem respeito." É partindo desta premissa que o artista plástico Mauri Menegotto criou as peças que estarão a partir de amanhã, às 19h, em exposição na Galeria Iberê Camargo do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Praça da Alfândega, s./nº). A exposição Gotto - Águas de Pedra pode ser conferida até o dia 12 de março, de terça-feira a domingo, das 10h às 19h, com entrada franca.
Nascido em Bento Gonçalves, o escultor gaúcho se inspirou na natureza através das cores e no universo dos peixes para criar as 30 esculturas em basalto que compõe a mostra. Pela primeira vez em Porto Alegre, Gotto, como ficou conhecido, não esconde a expectativa e felicidade de expor no Margs. "É um marco na minha carreira, um dos ápices na carreira para um artista daqui", conta. Quem faz a curadoria da mostra é a colecionadora de artes Beatriz Dreher Giovannini, que também assina a produção.
A relação de Gotto com o basalto começou na década de 1980, em sua cidade natal. Por 17 anos, como ajudante do escultor João Bez Batti, ele aprendeu a arte de esculpir na pedra e a manejar os instrumentos para lapidar a matéria-prima. Após um período trabalhando em outras áreas, Mauri Menegotto decidiu seguir seu caminho como artista e passou a imprimir em pedra e madeira suas próprias ideias.
Conforme explica o escultor, o processo de criação acontece em etapas e leva um tempo para que a inspiração se materialize em pedra. "Quando surge a ideia, tenho que desenhar, depois passo para o barro, o gesso. Depois, sim ela vai para o basalto." De forma artesanal, o emprego da rocha para a criação de objetos de arte remonta à pré-história, quando eram criados instrumentos para a agricultura e a caça.
O manuseio das ferramentas - martelo, ponteiro, discos e lixas diamantadas - somado ao peso do material e a infinidade de detalhes, torna a operação trabalhosa. Gotto conta que, dependendo da estrutura e tamanho da peça, a confecção leva, em média, de 10 a 15 dias, mas já chegou a seis meses em uma escultura que pesava seis toneladas. A execução é feita unicamente pelo artista, que conta com ajuda apenas em trabalhos muito extensos. As peças são confeccionadas no estúdio de Gotto, um atelier criado no porão de sua casa. Quando prontas, as obras ficam expostas na sala de estar, onde são comercializadas.
A escolha pela temática dos peixes se deve ao uso da variedade de cores encontradas nas pedras. "A maioria das pessoas conhece o basalto branco e preto e a cidade oferece uma maior diversidade de cores e combinações, então pensei em alguma forma de harmonizar com as pedras coloridas", explica. Além dos peixes, Gotto apresenta em seu catálogo cabeças, uma homenagem ao homem de diferentes culturas, e torsos, um simbolismo sobre a concepção da vida.
Segundo Gotto, seu objetivo é interpretar, através das esculturas, um determinado ser e oferecer ao mundo uma nova leitura da existência. "Quero mostrar não só a figura como também a essência do ser representado, sua dignidade, sua importância no mundo e na vida de todos", afirma.
Apesar da grande facilidade para encontrar basalto em Bento Gonçalves, região rica neste tipo de rocha ígnea, Gotto realizada sua própria busca pelas pedras. "Minha diversão é sair para caçar pedras, algumas eu encontro em obras, outras em escavações", avisa. O artista explica, ainda, que para manter a singularidade de cada escultura, ele nunca procura a matéria-prima no mesmo lugar. "Cada peça é única. Nunca uso o mesmo caminho para chegar ao resultado que eu quero", relata.
A empreitada, que se iniciou aos 13 anos, traz a Mauri Menegotto, hoje com 50 anos, os frutos do seu trabalho. Ao todo, são seis exposições individuais e a participação em exposições coletivas e simpósios de arte. Ainda este ano, Gotto tem outras duas exposições agendadas. Para os próximos anos, o artista de Bento Gonçalves almeja levar seu trabalho para fora do Estado. Interessados em realizar visitas mediadas para a exposição podem agendar o passeio com o Núcleo Educativo do museu, através do e-mail
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